A verdadeira cremação de Olavo
por Eric Nepomuceno
Leio o anúncio do sepultamento do jornalista e astrólogo Olavo de Carvalho no cemitério St. Joseph na cidadezinha de Petersburg, estado de Virgínia, onde ele vivia refugiado há uns dezesseis anos.
Leio e sinto que há no anúncio um grande equívoco.
Aprendi com meu avô paterno, o velho patriarca José Augusto Nepomuceno, que não se deve celebrar morte de ninguém – exceto as de Adolf Hitler e Benito Mussolini.
Tropecei com ele lá por 1967 ou 68, quando me juntei à equipe do então revolucionário, no sentido de formato e conteúdo, “Jornal da Tarde”. Foram contatos ocasionais, rapidíssimos, e mal e mal lembro dele.
Tornei a tropeçar com essa figura quando ele desandou a publicar nos principais jornais e revistas deste pobre país, e foi demitido de um em um não só porque escrevia muito mal, mas porque era de um reacionarismo sem pé nem cabeça. E aí ele virou um fenômeno nas tenebrosas redes sociais.
Virou “o professor”, o “filósofo”, virou qualquer coisa que teve um espaço enorme dentro desta catástrofe que vivermos a cada segundo de cada minuto de cada dia das nossas vidas.
É bem verdade que essa influência veio perdendo espaço no governo, mas entre os seus seguidores, não. E esses seguidores continuam absolutamente leais a Jair Messias, apesar do distanciamento.
O que Olavo de Carvalho fez depois que descobriu e utilizou de maneira intensa as redes sociais foi espalhar mentiras, absurdos, pura escatologia, cinismo soberano. E trouxe para a superfície um poderoso contingente de extremistas não apenas da direita, mas da elevadíssima ignorância que estava abrigada em armários e nos últimos anos saiu não para a luz do dia, mas as trevas do absurdo.
Não, eu seguirei a lição de meu avô e não celebrarei a morte dessa figura abjeta e perigosa que deixa como herança um imenso bando de seguidores tão fanáticos quanto imbecis.
Apenas corrijo o anúncio de seu funeral: depois de enterrado, Olavo de Carvalho será de imediato cremado no fogo do inferno. Que o Diabo o tenha para sempre.