Americanos vão às urnas em clima de tensão e disputa acirrada entre Trump e Biden
Não é Venezuela.
Não é Cuba.
Essas eleições nos Estados Unidos já vão entrar para a história como uma das mais acirradas e tensas, com temor de violência durante e após a votação. Em Miami, assim como em muitas outras cidades do pais como Nova York, Washington, Los Angeles, comerciantes colocaram tapumes de madeira na frente das lojas para proteger as fachadas e vitrines.
Esse clima reflete a intensa disputa entre Donald Trump e Joe Biden que fizeram comícios até o último minuto para convencer eleitores a votar. O presidente republicano, que segundo sondagens estaria em desvantagem nessa corrida eleitoral, percorreu quatro estados no último dia de campanha, escreveu Elcio Ramalho para RFI - Ráfio França Internacional. Confira aqui.
Leia mais na RFI: Diversas manifestações estão previstas em frente à Casa Branca, em Washington, a partir desta terça-feira (3), dia das eleições presidenciais americanas. Diante da ameaça de violentos protestos, lojistas e escritórios da capital, de Nova York e de Los Angeles decidiram instalar tapumes para proteger as vitrines.
Em Nova York, o prédio da famosa rede Macy's foi totalmente protegido. "É melhor ser prudente", explicou a marca, em um comunicado divulgado pela rede de televisão CNN. As lojas abrirão normalmente nesta terça-feira.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, também anunciou que a cidade se preparava para inúmeras manifestações e "confrontos". Segundo ele, "nenhuma violência será tolerada."
De acordo com historiador Jean-Christian Vinel, pesquisador da universidade Paris-Diderot, que dirigiu a revista científica "Conservadorismo em movimento", existem vários riscos de conflitos. "Há temores de que partidários de Donald Trump venham intimidar os eleitores e até mesmo penetrem nos locais de votação, ainda que isso seja ilegal", diz.
Segundo ele, hoje, nos Estados Unidos, há "ansiedade e desconfiança em relação ao pleito", o que é um sinal de que a democracia no país "não vai bem". Ele cita como exemplo o episódio ocorrido há dois dias em que um ônibus de campanha do democrata Joe Biden foi bloqueado na estrada por eleitores de Trump - o caso ainda está sendo investigado.
Supremacistas brancos: o "motores" da violência
O especialista lembra que muitos americanos votam por correspondência e que vários desses boletins podem chegar para ser contabilizados até nove dias depois das eleições, o que contribuirá para reavivar as tensões.
O pesquisador francês lembra que o presidente perdeu a eleição de 2016 no voto popular, mas conquistou a vitória dos grandes eleitores em três estados: Wisconsin, Michigan e Pensilvânia. É nesses estados, diz Vinel, que o risco de tumultos é maior, ligado à contagem de votos.
Washington se prepara para confrontos
Em Washington, os cidadãos se preparam para eventuais tensões. "Tudo leva a crer que haverá confrontos na noite das eleições, independentemente do vencedor", disse o chefe de polícia Peter Newsham, citado pelo jornal The Washington Post.
"Outros conflitos são esperados durante a posse em janeiro", disse. O contingente de policiais nas ruas será reforçado na capital, nesta terça-feira, e a circulação de algumas estradas será interrompida.
Segundo o Washington Post, os lojistas não receberam nenhuma recomendação oficial. "Até agora, não houve nenhuma ameaça que justificassse essa proteção. Mas temos que ser vigilantes e entendemos a postura de alguns lojistas que fizeram essa escolha", disse o secretário encarregado do Desenvolvimento Econômico, John Falcicchio.
Há vários dias, as tensões crescem no país. Em um relatório publicado na quarta-feira, a ONG Crisis Group diz temer "violências inéditas" na história dos Estados Unidos. "As eleições presidenciais de 2020 representam riscos inéditos na história recente do país", ressalta a organização, que diz temer a reação do presidente americano, Donald Trump, em caso de derrota.
"As múltiplas facetas de seu discurso sugerem problemas potenciais em caso de eleições contestadas ou com resultados muito apertados", sublinha a ONG.