Após pós-doutorado na Inglaterra, biólogo vira figurante e tenta bico de modelo nu para se sustentar no Brasil
Brasil do golpe de Temer e Moro volta a ser o país dos bacharéis em Direito
Advogados das delações premiadas são os novos ricos do Brasil da Lava Jato (vide link). Escreve André Luis Alves de Melo:
"Este termo 'República dos bacharéis' foi usado pela primeira vez no período da Primeira República (1889-1930), também conhecida como 'República Velha'. De fato bacharéis em Direito e Militares foram os articulares da queda do regime imperial no Brasil.
Contudo, nesta disputa de poder, embora o argumento externo fosse 'maior democracia', o que ocorreu foi mudança de classe no poder.
Os títulos que nobiliárquicos ou de realeza passaram ser baseados em um suposto conhecimento científico baseado no positivismo ou iluminismo.
Os títulos de nobreza foram substituídos por diplomas de Direito ou da Academia Militar, sendo que tivemos 17 Presidentes da República neste período.
Quase todos nossos Ex-Presidentes eram oriundos de uma sociedade secreta da Universidade de São Paulo (USP), exceto Epitácio Pessoa, mas era bacharel em Direito com cargos relevantes no meio jurídico.
Todos os demais Presidentes eram integrantes da chamada de Bürschenschaft Paulista, ou Studentenverbindung (algo como confraria da camaradagem, em alemão), mais conhecida como 'Bucha', criada, em 1831, pelo professor Julius Frank (1808 - 1841). Os membros da Bucha procuravam, quando alcançavam um alto cargo político, chamar seus colegas da Bucha para sua equipe. Carlos Lacerda descreveu assim a Bucha, in Depoimento, Jornal da Tarde, São Paulo, 28 de maio de 1977:
'Uma sociedade secreta em que os sujeitos confiavam nos companheiros, digamos da mesma origem, que passam pelas faculdades, futuras elites dirigentes.
Um dia, um sobe e chama o outro para ser governador, para ser secretário, para ser ministro e assim por diante.'
Durante décadas os nossos Presidentes da República eram militares ou bacharéis em Direito, mesmo na República Nova, o que apenas começou a ser quebrado com as eleições a partir de Collor. Leia mais
Os bacharéis em Direito da Lava Jato, os generais de Teme e o candidato a presidente Bolsonaro promovem um retorno aos tempos de chumbo, uma meia-volta volver conservadora, entreguista, da direitona, da corriola de Curitiba, das bancadas da bala, do boi, da Bíblia, da volta dos privilégios de uma elite parasita de funcionários públicos da repressão: fiscais, tabeliões, delegados, juízes, procuradores, conselheiros, oficiais, desembargadores.
Não existem vagas para cientistas e pensadores e artistas. Juliana Sayuri exemplifica um caso:
"Não tinha mais nenhum real na conta", lembra o biólogo paranaense Rodrigo Fernando Moro Rios, de 32 anos.
Graduado em ciências biológicas, mestre e doutor em zoologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), ele estudou na Universidade de Illinois, nos EUA, e fez pós-doutorado na Universidade Durham, na Inglaterra, em 2015.
Ainda é pesquisador associado do Departamento de Antropologia da instituição inglesa, mas, desde que retornou ao Brasil, em 2016, o zoólogo trabalhou como garçom, barman, figurante de filmes, entregador de Uber Eats e se ofereceu para ser modelo nu em cursos de arte.
Rios não está sozinho. Assim como o biólogo, muitos jovens doutores brasileiros enfrentam dificuldades de inserção no mercado e vivem num limbo profissional.
"Sou forçado a uma série de atividades, de barman a professor de surfe, para muitas vezes conseguir menos que o equivalente a um salário mínimo por mês", diz o cientista.
Atualmente, o salário mínimo no país é R$ 954. Leia mais
Em Maringá terra natal de Sérgio Moro