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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

08
Jun18

A moradia no Brasil não é compreendida como um direito humano

Talis Andrade

Uma sociedade que naturaliza pessoas vivendo nas ruas é hipócrita e autodestruidora.

 

Os trabalhadores de baixa renda estão em um beco sem saída, entre morar em edifícios ou áreas de risco, ou terão que morar nas ruas que é uma tragédia humana. E para quem tem filho é um risco muito grande. Uma sociedade que naturaliza as desigualdades e as pessoas vivendo nas ruas é hipócrita e autodestruidora.

 

As pessoas não têm renda suficiente nem para pagar um quarto de cortiço ou aluguel em outro tipo de habitação sofrem despejos e para não irem para a rua emergencialmente apelam para a ocupação prédios abandonados

 

os movimentos de moradia que atuam no centro nascem a partir dessa necessidade com objetivo de lutar coletivamente e solidariamente por justiça social, direito à cidade e direito à moradia digna. As ocupações também são estratégias para denunciar a contradição social do grande número de imóveis abandonados.

 

A moradia no Brasil não é compreendida como um direito humano. Como a moradia gera muito dinheiro, a sua concepção é que se trata de uma mercadoria, onde as pessoas têm acesso conforme a renda.

 

Carla Jiménez entrevista Luiz Kohara

 

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O urbanista Luiz Kohara diz que a tragédia com o edifício Wilton Paes, que desabou em São Paulo, expôs a solidariedade paulistana e a demagogia dos governantes sobre o grave problema de habitação na cidade

 

O dia primeiro de maio parece ter ficado mais distante do que é de fato. O país que acaba de passar por uma convulsão com a greve dos caminhoneiros já deixou bem para o fundo da memória a tragédia do edifício Wilton Paes, que desabou em pleno feriado do dia do trabalho, no centro de São Paulo. Ao menos quatro vítimas fatais foram confirmadas, moradores que não conseguiram fugir a tempo quando o fogo começou a derreter as estruturas do prédio que foi ao chão. Outras centenas de pessoas ficaram desabrigadas, e muitas se instalaram no Largo do Paissandu , a poucos metros de onde ocorreu o desabamento. A prefeitura ofereceu recursos para aluguel social ou transferência para um dos albergues municipais, mas eles se negam. Querem manter-se ali, apoiados pelos líderes do movimento de moradia que os acompanha, como forma de pressão. Embora a fatalidade da metrópole com mais de 20 milhões de habitantes pareça se diluir no tempo, ela reflete um problema grave e perene, que deixa ao menos 1 milhão de famílias em situação vulnerável, explica o urbanista Luiz Kohara, doutor em arquitetura e urbanismo, e pós doutor em sociologia urbana. “Não é a primeira e nem a última tragédia do gênero”, diz ele, que aponta a falta de mobilidade do poder público para olhar, de uma vez por todas, para o problema habitacional como algo passível de solução.

 

Pergunta. Passado um mês da tragédia que atingiu o edifício Wilton Paes, o que fica de aprendizado sobre esse acidente que chocou o país?

Resposta. A tragédia, além de explicitar o grave problema de habitação que temos na cidade de São Paulo, evidenciou a solidariedade da sociedade paulistana nos momentos emergenciais de tragédia e a união de todos os movimentos de moradia comprometidos com o direito à moradia da população mais pobre, em apoio às famílias que residiam no edifício. Por outro lado, também mostrou que os governantes tratam o grave problema de habitação e a população mais pobre com discursos demagógicos para a sociedade de rápidas soluções. Passado mais de um mês, ainda continuamos sem solução definitiva. O mais grave foram os discursos dos governantes e candidatos às próximas eleições no momento da tragédia. De forma oportunista e voraz, foi a da criminalização dos movimentos de moradia e das famílias que residiam no edifício, também, como forma de fugir de suas responsabilidades. O aprendizado maior dessa tragédia é que se o problema da moradia das famílias dos trabalhadores de baixa renda não for enfrentado de forma massiva, tragédias como esta e outras silenciosas continuarão ocorrendo. Logicamente, enfrentar o problema da moradia é ter políticas urbanas que favoreçam o direito à cidade para todos e é enfrentar a questão fundiária urbana.

 

P. A prefeitura disse que faria um controle acurado com outros prédios em situação de risco para evitar tragédia semelhante. Qual sua opinião?

R. Há muitos edifícios na cidade de São Paulo que apresentam situação de risco, não é caso apenas das ocupações. Devido à grande repercussão do incêndio, a prefeitura formou um grupo executivo para vistoria das ocupações. No entanto, se não tiver objetivo de identificar os problemas e contribuir para solucioná-los de nada servirá. Digo isto porque a fiscalização para justificar apenas as remoções do problema somente servirá para gerar novos problemas sociais e transferência das situações de riscos para outros endereços. É importante destacar que nenhuma pessoa quer viver em situação de risco, e quando isso ocorre é devido à falta de alternativa.

 

P. O Largo do Paissandu virou o espaço de resistência das famílias que moravam no Wilton Paes antes. O que isso significa?

R. As famílias se mantêm no Largo do Paissandu por resistência à falta de solução efetiva dos órgãos públicos, que propõem como alternativa centros de acolhidas, os albergues, ou ajudam com aluguel de valores de 400 reais, que são insuficientes para locar um quarto precário no cortiço. Além de que as famílias perderam todos os seus poucos móveis que possuíam. O Largo do Paissandu expressa a continuação da tragédia das famílias e das crianças que se encontram em situação de extrema precariedades (frio, falta de sanitários, sem espaços para dormir, inseguranças) e sujeitos a todos os tipos de riscos. O Largo expressa resistência, dor, sofrimento e descaso público aos mais pobres.

 

P. Na sequência da tragédia, o que estava mais em pauta era o debate sobre o papel do movimento social que liderava a ocupação do edifício e menos a falta de moradia, um nó que carrega o país há décadas. Como jogar luz a esse problema?

R. No momento da tragédia, do incêndio que levou o edifício ao chão, houve presença permanente da imprensa nacional e internacional e grande comoção de toda a sociedade. Parte da imprensa estava mais preocupada em culpabilizar os movimentos sociais de moradia sobre tragédia, sem tratar a questão geradora da tragédia que é o problema da habitação. Nós procuramos explicar que as famílias são vítimas do problema da habitação devido à insuficiência de políticas públicas e dos baixos salários que são insuficientes para acessar uma moradia adequada, porque não era a primeira e nem a última tragédia do gênero anunciada. Também destacamos o “amanhã” das famílias, após a forte presença da imprensa e abrandamento da comoção. Era sim uma tragédia anunciada, não só do incêndio do edifício, mas porque para as populações mais pobres morar é um risco. A proposta do Plano Municipal de Habitação, que está na Câmara Municipal para ser aprovada, identifica que na cidade de São Paulo há 445.112 domicílios em favelas e 385.080 em loteamentos irregulares que necessitam de melhorias nas unidades habitacionais ou instalações de infraestruturas ou mesmo situações de remoções de devido ao alto grau de risco. Há, ainda, 80.399 domicílios em cortiços, 15.905 pessoas que estão morando nas rua, 103.664 lares coabitados por mais de uma família por falta de condições financeiras. Outros 187.612 domicílios em que as famílias têm ônus excessivos com os alugueis. São mais de 1 milhão de famílias vivendo precariamente. Isso tem muito a ver também com a mercantilização da moradia e o baixo salário dos trabalhadores. Um quarto precário de dez metros quadrado num cortiço, na região central de São Paulo custa entre 800 a 900 reais. Como pagar aluguel ganhando um salário mínimo? Se pagar aluguel, não come, não estuda. É um problema de contradição muito grande. O custo dos imóveis está cada vez mais caro.

 

P. Uma equação que não fecha...

R. Entre janeiro de 2008 e março de 2018, um levantamento da FIPE/ZAP mostrou que os preços dos imóveis cresceram 257% e o salário mínimo, 130%. Esses números mostram que o problema da habitação é o problema do acesso à terra que esta sujeito à especulação imobiliária. Mesmo com grande produção de habitação, com o Programa Minha Casa Minha Vida, entre 2009 a 2015, o déficit entre as famílias de baixa renda cresceu. Os trabalhadores de baixa renda estão em um beco sem saída, entre morar em edifícios ou áreas de risco, ou terão que morar nas ruas que é uma tragédia humana. E para quem tem filho é um risco muito grande. Uma sociedade que naturaliza as desigualdades e as pessoas vivendo nas ruas é hipócrita e autodestruidora.

 

P. Como surgem os movimentos de moradia nesse contexto?

R. As pessoas não têm renda suficiente nem para pagar um quarto de cortiço ou aluguel em outro tipo de habitação sofrem despejos e para não irem para a rua emergencialmente apelam para a ocupação prédios abandonados – que não cumprem função social conforme estabelecidos pela Constituição Federal - para não ficarem com os filhos nas ruas. Assim, os movimentos de moradia que atuam no centro nascem a partir dessa necessidade com objetivo de lutar coletivamente e solidariamente por justiça social, direito à cidade e direito à moradia digna. As ocupações também são estratégias para denunciar a contradição social do grande número de imóveis abandonados, muitos desses sem pagar IPTU, descumprindo o estabelecido no Estatuto das Cidades, enquanto muitos não têm moradia. É também uma forma de pressionar os órgãos públicos para viabilizar programas habitacionais de interesse social. Sem pressão social não teríamos nenhum programa habitacional no País. Os movimentos tornam uma força coletiva e voz de dezenas de milhares que só não são ouvidos nas ruas reivindicações. Os movimentos de moradia além da luta por direitos são responsáveis pela formulação, elaboração e implementação da maioria dos programas habitacionais existentes no País.

 

P. Quantos movimentos do gênero existem?

R. Na cidade de São Paulo, há mais 100 movimentos sociais de moradia ou grupos organizados pelo direito a moradia com diferentes focos dos problemas habitacionais.

 

P. Mas tem oportunistas no meio...

R. Parte da luta dos movimentos de moradia é que não haja exploração para o acesso à moradia e as suas organizações sejam transparentes, participativas e justas. Como em qualquer segmento da sociedade pode haver pessoas que se aproveitam dessa situação, não cumprindo o que estabelecem os movimentos.

 

P. Você conhecia o MLSM?

R. Eu não tinha contato.

 

P. Educação, saúde, luta contra a corrupção. Tudo isso são reconhecidos como consensos nacionais. Moradia é consenso no Brasil?

R. Não. A moradia no Brasil não é compreendida como um direito humano. Como a moradia gera muito dinheiro, a sua concepção é que se trata de uma mercadoria, onde as pessoas têm acesso conforme a renda. Isso está totalmente errado. A moradia digna é um direito constitucional, então o seu acesso deveria ser tratada como serviço público, assim como é a educação, assistência médica, previdência. A moradia de interesse social deve ser entendida como parte estrutural do acesso de outros direitos e da inserção social. Sem moradia digna é impossível a estruturação familiar, ter saúde, ter educação adequada. Temos que mudar a concepção do acesso à moradia digna. Se é um direito não pode ser tratado como uma mercadoria que você compra conforme sua capacidade financeira. Há muitas experiências em vários países europeus e de outros lugares do mundo, onde as pessoas não acessam a moradia por meio da aquisição da propriedade privada, mas por meio de Programas de Locação Social realizado pelo poder público. A Locação Social pode ser por produção pública de habitação ou por mediação do poder público para acessar moradia no mercado privado. O acesso à propriedade privada é um segundo passo, mas essencial é o acesso a moradia digna.

 

P. Como está a situação do aluguel social em São Paulo?

R. O Programa de Locação Social em São Paulo foi iniciada em 2002 com a resolução aprovada no Conselho Municipal de Habitação. Atualmente há seis empreendimentos públicos onde residem cerca de 1.000 famílias. Também, em 2004, foi aprovada a Resolução da Bolsa Aluguel que é uma forma de possibilitar o acesso da população de baixa renda à moradia no mercado privado por meio de subsídio da prefeitura até a moradia definitiva. Depois a prefeitura criou o Programa de Parceria Social e Programa de Ajuda de Aluguel, devido às exigências estabelecidas pelo Programa do Bolsa Aluguel e fazendo atendimentos aleatórios para situações de remoções e outros interesses. O Programa de Locação Social deve estar articulado com programas de produção habitacional, para que a utilização das unidades seja dinâmicas. O Programa de Locação Social e do Bolsa Aluguel, por apresentarem concepções diferentes dos programas que sempre existiram no Brasil, onde o problema da habitação é considerado solucionado com a entrega da chave e da propriedade. É necessário mudanças nas estrutura pública para a gestão patrimonial, condominial e social. Conheço muitas pessoas e famílias que avançaram socialmente com o acesso ao programa de locação social.

 

P. Um programa de habitação para quem mais precisa teria de ser bancado pelo Estado, pois o empresariado não vai se interessar pelo que não dá lucro. Como se resolve essa equação?

R. Empresas visam lucros, mas os interesses de lucros não podem se sobrepor ao interesse público e ao interesse social. Não pode ser permitida o lucro através da especulação imobiliária, na qual o empresário da construção ganha sem fazer investimentos ou tem ganho devido a de investimentos públicos feitos no entorno pago por toda a sociedade. Deve haver regulamentações para evitar ganhos especulativos. Onde há esse controle é possível maior viabilização de habitação social.

 

P. Mas qual tipo de controle?

R. Em 2003 estive em Turim, e lá havia valores referenciais, teto estabelecido pelo setor público para locação por metro quadrado, conforme as regiões da cidade. Havia controle sobre a questão do valor dos imóveis. No Brasil temos a Constituição Federal e o Estatuto das Cidades que tratam da função social da cidade e da propriedade, que se aplicadas conforme instrumentos previstos permitiria que o poder público tivesse um estoque de terra para produção habitacional. Se houvesse produção massiva de locação social ajudaria para regulação dos valores de alugueis do mercado. Também, como já disse é preciso aplicar o Plano Diretor onde prevê a Cota de Solidariedade e também ver outras formas de assegurar terras para que o poder público possa viabilizar moradias.

 

P. Mas neste contexto atual, com um governo que não pode investir por falta de recursos, de que forma se pode garantir subsídio continuado?

R. Primeiro é preciso que haja maior orçamento para a habitação em todos os níveis do Estado. Ter ou não ter recursos é uma questão de prioridade. Parte do problema da habitação não depende de produção de novas unidades habitacionais, mas melhorias das condições da infraestrutura, serviços públicos ou melhorias das moradias que é mais barato que construir novas moradias. O Estado precisa incentivar que proprietários como por exemplo desconto de impostos para que disponibilizem para locação social. Ele pode por exemplo incentivar cooperativas de habitação, onde grupos se organizam e recebem incentivos para produção de habitação a serem disponibilizados para habitação social. Também é preciso acessar o mercado popular através de financiamento. Não é fácil resolver este assunto, pois é um acúmulo de problemas de muitas décadas. Será preciso somar esforços dos órgãos públicos com os setores populares e da iniciativa privada para buscarem alternativas que seja orientada para a solução da questão social e não para que a habitação social seja mais uma forma de alta lucratividade. Numa cidade como São Paulo, é preciso ter todas as possibilidades funcionando juntos.

 

 

17
Mai18

Na opinião de dois em cada três brasileiros, os direitos humanos defendem mais os criminosos que suas vítimas

Talis Andrade

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Na opinião de dois em cada três brasileiros, os direitos humanos defendem mais os criminosos que suas vítimas. Os dados são de uma pesquisa inédita do instituto Ipsos, obtida pela BBC Brasil.
Embora 63% se digam genericamente "a favor" dos direitos humanos, 21% se manifestam contrariamente à mera existência deles. As conclusões estão na edição 157 da pesquisa Pulso Brasil. O Ipsos entrevistou presencialmente 1,2 mil pessoas em 72 municípios nas cinco regiões brasileiras - as entrevistas foram feitas entre os dias 1º e 15 de abril.

 

A pesquisa também revela um desconhecimento sobre a real aplicação dos direitos humanos no país. Enquanto 94% dos que responderam afirmaram já terem ouvido falar sobre eles, 50% admitem que gostariam de conhecer melhor a questão.

 

"As pessoas são a favor 'conceitualmente' do que elas entendem ser os direitos humanos, e do que elas gostariam que fosse a aplicação deste conceito. Mas, do ponto de vista da realidade concreta, elas acham que hoje tais direitos servem para defender bandidos", diz Danilo Cersosimo, diretor do Ipsos e um dos responsáveis pela pesquisa.
A ideia básica dos direitos humanos é a de que todas as pessoas - sem distinção - têm direito à vida, à liberdade, à integridade física, à saúde, à moradia, alimentação, liberdade de expressão etc.

 

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Trata-se de um conceito muito antigo no Ocidente: a maioria dos teóricos considera que a primeira declaração formal dos DH do mundo seja a Declaração de Direitos de Virgínia, escrita nos EUA em 1776. O documento mais famoso, porém, é a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ratificada na Revolução Francesa de 1789. Leia mais

 

O que são direitos humanos e por que há quem acredite que seu propósito é a defesa de 'bandidos'?

 

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16
Mai18

Childish Gambino This Is America/ Esta é a América legendado em português

Talis Andrade

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Esta é a América


Sim, sim, sim, sim, sim
Sim, sim, sim, vá embora, vá embora
Sim, sim, sim, sim, sim
Sim, sim, sim, vá embora, vá embora
Sim, sim, sim, sim, sim
Sim, sim, sim, vá embora, vá embora
Sim, sim, sim, sim, sim
Sim, sim, sim, vá embora, vá embora

 

Nós só queremos festejar
Festejar só pra você
Nós só queremos o dinheiro
Dinheiro só pra você
Sei que você quer festejar
Festejar só pra mim
Garota, você me fez dançar
Dance e agite o corpo

 

Nós só queremos festejar
Festejar só pra você
Nós só queremos o dinheiro
Dinheiro só pra você
Sei que você quer festejar
Festejar só pra mim
Garota, você me fez dançar
Dance e agite o corpo

 

Esta é a América
Não escorregue, cara
Não escorregue, cara
Olha o que eu tô fazendo
Esta é a América
Não escorregue, cara
Não escorregue, cara
Olha o que eu tô fazendo

 

Esta é a América
Não escorregue, cara
Veja como tô vivendo agora
A polícia tá viajando agora
Sim, esta é a América
Armas na minha quebrada (fala, minha quebrada)
Eu peguei a pistola
Então tenho que carregá-la

 

Sim, sim, vou entrar nessa
Sim, sim, isso é guerrilha, woo
Sim, sim, vou pegar a bolsa de grana
Sim, sim, ou eu vou comprar a casa
Sim, sim, eu tenho tantos diamantes tipo, é (é)
Eu sou tão foda tipo, é
Vamo fumar tipo, é (fumaça pra cima, uh)

 

Ooh-ooh-ooh-ooh-ooh, diga a alguém
Vá dizer a alguém
Vovó me disse
Conquiste seu dinheiro, homem negro (conquiste seu dinheiro)
Conquiste seu dinheiro, homem negro (conquiste seu dinheiro)
Conquiste seu dinheiro, homem negro (conquiste o seu, homem negro)
Conquiste seu dinheiro, homem negro (conquiste o seu, homem negro)
Homem negro

 

Esta é a América (woo!)
Não escorregue, cara (woo, woo, não escorregue, agora)
Não escorregue, cara
Olha só o que eu tô fazendo (grana!)
Esta é a América (é, é)
Não escorregue, cara
Não escorregue, cara
Olha só o que eu tô fazendo

 

Olha como eu tô me drogando
Eu sou tão estiloso (tão estiloso)
Estou de Gucci
Eu sou tão bonito (é, é)
Eu vou conseguir (ei, vou conseguir)
Preste atenção em mim
Isso aqui é um celular
Isso aí é uma arma
Gravo tudo com a minha câmera Kodak (woo, Black)
Ooh, saiba disso (sim, saiba disso, peraí)
Entendeu? (Sacou? Sacou?)
Ooh, manda ver (21)
Notas de cem, notas de cem, notas de cem (notas de cem)
Contrabando, contrabando, contrabando (contrabando)
Eu tenho um traficante em Oaxaca
Eles vão te achar com um tiro

 

Ooh-ooh-ooh-ooh-ooh, diga a alguém
(América, eu chequei minha lista de seguidores e)
Vá dizer a alguém
(Vocês me devem, seus filhas da puta)
Vovó me disse
Conquiste seu dinheiro, homem negro (homem negro)
Conquiste seu dinheiro, homem negro (homem negro)
Conquiste seu dinheiro, homem negro (homem negro)
Conquiste seu dinheiro, homem negro (homem negro)
Homem negro

 

1, 2, 3, vambora!
Ooh-ooh-ooh-ooh-ooh, diga a alguém
Vá dizer a alguém
Vovó me disse
Conquiste seu dinheiro, homem negro (homem negro)
Conquiste seu dinheiro, homem negro (homem negro)
Conquiste seu dinheiro, homem negro (homem negro)
Conquiste seu dinheiro, homem negro (homem negro)
Homem negro

 

Você é apenas um cara negro neste mundo
Você é apenas um código de barras, ayy
Você é apenas um cara negro neste mundo
Dirigindo pra gringos ricos, ayy
Você é apenas um grande irmão, sim
Eu acorrentei ele no quintal
Provavelmente não é vida pra um cachorro
Pra um cachorro grande




12
Mai18

Brasil tem 6,9 milhões de famílias sem casa e 6 milhões de imóveis vazios

Talis Andrade

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Edésio Fernandes: 'É importante que a lei determine onde o pobre vai viver'

 

por Fernanda Odilla, Nathalia Passarinho e Luís Barrucho

Da BBC Brasil em Londres

 

O desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, que pegou fogo e foi ao chão no centro de São Paulo, não apenas escancarou o problema do déficit habitacional no Brasil como jogou luz sobre a situação dos imóveis vazios que, mesmo sem condições adequadas, atraem milhares de pessoas em busca de teto.


O país tem, pelo menos, 6,9 milhões de famílias sem casa para morar. Tem também cerca de 6,05 milhões de imóveis desocupados há décadas.


Esse descompasso, que já havia sido indicado pelo Censo de 2010, tem motivado uma onda de ocupações e invasões em uma escala jamais vista no país, diz o urbanista Edésio Fernandes, professor de direito urbanístico e ambiental da UCL (University College London).

 

"A diferença das ocupações tradicionais está no volume. Não se sabe quantas pessoas vivem dessa forma, sem falar das práticas precárias de aluguel e o surgimento dos cortiços, sobretudo nas áreas centrais, agravado pelo crescimento da população de rua", diz Fernandes, pontuando que as novas ocupações são maiores que muitos municípios brasileiros em termos populacionais.


O professor cita como exemplo dessa nova onda a ocupação batizada de Izidora, em Belo Horizonte. Formada por três vilas interligadas (Esperança, Rosa Leão e Vitória), Izidora reúne 30 mil pessoas numa área de cerca de 900 hectares ocupada a partir de 2013. Fernandes cita também a ocupação Povo Sem Medo, de São Bernardo, que em uma semana já tinha reunido 6 mil pessoas no ano passado.

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O professor Edésio Fernandes afirma que famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos representam 93% do déficit habitacional do Brasil

 

Fernandes diz que o problema é a falta de leis para definir onde os mais pobres vão morar. "Não há planejamento e pensamento sobre onde vão viver os pobres. (...) Os centros de cidades estão perdendo população, mas o lugar dos pobres é cada vez mais a periferia", afirma o professor, que é membro da Development Planning Unit da UCL.
Para resolver esse problema, diz Fernandes, a solução não passa apenas por facilitar a aquisição de propriedades para quem tem baixa renda. Ele defende uma mescla de políticas públicas, que incluem também propriedades coletivas, moradias subsidiadas e auxílio-aluguel como medidas necessárias para acabar com o déficit habitacional, que é maior entre famílias que têm renda entre zero e três salários mínimos - cerca de 93% dos 6,9 milhões de famílias sem teto têm renda de até R$ 2,8 mil.


Cotas sociais e raciais para moradia

 

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'Em nenhum momento estamos pensando em política urbana a partir da questão racial', diz a arquiteta e urbanista Joice Berth

 

É por isso que a arquiteta e urbanista Joice Berth defende reservar cotas habitacionais em espaços com mais infraestrutura para negros.


"A gente precisa desfazer o modelo de casa grande e senzala", afirma Berth, dizendo que bairros como Pinheiros e Itaim Bibi, em São Paulo, são bairros mais brancos e com maior renda "onde a negritude não pode estar".


A arquiteta pontua que "brancos e pretos pobres se parecem, mas não são iguais". Por isso, ela defende cotas não apenas em programas de aquisição de imóveis em conjuntos habitacionais, mas também uma política que garanta acesso direto à terra aos negros.

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Para o arquiteto francês Philippe Rizzotti, o edifício Wilton Paes de Almeida, que pegou fogo na capital paulista, era um 'dos marcos da arquitetura'

 

Ela também acredita que está na hora de radicalizar as pautas. "Até porque com o advento das cotas (na educação) temos pessoas com novo olhar", observa.
Em relação às ocupações, Berth diz que a solução pode passar por reformar esses imóveis e manter os moradores que lá estão.
O professor Edésio Fernandes, no entanto, observa que o "Brasil não tem tradição nem know how" para transformar imóveis comerciais em residenciais, e isso pode encarecer e dificultar essa conversão. "Faltam tradição e tecnologia", salienta.

 

Perversidade


Fernandes observa ainda que programas como o Minha Casa Minha Vida (MCMV) deixaram a desejar. Na avaliação dele, além de não atender com prioridade a população com renda mais baixa, o MCMV oferece imóveis de baixa qualidade construtiva e ambiental.
O professor lembra, no entanto, que o Brasil não é o único país a enfrentar dificuldades para manter uma política habitacional de qualidade. Fernandes cita o incêndio consumiu Grenfell Tower, prédio de 127 apartamentos para pessoas de baixa renda em Londres, que usou material de baixa qualidade e inflamável em uma reforma antes da tragédia que matou 71 pessoas.

 

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Em Londres, incêndio consumiu Grenfell Tower, prédio de 127 apartamentos para pessoas de baixa renda, reformado com material de baixa qualidade e inflamável

 

Ele também compara o incêndio da torre britânica com o do prédio do centro de São Paulo. "Os dois incêndios revelam muito mais do que a falência de um modelo e de uma política, revelam a perversidade dessa forma de se fazer cidade e moradia", afirma.
A falência, acredita Fernandes, também se estende ao sistema de representação política e reflete a falta de mobilização da sociedade para demandar seus direitos.
"Sobretudo, é a falência da nossa história de não confrontar a estrutura fundiária, segregada e privatista", diz.
Fernandes e Berth conversaram com a BBC e defenderam mudanças na política habitacional brasileira no sábado, durante palestra no Brazil Forum UK, evento organizado por estudantes brasileiros no Reino Unido.

 


Decisão do STF faz gasto com moradia de juízes e procuradores crescer 20 vezes em 3 anos Lei aqui 

02
Fev18

Juízes tomam Brasília em defesa de seus auxílios-moradias e privilégios

Talis Andrade

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 Os marajás de terno inglês e gavata italiana unidos pelas mamatas 

 

Por Fernando Brito, no Tijolaço– Prepare-se para assistir, hoje, um grande e insólito espetáculo, que a jornalista Isabella Souto descreveu, n’O Estado de Minas, com bela ironia:

 

Juízes, desembargadores, procuradores e promotores de Justiça prometem invadir Brasília, nesta quinta-feira, em defesa de seus “direitos e garantias” e em nome da “autonomia” da categoria. Trocando em miúdos: vão manifestar o descontentamento com projetos em tramitação no Congresso Nacional que impõem limites aos salários acima do teto constitucional e desvinculam a remuneração dos agentes públicos, além da Reforma da Previdência e a discussão judicial que pode acabar com o auxílio-moradia mensal de R$ 4.373,77.
 
 
O “grito dos privilegiados” reúne caravanas de todo o país, articuladas pelas entidades representativas do Judiciário e do Ministério Público. Algumas delas vão custear as viagens de seus associados, como, por exemplo, a Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis). O sorteio para definição dos participantes foi realizado no último dia 23 e os sete agraciados terão passagens aéreas de ida e volta custeadas pela entidade. A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) vai ajudar a pagar a viagem de 100 juízes.
 
 
Que não se diga que são “mortadelas” como chamam aos trabalhadores que vão reivindicar direitos, são “presuntos de Parma”, talvez.
 
 
Aliás, algo me diz que as corporações ainda vão chorar lágrimas de sangue nos seus lenços de linho, porque – cumprido o papel de por uma mordaça eleitoral no povo brasileiro, suas asas serão podadas pela mídia.
 
 

 

10
Nov17

ESTUPRO o rito de passagem das meninas do Brasil

Talis Andrade

O Brasil de milhões e milhões de crianças abandonadas. Que os pais que trabalham não têm tempo para ficar com os filhos, nem tempo para lazer, nem tempo sequer para descanso. 

 

Não existem creches e as sucatadas escolas públicas ameaçam fechar.

 

As cidades não oferecem espaços para as crianças. E num país da tradição do incesto, que não é crime, e da cultura do estupro, a história de uma infância tem como rito de passagem uma ocorrência policial.

 

Registra a imprensa hoje 

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Mãe vai denunciar estupro da filha e acaba detida
Mulher contou que deixa os filhos sozinhos em casa para trabalhar, e vai responder por abandono

 

por Luciene Câmara


Uma empregada doméstica de 35 anos deixou o filho de 6 anos sozinho em casa para registrar uma ocorrência de estupro contra a filha dela de 12 anos, na noite dessa quarta-feira (8), em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Na tarde do abuso sexual, a mãe havia saído para trabalhar e deixado as duas crianças em casa, sem a presença de um adulto. Resultado: ela saiu presa do batalhão da Polícia Militar (PM) e só foi liberada depois de ser ouvida por um delegado e indiciada por crime de abandono de incapaz. Já o autor do estupro foi identificado, mas até agora não foi localizado.

 

O estupro teria ocorrido por volta das 14h30 do dia 26 de outubro, quando a garota de 12 anos estava sozinha em casa com o irmão. Dois dias depois, ela contou para a mãe que recebeu no local um rapaz de 20 anos que ela conheceu em uma festa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

 

A menina se mostrou constrangida e estava com ferimentos nas partes íntimas. Por conta própria, a mãe comprou remédios para curar as lesões, mas, com o passar dos dias, ficou assustada com a gravidade da situação e procurou o pai da vítima, com quem não mantém relacionamento conjugal. Os dois foram ao batalhão da PM registrar a ocorrência, junto com a garota.

 

Durante a conversa com os policiais, a mulher relatou, por inocência, que precisava ir logo embora, pois o filho estava filho sozinho em casa. Por fim, a menina foi encaminhada para um hospital, e a mãe foi informada da prisão e levada para a delegacia de plantão. 

 

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Milhões e milhões de crianças residem abandonadas em miseráveis casebres de chão batido, com um único e apertado compartimento que amontoa um pequeno fogão, uma pequena mesa, um coxão, talvez uma rede. Não existe janela. A única vantagem é ter uma porta. Porta que a polícia derruba, quando entra nas favelas atirando.

 

O pobre sempre mora em local de alto risco.

 

  

 

 

 

 

 

16
Set17

A mulher é uma construção, Angélica Freitas

Talis Andrade

 

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a mulher é uma construção
deve ser
a mulher basicamente é pra ser
um conjunto habitacional
tudo igual
tudo rebocado
só muda a cor
particularmente sou uma mulher
de tijolos à vista
nas reuniões sociais tendo a ser
a mais mal vestida
digo que sou jornalista

 

(a mulher é uma construção
com buracos demais

 

vaza
a revista nova é o ministério
dos assuntos cloacais
perdão
não se fala em merda na revista nova)
você é mulher
e se de repente acorda binária e azul
e passa o dia ligando e desligando a luz?
(você gosta de ser brasileira?
de se chamar virginia woolf?)

 

a mulher é uma construção
maquiagem é camuflagem

 

toda mulher tem um amigo gay
como é bom ter amigos

 

todos os amigos tem um amigo gay
que tem uma mulher
que o chama de fred astaire

 

neste ponto, já é tarde
as psicólogas do café freud
se olham e sorriem

 

nada vai mudar -
nada nunca vai mudar -

 

a mulher é uma construção

16
Set17

Juliana Amato

Talis Andrade

JAmato.jpg

 

hace um año que te fuiste
tan pronto irás, una vez más

 

neste exato momento me vejo num quarto
fechado
frestas abertas, a janela
você ainda criança atrás da cortina
observa

 

você, observo seu olhar
compreende:
não existe mãe no brasil
não existe casa, essa casa, aqui

 

 

há o futuro e há tudo
há milhares de rochas
pedras pontiagudas
traiçoeiras

 

pensa na sua casa
sua casa tão longe, aqui,
uma pedra quente
e lisa

 

 

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