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O CORRESPONDENTE

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O CORRESPONDENTE

05
Jun18

A primeira sentença e o primeiro preso da Lava Jato o traficante internacional de drogas Rene Luiz Pereira

Talis Andrade

 

 

rene-luiz-pereira.jpg

 

 

O primeiro preso importante da Lava Jato: O traficante de drogas Rene Luiz Pereira, que levou à prisão o doleiro Carlos Habid Chater, que levou à prisão o doleiro Alberto Youssef.

 

Narra a jornalista Lilian Tahan: 

 

Fim de tarde do dia 21 de novembro de 2013. Um caminhão que passa pelo quilômetro 265 da Rodovia Washington Luís, na altura do município de Araraquara (SP), é abordado por policiais militares. Questionado sobre o carregamento, o motorista Ocari Moreira diz que transporta palmitos. Os PMs decidem conferir a história. Nervoso, Moreira muda sua versão e confessa levar uma carga com 698 quilos de cocaína, que saíra de Cuiabá e tinha São Paulo como destino. Acuado, ele ainda revela que um veículo batedor o acompanhava. Fingindo ser o condutor do caminhão, um dos policiais entra em contato com a escolta e consegue prender outros dois envolvidos, um deles o boliviano Ricardo Rodriguez.


Essa bem-sucedida apreensão de drogas se mostrou apenas a camada mais rasa de um mar de ilegalidades. Ela se tornou o ponto de partida para uma série de ações que desaguaram na identificação de um esquema internacional de narcotráfico. Mas não é só isso. A partir daquele flagrante, descobriu-se o personagem-chave que expôs uma máfia instalada no seio da comunidade libanesa de Brasília, (...) o doleiro libanês Carlos Habib Chater, de 45 anos, ainda não teve seu papel devidamente explicado no escândalo que abala a nação desde março do ano passado. Para entender melhor esse protagonismo é necessário voltar no tempo e retomar os acontecimentos daquele 21 de novembro de 2013.

 

Depois da apreensão de quase 700 quilos de cocaína, as investigações policiais alcançaram o traficante Rene Luiz Pereira. Rene morava em um condomínio em Águas Claras, no Distrito Federal. Ele era o dono da carga ilícita. A associação só foi possível porque Rene lamentou por telefone com um comparsa a interceptação da droga. Nessa trama, surge pela primeira vez o nome de Habib Chater. O homem que somava três décadas de operação no câmbio negro em endereços centrais do DF era o responsável por levantar parte do dinheiro que havia viabilizado o carregamento de entorpecentes.

 

Especializado em fazer dólar-cabo, negociação de câmbio que envolve transferências financeiras internacionais sem registro no Banco Central, o proprietário do Posto da Torre, no Setor Hoteleiro Sul, acionou sua rede de parceiros em favor de Rene. O traficante precisava enviar 124 000 dólares ao exterior para comprar a cocaína. É a partir desse networking que Habib Chater, um doleiro do varejo de Brasília, vira isca para a captura de um tubarão do mercado clandestino de moedas no país. Em conversas e mensagens telefônicas interceptadas com autorização judicial, agentes da Justiça descobriram que entre os contatos fortes de Habib Chater — quase todos tratados por codinomes burlescos, como 'Omeprazol', 'Matusalém', 'Black', 'Michelin', 'Salomão' e 'Chavo' — havia um 'Primo'.

'Primo', na verdade, era o apelido do doleiro Alberto Youssef

 

Rene Luiz Pereira continuou atuando no tráfico internacional de drogas. Conta o jornalista Daniel Haidar:

 

Pereira também era investigado na operação Monte Pollino, da Polícia Federal, que desarticulou um esquema de envio de drogas à Europa, armazenadas em contêineres que saíam do Porto de Santos. Os traficantes têm ligações com a máfia calabresa, segundo a PF. Ele recebeu um pagamento pelo envio dos entorpecentes no dia 23 de janeiro de 2014. Nesta data, agentes abordaram o acusado no Hotel Íbis Congonhas (SP), e encontraram 189.000 dólares (cerca de 419.000 reais) escondidos no cofre do quarto onde estava hospedado. Ele alegou que o dinheiro era resultado da venda de imóveis, mas não apresentou comprovantes.

 

O traficante conseguiu responder às acusações em liberdade, quando foi deflagrada a operação Pollino no dia 20 de março de 2014:

 

PF prende dez suspeitos de ligação com a máfia italiana
Operação Monte Pollino apreendeu 1,3 toneladas de cocaína em portos de vários países; a base de operação da quadrilha ficava em Santos (SP)

 

brasil-operacao-oversea-porto-de-santos-2014.jpg

brasil-trafico-mafia.jpg

 

Contêiner de açúcar carregava malas recheadas de cocaína 

 

 

A investigação foi feita em conjunto com as polícias da Inglaterra, Espanha e Itália - talvez a presença de policiais estrangeiros explique a prisão de Rene -, que detiveram mais duas pessoas na Europa. O grupo é acusado de ter ligações com a máfia calabresa – daí o nome da operação Monte Pollino, situado na região italiana da Calabria.

 

Segundo as investigações, a organização criminosa comprava drogas na América do Sul e as distribuía em vários pontos da Europa. Ao todo, foram apreendidos 1,3 tonelada de cocaína pura – a maior apreensão foi feita num porto de Portugal.

 

Notícia publicada no jornal A Gazeta do Povo de Curitiba: "Saiu nesta segunda-feira (21/outubro/2014) a primeira sentença referente a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investigou a atuação de diversos doleiros no país. Na ação penal que tratava dos crimes de tráfico de drogas e evasão de divisas, o juiz federal Sérgio Moro absolveu o doleiro Alberto Youssef, acusado na ação penal do crime de lavagem de dinheiro, por falta de provas.


Rene Luiz Pereira foi condenado a 14 anos de prisão em regime fechado e multa de R$ 632.574,00 pelos crimes de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. 


"De acordo com a denúncia do MPF, Rene Luiz Pereira, Sleiman Nassim El Kobrossy (foragido), Maria de Fátima Stoker (presa na Espanha), Carlos Habib Chater, André Catão de Miranda e Alberto Youssef faziam parte de uma quadrilha responsável pelo tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.


Segundo as investigações, a droga vinha da Bolívia e do Peru através de Rene e Sleiman. Os entorpecentes eram enviados através do Porto de Santos à Europa, onde Maria de Fátima morava (Inglaterra) e negociava o produto com traficantes locais.


O dinheiro, US$ 124 mil no total, foi enviado por Maria ao Brasil com a ajuda de Chater, que realizava as operações de câmbio. Chater também auxiliava Rene e Sleiman nas operações de câmbio para o pagamento dos entorpecentes na Bolívia e Peru.


Caminho do dinheiro

Do total de US$ 124 mil que veio do exterior através de Maria de Fátima, US$ 88 mil foram recebidos em reais por Rene e Habib em contas laranjas. O dinheiro foi usado para pagar fornecedores na Bolívia.


O restante, US$ 36 mil, foi entregue a Rene no escritório de Youssef. Para realizar a operação de dólar desse dinheiro, Chater teria lucrado 1% do valor. [Atente que só aparece o dinheiro enviado do exterior por Maria...]


Pedido do MPF
Em suas alegações finais, o MPF havia pedido as seguintes condenações aos réus: 12 anos e um mês de prisão para Carlos Habib Chater; nove anos e seis meses para André Catão de Miranda; e 28 anos e nove meses para Rene Luiz Pereira. O MPF também pediu a absolvição de Alberto Youssef por falta de provas". 

O juiz Sergio Moro considerou que não havia provas que mostrassem a participação de Youssef de "forma revelante" para o tráfico. "O escritório de lavagem de dinheiro de Youssef teria sido usado apenas como entreposto dos US$ 36 mil dólares", escreveu o juiz Moro na sentença.

 

 Em 16/maio/2017 a imprensa divulga:

 

Renê Luiz Pereira, traficante e doleiro
Julgamento em 1ª instância: 20/10/2014
Sentença: condenado por tráfico de drogas, evasão de divisas e lavagem de dinheiro
Pena: 14 anos
Julgamento recurso no TRF4: 22/09/2015
Decisão: pena mantida

 

Carlos Habib Chater, doleiro e dono do Posto da Torre (que originou o nome da operação)
Julgamento em 1ª instância: 06/05/2015
Sentença: condenado pelo crime de lavagem de dinheiro
Pena: 4 anos e 9 meses
Julgamento recurso no TRF4: 09/11/2016
Decisão: 4 anos e 4 meses
Julgamento em 1ª instância: 20/10/2014
Sentença: condenado por lavagem de dinheiro
Pena: 5 anos e 6 meses
Julgamento recurso no TRF4: 22/09/2015
Decisão: pena mantida

 

Alberto Youssef, doleiro
Situação: regime aberto com uso de tornozeleira eletrônica
Julgamento em 1ª instância: 05/08/2015
Sentença: condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro
Pena: 16 anos, 11 meses e 10 dias
Julgamento recurso no TRF4: 23/11/2016
Decisão: pena aumentada para 26 anos e 10 meses
Julgamento em 1ª instância: 22/04/2015
Sentença: condenado pelos crimes de lavagem de dinheiro
Pena: 9 anos e 2 meses de prisão
Julgamento recurso no TRF4: 23/11/2016
Decisão: a condenação por lavagem de dinheiro foi confirmada e a pena aumentada para 11 anos e 8 meses, mas foi absolvido de uma das acusações de lavagem de dinheiro em relação à compra da Range Rover de Paulo Roberto Costa

 

Nas condenações da Lava Jato ainda não apareceu nenhum condenado por tráfico de diamantes. Não é engraçado? Vide link. 

 

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