Bolsonaro apoia protestos no Twitter e em Brasília em meio à crise do coronavírus
BBC
Embora esteja em monitoramento recomendado pelo ministério da Saúde e ainda deva ser submetido a um segundo teste para a detecção do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro deixou a residência oficial do Palácio da Alvorada neste domingo (15) e interagiu com manifestantes que o esperavam do lado de fora do Palácio do Planalto.
Bolsonaro estava separado de seus apoiadores por uma grade e cercado por integrantes de sua equipe. Ele esticou o braço para tocar nos manifestantes e manuseou o celular de alguns deles para fazer 'selfies'.
O presidente está sendo monitorado mesmo depois de seu teste para o coronavírus ter dado negativo. Seu secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, foi diagnosticado com o novo vírus depois de participar da comitiva do governo que viajou nesta semana para a Flórida, nos Estados Unidos, para uma série de compromissos. Ele viajou junto com o presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com a TV Globo, a recomendação de fazer um novo teste foi feita pelo próprio ministro da Saúde no dia 13 de março, um dia depois de o primeiro teste a que Bolsonaro foi submetido dar resultado negativo. "Monitora-se contatos de acordo com os sintomas. Se tiver febre etc, desloca-se à unidade de saúde", afirmou o ministro, na ocasião.
Bolsonaro deve refazer o teste nesta semana. O protocolo prevê que esse exame seja realizado em até sete dias e antecipado se surgirem sintomas.
Na semana passada, em uma transmissão pela internet na quinta-feira (12), Bolsonaro apareceu de máscara ao lado de Mandetta e afirmmou que seus apoiadores deveriam repensar as manifestações deste domingo, por causa do coronavírus. "Nossa saúde e de nossos familiares devem ser preservadas", afirmou ele na transmissão.
Na sexta-feira (13), o Ministério da Saúde recomendou o cancelamento ou adiamento de eventos com grande participação de pessoas, em orientação que foi apresentada junto com um conjunto de medidas a gestores estaduais e municipais de saúde em reunião virtual. Outra recomendação contrariada pelo presidente é que pessoas acima de 60 anos evitem contato social.
De acordo com o órgão, as autoridades locais devem estimular que eventos — sejam eles, governamentais, artísticos, científicos ou comerciais — não ocorram nesse período. Caso não seja possível cancelar o evento, a recomendação é que não haja público.
Depois de interagir com os manifestantes pessoalmente em frente ao Planalto, Bolsonaro saiu de carro e passou pelo ponto onde ocorria o ato, no Eixo Monumental. Ele não parou o carro nem desceu para a rua, segundo o portal G1.
Presidente vê "histeria" e "neurose"
Em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro comentou sua participação nas manifestações. "O povo se aglomerou na frente e eu fui conversar com o povo", disse, acrescentando que sabe que as aglomerações criam um risco "seríssimo" de transmissão do vírus. "Agora é uma realidade: você vê os metrôs cheios, os ônibus cheios, estádios de futebol. O carnaval foi uma coisa inacreditável o que aconteceu. É um vírus que você vai ter que enfrentar mais cedo ou mais tarde. Temo pelo pior sim. Mas não porque alguns querem irresponsavelmente colocar a culpa em mim", disse, em referência indireta às críticas que recebeu do presidente do Congresso Nacional, David Alcolumbre.
Em nota, Alcolumbre disse ser inconsequente estimular aglomerações de pessoas na ruas, cobrou responsabilidade do presidente e disse que convocar manifestações contra o Congresso é confrontar a democracia. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também criticou a atitude do presidente. "O que nos preocupa, o que nos deixa em perplexidade é o presidente participando desses atos. Num momento onde se pediu, na sexta-feira, que não houvesse aglomerações, o próprio presidente desautoriza o seu ministro da Saúde", declarou à TV Globo.
Bolsonaro, em resposta, disse na entrevista que gostaria que os dois saíssem às ruas como ele. "Devemos ser quase que escravos da vontade popular. Respeito os dois, espero que não queiram partir para algo belicoso depois dessas minhas palavras aqui. Agora, prezados, saiam às ruas e vejam como são recebidos. Os acordos não têm que ser entre nós em gabinetes, têm que ser entre nós e o povo", afirmou.
O presidente minimizou o efeito de sua saída do monitoramento. "Muitos pegarão isso independente dos cuidados que tomem, isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Não podemos entrar em uma neurose como se fosse o fim do mundo. Outros vírus mais perigosos aconteceram no passado e não tivemos essa crise toda. Com toda certeza há um interesse econômico nisso tudo para que se chegue a essa histeria". Transcrevi trechos