Ana Guadalupe
o aluguel & o sono
ao lado do respirar ruidoso asmático
do aluguel quase vencendo
o aluguel rouba os travesseiros
os edredons e os pesadelos
mas paga a casa onde fica a cama
concordamos que o sono é meio covarde
e o aluguel o cônjuge que oprime
o ano inteiro e todo dia quinze
sem querer e com muita vontade
doente e contemplando a saúde
doente de qualquer coisa e contemplando a saúde
percebo como eram bons todos os órgãos
silenciosos em pleno funcionamento
como serviam pra tudo as pernas
e braços mesmo quando doíam
e como eram dóceis os ossos
e como eram fáceis
a pior das conexões
até parece o horizonte
o papel de parede uma tela pintada
quando você vem surgindo
a gente vê no mesmo horizonte
o outro saltando e correndo num esporte
que envolve quedas e partes cortadas
na paisagem todas as perguntas interrompidas
eu querendo saber a sua cor preferida
você levantando e caindo como fruta
corro pra oferecer água da torneira
não sobra nada se um de nós
não volta