Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

23
Nov18

O Brasil das "fraquejadas"

Talis Andrade

O abismo vivido pelo Brasil foi escavado por silenciamentos. Em particular pelo silenciamento das vozes de mulheres, no caso de Marielle Franco literalmente. A melhor maneira de enfrentar a opressão que se infiltra desde o cotidiano, nos pequenos atos e nas pequenas desistências, dia após dia um pouco mais, é falar. Junt@s. Mulheres e homens que amam as mulheres: “ninguém solta a mão de ninguém”. Não sabemos quando acabará. Mas o fim do que só começou – ou continuou – depende do tamanho da resistência. E da capacidade de voltar a dar significado às palavras pelo debate e pelo confronto das ideias. O Brasil não pode mais tolerar silenciamentos. Como enfrentar a opressão? Recusando-se a silenciar. Escreve Eliane Brum. Leia mais aqui:

 

O ataque dos machos brancos

A tensão de gênero, raça e classe marcou a eleição de 2018

 

de primeira.jpg

 

Entenda o Brasil da escola sem partido. Do pensamento único. Do inimigo terrorista que é uma mistura de sem terra, de sem teto, filiado aos partidos esquerdistas.  

 

damas _ricardom.jpg

 

26
Out18

Novo laudo aponta que vídeo íntimo de orgia de Doria é verdadeiro

Talis Andrade

doria temer 1.jpg

moro-doria-4.jpg

A-Dória-e-Bolsonaro.jpg

bolsonaro família  2.jpg

doria_orgia.jpg

 

 

 

 

 

 

Yahoo - Novo laudo realizado pelo perito criminal Onias Tavares de Aguiar e divulgado nesta sexta-feira, 26, contraria outro laudo feito nesta semana e diz que João Doria é realmente o homem que aparece nas imagens do vídeo íntimo que ganhou as redes sociais nesta semana. O parecer técnico está disponível na íntegra aqui.

.

Metodologia

.

O perito aponta que como metodologia, extraiu todos os frames do vídeo, “ampliando e aplicando técnicas de software para ressaltar os pontos de interesse pericial”.  “O vídeo pode ser dividido em 603 frames (quadros) e considerando tratar de vídeo na velocidade de 30 frames/s o que equivale ao tempo de 20,1 segundos de tempo de duração”, indica.

.

Câmera espiã

.

Sobre a câmera utilizada, ele revela que “se trata de aparelho com características amadoras fixado sobre algum móvel e direcionado para a cama no qual se desenrola a maiorias das cenas”. “As pessoas gravadas agem naturalmente sem preocupações com a câmera indicando não ter o conhecimento de estarem sendo gravados”, indica o perito.

.

João Doria

.

Após analisar imagens em que o candidato aparece, o responsável indica que “a pessoa gravada no vídeo questionado(…) tem suas características compatíveis com as características de imagens pessoais de João Dória, cujas fotos foram analisadas. As análises no campo científico da visão computacional revelam convergências nas proporções (olhos /boca)”.

.

Conclusão

.

“Conclui-se que o vídeo não foi adulterado e nem alvo de qualquer manipulação. Trate-se vídeo autêntico, onde ressaltamos tratar-se de um trecho de 20 segundos de um vídeo maior o qual não foi apresentado para análise”, indica o perito.

 

Confira os principais resultados da análise:

  • As imagens não sofreram quaisquer interpolações sequencias na linha de tempo
  • Ainda que se verifiquem algumas duplicações de imagens, estas não naturais dos algoritmos de compressão de dados e não configuram fraudes. Como demonstrado no corpo do laudo, tais duplicações aparecem tanto nas imagens em o rosto do personagem masculino está exposto quanto nas imagens que o personagem está encoberto pela presença de alguma mulher;
  • Foram constatadas mudanças de contraste e nitidez que também não configura fraude. Trata-se de vídeo baixa qualidade gravados na presença de diversas fontes de luzes (direta e indiretas).
  • Considerando que as mulheres estavam sempre em movimento, qualquer passagem delas entre alguma fonte de luz e objeto focado ocasiona mudança de contrast
  • Foram constatadas granulações de imagens sendo comum em qualquer vídeo amador e de baixa qualidade e sem qualquer outro tratamento.

 

22
Set18

Lula responde para o general Mourão: 'Não julgue avós e mães por seu conceito medíocre'

Talis Andrade

O candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), afirmou nesta segunda-feira que o Brasil vive uma crise de valores e que famílias desestruturadas levam ao surgimento de “elementos desajustados”, que “tendem a ingressar em narco-quadrilhas”.

 

“Família sempre foi o núcleo central. A partir do momento que a família é dissociada, surgem os problemas sociais que estamos vivendo e atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai nem avô, é mãe e avó. E por isso torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar em narco-quadrilhas que afetam nosso país”, afirmou ele em evento do Sindicato da Habitação (Secovi), em São Paulo.

 

'Não julgue avós e mães por seu conceito medíocre', diz Lula a Mourão, em carta escrita na prisão dos juízes Sergio Moro e Carolina Lebbos:

carta de lula mourão.jpg

 

20
Set18

General, vida é diferente pra quem tá do lado de cá, de quem não tem pensão, de quem não tem auxílio isso, auxílio aquilo

Talis Andrade

Depoimento emocionado da jornalista Martha Raquel ao General Mourão


Você foi criado por sua mãe, sua avó ou sua tia? Conte ao general Mourão e ao Bolsonaro quem você é. Mande seu depoimento, que nós publicaremos!

 

marta.jpg

Martha Raquel com sua mãe e sua tia

 

General Mourão,

Escrevo essa carta pra tentar te tirar da escuridão e da ignorância. Ontem o senhor, que é vice de Jair Bolsonaro ao cargo de Presidente do Brasil, disse que famílias pobres chefiadas por mães e avós, são “fábricas de desajustados que fornecem mão de obra ao narcotráfico”. Pode ser que o que o senhor disse seja falta de caráter, ruindade, falta de respeito, mas prefiro acreditar que seja apenas ignorância. Mas também pode ser que o senhor seja apenas um homem mau, sem caráter e sem qualquer respeito por ninguém.

 

Sabe, general, eu fui criada pela minha mãe e minha tia lá em Americana, interior de São Paulo. Meu pai, lá em 1994, desapareceu depois que descobriu que a minha mãe estava grávida e desde então nunca mais deu as caras. Foi difícil, muito difícil mesmo, mas a mãe guerreira que eu tenho sempre trabalhou em 2 empregos para não deixar faltar nada em casa. Minha tia se aposentou muito cedo por invalidez por um problema nas mãos, e ela, junto com a minha mãe, foi a pessoa que me educou.

 

Lembro da minha infância e de como minha mãe saía antes das 05h da manhã para trabalhar e voltava depois das 22h. Minha tia me arrumava e me levava pro colégio. Ela me ensinou a ler e a escrever (com letra de mão!) aos 4 anos. Desde criança sempre fui estimulada a fazer aulas de teatro, dança, desenho e qualquer outra coisa que me interessasse. Também fui apoiada quando quis jogar futebol de areia e futsal. Por anos fiz ginástica olímpica também. Minha família de duas mulheres, uma aposentada por invalidez e uma que trabalhava quase 17h por dia, fazia o possível e o impossível pra me criar da melhor forma possível.

 

martha.jpg

General, eu não sei se o senhor tem noção do que é cuidar de uma família e criar filhos sem uma rede de apoio, no subemprego, lidando com todo tipo de violência física e simbólica sem os privilégios que os militares possuem. Minha casa era sustentada com o salário de aposentada da minha tia (um salário mínimo) e com a junção de 2 salários da minha mãe (no emprego fixo ela ganhava pouco mais que um salário mínimo e mais o que ela conseguia fazendo bicos).

 

Minha mãe é urditriz, o senhor sabe o que é essa profissão, general? Urditriz é a pessoa que opera a urdideira, uma máquina enorme que enrola os fios alinhados antes de levar o rolo para o tear. Na máquina que a minha mãe trabalha são 640 carreteis de linha para formar o rolo. São 8 andares de fios que a minha mãe precisa emendar caso o fio quebre. Ela passa o dia revezando entre subir numa escadinha e ter que agachar para emendar os fios. Imagine fazer isso por 17h todos os dias, general.

 

máquina.jpg

giratoria.jpg

Minha família não é desajustada, a minha família é composta por 3 mulheres guerreiras, que sempre enfrentaram tudo e todos de frente, sem medo. Minha mãe e minha tia são as mulheres mais fortes que eu conheço! Me criaram da melhor forma que podiam e me deram a melhor educação que eu podia receber. Um pai ou um avô nunca nos fizeram falta. Hoje eu sou jornalista formada pelo PROUNI, sou fruto dos esforços da minha mãe e da minha tia, e também de um programa de acesso a educação criado e fortalecido no governo do Partido dos Trabalhadores.

 

Não sei se você sabe, general, mas 28,6 milhões de famílias, segundo o IBGE, são chefiadas por mulheres. E 5,5 milhões de crianças sequer tem o nome do pai na certidão de nascimento. Eu sou uma delas.

 

A vida é diferente pra quem tá do lado de cá, de quem não tem pensão, de quem não tem auxílio isso, auxílio aquilo. A rotina não é fácil quando você tem medo do fim da CLT e do fim da aposentaria. Eu sei que o senhor não precisa se preocupar com isso, general, mas a gente precisa. E como precisa.

 

Como candidato a vice-presidente, espero que o senhor se informe mais sobre a realidade das famílias no Brasil. Eu sou apenas um caso.

 Martha Raquel

Jornalistas Livres

19
Set18

O estrago que Mourão fez

Talis Andrade

avó mãe mourão.jpg

 

 

por Fernando Brito

___

No Brasil, segundo o IBGE, há 11,6 milhões de lares formados por mulheres e seus filhos, sem a presença de cônjuges masculinos.

 

São, nas estúpidas palavras do vice de Jair Bolsonaro, as “fábricas de desajustados”.

 

Não ouço estupidez semelhante desde que D. Josefina, uma fofoqueira que morava na mesma vila que nós, no subúrbio do Lins de Vasconcelos, dizia às vizinhas que eu e meu irmão eramos os “desencaminhadores” da garotada por sermos os “filhos da desquitada”.

 

O estrago que Mourão fez na campanha de Bolsonaro, que andava até comprando imagens fake para não parecer machista é o de um disparo de obus.

 

Não adianta dizer que a “intenção era outra”, a de falar sobre a vulnerabilidade da mulher com estas solitárias responsabilidades familiares porque, não só não houve essa ressalva como, também, Mourão tem a obrigação de saber que está numa chama de indisfarçada misoginia.

 

Até a Rachel Sheherazade, direitista até à medula e uma das promotoras do pensamento brutal desta turma, protestou no Twitter.

 

“Crio dois filhos sozinha. Fui criada por minha mãe e minha avó. Não. Não somos criminosas.”

 

O General depois não reclame quando uma mulher o puser para correr.

 

Como as mulheres, felizmente, vão por para correr o seu chefe.

 

19
Set18

Dilma repudia preconceito de Mourão contra mães e avós "heroínas"

Talis Andrade

o tempo mourão contra mãe avó.jpg

Em palestra na ACSP,  o general Hamilton Mourão falou sobre as declarações dadas na segunda-feira na qual ligou famílias pobres "onde não há pai e avô, mas sim mãe e avó" a uma "fábrica de desajustados", que fornecem mão de obra ao narcotráfico.


"Um órgão de imprensa disse que critiquei as mulheres, estou apenas fazendo a constatação de coisas que ocorrem em comunidades carentes, com famílias lideradas por mães e avós, pois o homem ou morreu ou está preso, e a maioria dessas mulheres são trabalhadoras, cozinheiras, faxineiras e não tem com quem deixar seus filhos porque não tem creche e escola de tempo integral, então, essa criança vira presa fácil do narcotráfico."


"Não sou antidemocrático, se fosse não estaria disputando essas eleições, estaria em casa limpando as minhas armas."


Na palestra, ele citou ainda a prioridade, em um eventual governo de Jair Bolsonaro, da urgência de se colocar em execução da reforma da Previdência. "Estamos nos aposentando cedo demais, expectativa de vida aumentou mais 20 anos", emendou.

 

Marcelo Rubens Paiva: "Fui criado pela minha mãe e irmãs porque a ditadura matou meu pai"

 

O jornalista e escritor Marcelo Rubens Paiva repudiou a declaração do general Hamilon Mourão (PRT) sobre mães e avós.

 

"Mourão afirma nas entrelinhas que mulher não sabe criar filhos. Fui criado pela minha mãe e irmãs, porque a ditadura matou meu pai aos 11 anos, e meu avô morreu de tristeza dois anos depois. Por isso que sou um desajustado", afirmou o escritor no Twitter.

 

De acordo com o general, "a partir do momento em que a família é dissociada, surgem os problemas sociais". "Atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai e avô, mas sim mãe e avó. Por isso, é uma fábrica de elementos desajustados que tendem a ingressar nessas narco-quadrilhas".

 

Mourão afirma nas entrelinhas que mulher não sabe criar filhos. Fui criado pela minha mãe e irmãs, pq a ditadura matou meu pai aos 11 anos, e meu avô morreu de tristeza dois anos depois. Por isso que sou um desajustado.

 

"Repudiamos o preconceito de quem é indiferente ao amor verdadeiro de milhões de mulheres, mães e avós"

 

A presidente deposta pelo golpe e candidata do PT ao Senado por Minas Gerais, Dilma Rousseff, manifestou seu repúdio contra o preconceito do general Mourão (PRTB), que chamou de "fábrica de elementos desajustados" para o tráfico os lares formados apenas por mães, avós e seus filhos e netos, sem a presença de pais ou avôs.

 

"No Brasil, segundo o IBGE, há 11,6 milhões de lares formados por mulheres e seus filhos, sem a presença de cônjuges masculinos. Minha solidariedade às mães e avós que heroicamente criam os seus filhos e netos sozinhas", postou Dilma no Twitter. "Repudiamos o preconceito de quem é indiferente ao amor verdadeiro de milhões de mulheres, mães e avós. Meu respeito e admiração a todas elas", acrescentou.

 

Em evento do Sindicato da Habitação (Secovi), em São Paulo, Mourão declarou: "Família sempre foi o núcleo central. A partir do momento que a família é dissociada, surgem os problemas sociais que estamos vivendo e atacam eminentemente nas áreas carentes, onde não há pai nem avô, é mãe e avó. E por isso torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados e que tendem a ingressar em narco-quadrilhas que afetam nosso país".

 

Nesta terça, ele tentou consertar a declaração, mas piorou, ao atacar os homens das regiões mais pobres pobres. "Ontem, numa exposição similar a essa, em outro ambiente, eu deixei claro que esse atingimento da família é muito mais crucial nas nossas comunidades carentes, onde a população masculina ou está presa, ou está ligada à criminalidade ou já morreu, e que deixa a grande responsabilidade por levar a família à frente nas mãos de mães e avós", disse.

 

 

12
Set18

Prisão de Richa beneficia aliado dos Moro

Talis Andrade

 

rosangela-moro-mulher-de-sergio-moro_advogando-par

rosangela arns.jpg

 

 

por Ricardo Costa de Oliveira

---

 

A prisão da família Richa, uma vez que a política tradicional paranaense é operada por famílias, representa mais um cálculo do partido político do judiciário e das fases da Lava Jato.

 

Muito tarde e muito pouco.

 

Já deveriam ter sidos presos há vários anos, pelo menos desde o massacre dos professores.

 

A notícia da prisão de Beto Richa, Fernanda Richa e de José Richa Filho, o Pepe, super-secretários na gestão anterior, beneficia diretamente a candidatura senatorial de Flávio Arns, aliado próximo de Rosângela Moro, esposa do juiz Sérgio Moro e também ofusca as manchetes políticas do dia sobre Haddad e Lula, em Curitiba, em um momento em que Haddad precisa de visibilidade para subir nas pesquisas ao lado de Lula.

 

Como sempre é uma jogada política muito bem pensada e calculada na sua data, cronograma e no seu impacto midiático, o que continua a revelar o forte ativismo político e eleitoral do judiciário nesta conjuntura.

 

04
Set18

Os parentes dos presidenciáveis candidatos

Talis Andrade

Quando a política se torna um negócio de família no Brasil

Lei flexível no país permite que quase metade dos senadores e deputados tenha familiares em cargos públicos. Nos estados, clãs chegam a governar por décadas

 

Diário de Notícias de Portugal publicou em julho de 2016:

 

"Não há irregularidade na contratação de primos', respondeu prontamente o gabinete do deputado Rodrigo Maia, recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados, o segundo cargo na linha de sucessão no Brasil, após insistentes pedidos de esclarecimento da imprensa à nomeação de um parente do parlamentar. O nepotismo - abuso que um eleito faz da sua posição para favorecer familiares - está sob escrutínio mais intenso do que nunca da opinião pública e da justiça brasileiras. Consciente da situação, a assessoria de Maia, que pertence ao partido mais à direita do Parlamento, o DEM, e substituiu o controverso Eduardo Cunha (PMDB), reagiu de imediato.

 

Porque o Brasil é o país em que, no não tão longínquo ano de 2007, o governador do estado do Maranhão Jackson Lago (PDT), entretanto falecido, contava com dois irmãos, quatro sobrinhos, três primos e um genro no seu gabinete. Da família da sua mulher, tinham cargos governamentais num dos estados brasileiros mais pobres, dois irmãos, seis sobrinhos e dois primos. Um destes primos, chefe da casa civil, empregava dois filhos. No total, eram 23 parentes de Lago sob o guarda-chuva do estado."

 

Acrescenta o texto assinado por João Almeida Moreira:

 

"Não por acaso, logo no ano seguinte, o Supremo Tribunal Federal decidiu intervir, aprovando a "súmula vinculante número 13" que vedava o nepotismo nos três poderes - executivo, legislativo e judicial - e nas três esferas - federal, estadual e municipal. Mas o entendimento jurídico posterior de que a determinação não incluía cargos de 'confiança política', deixou tudo mais ou menos como dantes. 'O texto tem brechas e desse modo um governante pode preencher a sua equipa só com parentes', dizia na época ao jornal O Globo o professor de Direito Administrativo Gustavo Magalhães.

 

E, assim, um levantamento do site Transparências já deste ano avaliou que a 'bancada dos parentes' é a mais poderosa do Congresso. Explicando: no Senado e na Câmara dos Deputados, os parlamentares, além de se dividirem pelos mais de 20 partidos, ainda se organizam por bancadas suprapartidárias como a da Bíblia, composta por fiéis das igrejas evangélicas, a do Boi, que cuida da agenda dos grandes latifundiários e criadores de gado, a da Bala, de polícias e militares favoráveis ao uso de armas, ou a da Bola, que zela pelos interesses dos clubes de futebol. A bancada dos Parentes, porém, conta com 238 dos 594 congressistas (ou seja, 40%) - isto é, quase metade dos parlamentares tem pelo menos um familiar em cargos públicos. O lóbi do parentesco é, pois, ainda mais forte do que os outros lóbis."

 

Políticos articulam chapas em família para eleições em ao menos cinco estados

Parentes disputarão o governo e o Senado em ao menos cinco estados, informa a Folha de S. Paulo. Três presidenciáveis também terão familiares concorrendo: Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Álvaro Dias. Confira o nepotismo eleitoral aqui 

Bolsonaro tenta emplacar 4º filho na carreira política

 

flavio bolsonaro senador.jpg

eduardo bolsonaro.png

 

 

Estimulado pelo pai, o outro filho de Bolsonaro, de apenas 19 anos, vai tentar carreira política. Família se tornou especialista em viver às custas dos cofres públicos

 
 

Pragmatismo Político - O sobrenome é conhecido por muitos. O rosto, nem tanto. Talvez por isso, criar uma página de figura pública no Facebook — com alcance maior do que um perfil pessoal — tenha sido uma alternativa para o jovem Jair Renan Bolsonaro, de 19 anos. Essa exposição recente fez aumentar uma aposta antiga de quem tem contato com a família: a de que o estudante de Direito vai entrar para a política.

Dessa forma, seguiria os passos do pai, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), e dos irmãos mais velhos, o deputado federal Eduardo, o deputado estadual Flávio e o vereador Carlos.

carlos-bolsonaro.jpg

 

É certo, no entanto, que a possibilidade de entrada de mais um Bolsonaro na vida parlamentar não acontecerá na eleição deste ano. Embora o estudante já seja filiado desde março de 2016 ao PSC — partido que o pai está deixando para entrar no nanico PSL com o objetivo de concorrer à Presidência da República —, a idade mínima para concorrer a uma vaga de deputado é 21 anos.

 

bolsonaro-tenta-emplacar- mais um filho-carreira-p

 Renan está na chocadeira para as eleições de vereador de 2022, e Carlos pula de vereador para prefeito

 

Enquanto não pode entrar de cabeça na vida política, Renan, como é chamado pelos mais próximos, usa sua rede social exclusivamente para exaltar o pai. Logo que criou a página, em março de 2017, o filho de Bolsonaro escreveu qual era seu objetivo na rede: “Eu, Jair Renan Bolsonaro, usarei essa página para propagar meus ideais e projetos. Por meio dela, me aproximarei de você, permitindo uma troca de ideias e pensamentos. #Bolsonaro #SomosTodosBolsonaro.”

O sobrenome já lhe rendeu quase 16 mil seguidores.

(…)

Renan morou com Bolsonaro depois que o deputado se separou da mãe do estudante, Ana Cristina Valle. Mas, depois que concluiu o ensino médio no Rio, o jovem foi morar com a mãe em Resende.

(…)

Numa entrevista ao Globo em dezembro, Ana Cristina falou sobre o filho:

— Por enquanto, a pretensão dele é seguir a carreira militar. Mas a política está no sangue, né.

(…)

Leia também:
Bolsonaro empregou a esposa, a ex e outros familiares na Câmara
O enriquecimento de Jair Bolsonaro às custas do dinheiro público
Afinal, o que Eduardo, filho de Bolsonaro, fazia de tão grave?
Lula vence enquete realizada pelo filho de Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro se irrita ao saber que não teve o voto do próprio filho
Filho de Bolsonaro é coautor de projeto que dá salário vitalício a vereadores
Filho de Bolsonaro defende PMs que agrediram juíza
Bolsonaros, pai e filho, são processados pelo MPF

04
Set18

Famílias tradicionais dominam a política

Talis Andrade

 

bolsonarofamilia.jpg

 

 

por João Filho

----

A primeira pergunta feita para Bolsonaro na entrevista no Jornal Nacional foi como que ele se apresenta como o “novo”, “contra tudo o que está aí”, mesmo tendo feito da política a sua profissão e a de boa parte da sua família. O candidato, que assim como seu filho recebe auxílio-moradia mesmo tendo casa própria em Brasília, respondeu que “quando se fala em famílias na política, fala-se em atos de corrupção. A minha família é limpa na política.” Mais ou menos.

 

Além dos três filhos homens terem virado políticos profissionais, o seu irmão Renato Bolsonaro foi sustentado pelos cofres públicos durante três anos, recebendo R$ 17 mil por mês. Só que, assim como a Val - a funcionária que é quase da família - o maninho nunca apareceu para trabalhar. Ele tinha uma boquinha na Assembleia Legislativa de São Paulo no gabinete de André do Prado (PR) que, vejam só que coincidência, é um velho aliado político de Jair. Quando a casa caiu e o escândalo veio à tona, Bolsonaro fingiu não ter nenhuma relação com o emprego-fantasma do irmão e disse “pau nele!” Mesmo largado ferido na estrada como um vagabundo qualquer, o balanço foi positivo para o irmão, que embolsou ao todo cerca de R$ 612 mil sem nunca ter aparecido para pegar no batente.

 

Em 2007, Bolsonaro também contratou para trabalhar em seu gabinete a sua então namorada que, em menos de um ano, foi promovida e teve um bom aumento de salário. Nos anos 1990, os filhos de Bolsonaro contrataram para seus gabinetes parentes da sua segunda mulher. A justificativa dele à época foi puro deboche: “É minha companheira. Não somos casados. Portanto, não somos parentes.” Bolsonaro é mesmo o candidato da família brasileira, principalmente o da sua.

 

O clã Bolsonaro é só mais um que está incrustado na política brasileira. Há diversas famílias em todos os estados do país dominando a política local, controlando estatais e perpetuando a presença privilegiadas no serviço público a cada geração. É impossível entender o Brasil e suas relações políticas sem compreender o papel das grandes famílias.

 

Essa tradição nepotista dificulta mudanças no funcionamento do sistema político. Nesta semana, Amanda Audi, repórter do Intercept Brasil em Brasília, mostrou como deputados estão tentando driblar a lei que proíbe a indicação de parentes e amigos para cargos de chefia em estatais. A política brasileira é tratada como se fosse um negócio da família e haverá resistência a qualquer ameaça a essa tradição.

 

Segundo o cientista político Ricardo Costa Oliveira, que estuda a presença das famílias no poder, 62% da Câmara é formada por deputados originários de famílias políticas, enquanto no Senado esse número sobe pra mais de 70%. Ou seja, praticamente dois terços do Congresso brasileiro está tomado por algumas famílias. Mais da metade dos ministros de Temer são representantes de famílias políticas. Só o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM), filho de César Maia, convive no Congresso com dois primos: o deputado Felipe Maia (DEM) e seu pai, o senador José Agripino Maia (DEM). Todos eles são primos do vice-procurador-geral da República Luciano Mariz Maia. Eu precisaria de mais uns 3 parágrafos para citar todos os integrantes da família Maia que ocupam cargos públicos em todo o Brasil.

 

A lógica de domínio pelo parentesco também se dá em todas as outras esferas de poder da sociedade. Além dos executivos e legislativos estaduais e municipais, famílias tradicionais dominam o Ministério Público, todos os níveis do judiciário, os tribunais de conta, e por que não lembrar, os oligopólios de mídia. Levantamento de Oliveira indica que 16 dos 26 prefeitos de capitais eleitos em 2016 vieram de famílias políticas. No Supremo Tribunal Federal, oito dos 11 ministros têm parentes importantes na área do Direito. Na força-tarefa da Lava Jato, metade dos seus integrantes tem familiares magistrados e procuradores.

 

Fala-se muito sobre a necessidade de renovação dos quadros políticos, mas o que vemos a cada eleição é a renovação dos parentes das famílias dominantes. Muitos deles se vendem como o “sangue novo na política”, mas são herdeiros de legados que representam o que há de mais antiquado. Jovens sem nenhuma trajetória na política, que jamais seriam seriam eleitos sem a força de seus pais, seguem engrossando as fileiras dos cargos públicos a cada eleição.

 

No Rio de Janeiro, três famílias do MDB, cujos chefes estão presos por corrupção, vão para a disputa eleitoral. Eles se apresentam como jovens promessas, mas defendem o legado político da família e usarão a mesma máquina que elegeu seus pais. Danielle Cunha estreará na política a pedido de Eduardo Cunha, enquanto Marco Antônio Cabral e Leonardo Picciani tentarão a reeleição.

 

O filho de Crivella, sem nunca ter participado da política, é visto pelo PRB como um candidato com grande potencial para puxar votos para o partido. “Quero ser uma voz que represente uma nova safra de jovens empreendedores”, afirmou o candidato da Igreja Universal. Ele, que não tem o mesmo nome do pai, adotou o nome fantasia Crivella Filho para se vender melhor, porque, segundo ele, o seu “maior patrimônio é o sobrenome”.

 

Neste ano, como em todos os anos eleitorais, a lista de caciques que estão mandando filhos para a política é infindável. O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), que já tem dois filhos na política, tentará emplacar mais um neste ano. A família Richa, cuja árvore genealógica tem tradição em viver da política, tenta emplacar mais uma geração. Fernando Collor (PTC) também prepara o filhote para ajudá-lo no Congresso. O senador Otto Alencar (PSD) tenta mais uma vaga para família na Câmara por meio de seu filho. O senador Eunício Oliveira também aposta no filhão para renovar a Câmara. E assim vão se formando pequenas monarquias dentro da república.

 

Todos eles dificilmente não irão se eleger. São sobrenomes fortes dentro dos partidos, e a tendência é que abocanhem um pedaço maior do bolo do fundo eleitoral. O fim do financiamento privado das campanhas teve um efeito colateral complicado: os caciques partidários ganharam ainda mais poder, já que os recursos estão mais escassos e são eles que decidem como serão repartidos os recursos do fundo eleitoral. E é claro que irão privilegiar suas famílias.

 

A tendência é piorar. Segundo levantamento da Transparência Brasil, em 2014, a Câmara aumentou em 5% o número de deputados com parentes políticos em relação à eleição anterior. Entre os parlamentares eleitos com menos de 35 anos, a situação é ainda mais assustadora: 85% deles são herdeiros de famílias políticas.

 

Os partidos de direita e centro-direita são os que mais se destacam na manutenção das famílias políticas no poder.

 

parlamentares familia.jpg

 

Fonte: Transparência Brasil


Na Câmara, MDB, PTB e SD lideram o percentual de deputados oriundos de famílias políticas. No Senado, MDB, PP, DEM e PSDB aparecem no pelotão de frente. Como era de se imaginar, o MDB é líder isolado nas duas casas. O PSDB, que se originou a partir do desgosto de certos filiados emedebistas com o fisiologismo do partido, tem se consolidado como o ninho das mais importantes famílias políticas do país. Richa no Paraná, Cunha Lima na Paraíba, Jereissati no Ceará, Virgílio no Amazonas, Neves em Minas Gerais, e por aí vai.

 

Algumas dinastias estão enraizadas no poder desde o período colonial. Como apontou a Agência Pública, o deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), que está em seu décimo mandato consecutivo, descende de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), o ex-ministro do Império conhecido como Patriarca da Independência .

 

Além do capital político, esses filhos herdam também o poder econômico. Muitas dessas famílias são donas de meios de comunicação, como TV, rádios e jornais nos seus estados, que acabam virando verdadeiras monarquias regionais em um ciclo vicioso eterno. Esse esquemão das famílias sobre a coisa pública mantém o país refém de interesses particulares e da desigualdade social. Além disso, representa inegavelmente um foco de corrupção. Basta acompanhar no noticiário a frequência com que famílias políticas unidas aparecem roubando unidas.

 

Urge uma reforma partidária que introduza mecanismos que tornem os partidos mais democráticos e impeçam esse nepotismo sem freio. Qual é a chance hoje de um jovem cheio de novas ideias, sem família tradicional por trás, disputar uma vaga com os filhotes desses caciques? Praticamente nula.

 

A meritocracia dentro dos partidos não existe e há pouco espaço para os amadores sem parentesco. A renovação na política é tecnicamente inviável. Na definição do cientista político Ricardo Costa Oliveira, “somos uma república de famílias”. E todas essas famílias que se perpetuam no poder são representadas, quase que invariavelmente, por homens brancos e ricos.

 

21
Ago18

As dinastias familiares

Talis Andrade

família.jpg

 

por Hélio Duque

___

Originário da Idade Média, o objetivo do feudalismo é marginalizar o poder central, estabelecendo a relação de dependência entre vassalos e suseranos. O suserano é dono de um feudo e a grande maioria da população é dependente e se submete à vassalagem. O vassalo é um subordinado submisso que se entrega à dependência do senhor feudal. A realidade política brasileira, expressada nas atuais legendas partidárias, submete a sociedade aos valores de um tempo feudal. Os partidos políticos, ao invés de buscar a arte de bem governar para o interesse comum, transformaram-se em máquinas de preservação dos interesses pessoais e de corporações grupais. A esperteza astuta entende que o Estado deve ser provedor de vantagens, inclusive familiares, como vem acontecendo.

 

O vácuo da verdadeira representatividade popular vem sendo ocupado em grande número pelas dinastias familiares. O saudoso Ulysses Guimarães, no livro “Rompendo o Cerco”, alertava: “É indecoroso fazer política uterina, em benefício de filhos, irmãos, cunhados. O bom político costuma ser mau parente.” Morto há duas décadas e meia, o timoneiro da redemocratização foi poupado de viver o tempo presente. A inflação de filhos, irmãos, sobrinhos, esposas, cunhados e agregados pela genética proliferam na vida pública, formando disfarçadas capitanias hereditárias políticas na ocupação de cargos no executivo, no legislativo e até no poder judiciário.

 

As dinastias genéticas, quase sempre despreparadas, são grupos liliputianos, deslumbrados com as delícias do poder. Inexistem como representantes de princípios e ideários e nisso estão a altura dos partidos a qual são filiados. Estes servem unicamente para o registro de candidaturas, cultivando o arcaísmo como projeto de poder. Desigualdade social, cidadania incompleta, falta de compromisso com os valores humanistas, em que liberdade, igualdade e fraternidade deveriam ser pedra angular, estão fora da agenda dessas dinastias.

 

Ignorantes dos ensinamentos do grego Aristóteles, quando pregava que o valor público supremo é servir ao bem comum, os políticos uterinos não sabem o que é “res pública”. O poder das dinastias familiares e fisiológicas é um dos responsáveis, no Brasil, pelo enfraquecimento do Estado democrático. Aprofundando a desqualificação da atividade política, levando os melhores quadros a se manter longe da vida pública. E nesse processo deformado, renovar por renovar não garante nada. Mudam os prenomes, mas os sobrenomes continuam intocáveis.

 

No Rio, o cientista político Alfredo Sirkis, radiografava essa realidade, recentemente: “A maioria dos bons quadros da sociedade civil foge dessa realidade nauseabunda. Quem não dispõe de fortuna pessoal, herança política familiar, púlpito de pastor, microfone de radialista, direção corporativa, prefere evitar compromissos comprometedores. Para o político íntegro, essa ave rara, vai se chegando a quadratura do círculo.” Os feudos genéticos retratam um tempo de degeneração da ética pública ampliando o poderio familiar nas disputas eleitorais. Com isso geram a desconfiança, a frustração e o desrespeito do eleitorado pela atividade pública.

 

Em passado recente as regiões norte e nordeste eram líderes absolutas nessa deformação política, onde prevalecem os clãs familiares. Nos últimos tempos, as regiões sul e sudeste aderiram ao nefasto modelo, com o feudo familiar arrombando a vida pública. Em nome de uma falseada mudança renovadora, as dinastias escalam os seus herdeiros nos governos de Estado, nas Prefeituras, no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas, nas Câmaras Municipais, consolidando o Estado patrimonialista.

 

Com grande sabedoria naquele seu livro Ulysses Guimarães advertia: “O poder não corrompe o homem. É o homem que corrompe o poder.” Aí está uma das causas da corrupção estrutural que, tristemente tem presença no Brasil.

finados marcha família.jpg

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub