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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

16
Jun20

Depois de Aroeira e Noblat, Secom ataca Mônica Bergamo

Talis Andrade

 

A Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro (Secom) usou as redes sociais nesta terça-feira (16) para atacar a jornalista Mônica Bergamo, que fez uma simples pergunta:

Governo que investiga charge de humor é o quê?

O desconhecido secretário de imprensa do presidente Bolsonaro subiu nas tamancas:

“A abordagem desta jornalista é um desrespeito aos brasileiros e à memória das vítimas de regimes totalitários e genocidas como nazismo, fascismo e socialismo”, afirmou a Secom.

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aroeira nazista bolsonaro.jpeg

Disse mais o anexo do Gabinete do Ódio:

SecomVc
@secomvc
 
Acusar alguém inocente (no caso, um Governo e seu chefe) de um dos crimes mais graves da História não é humor, é crime. Sátira política é uma coisa, calúnia é outra, mesmo que sob o disfarce do “humor”.
Quote Tweet
Mônica Bergamo
@monicabergamo
·
Governo que investiga charge de humor é o que? www1.folha.uol.com.br/poder/2020/0
 

 

 

16
Jun20

Assine e compartilhe o manifesto em defesa de Aroeira e da liberdade de expressão

Talis Andrade

 

Artistas e intelectuais lançaram um manifesto em defesa do cartunista Renato Aroeira, após o governo Jair Bolsonaro, por meio do ministro da Justiça, André Mendonça, pedir à Polícia Federal um inquérito com o objetivo de investigar uma charge em que uma cruz vermelha de um hospital é transformada em suástica, símbolo do nazismo. 

De acordo com o manifesto, "ao dizer que um desenho de humor leva perigo à integridade do Estado, o ministro expressa um delírio fanático e alimenta as fantasias totalitárias dos criminosos que promovem ataques crescentes contra a democracia no Brasil". Abaixo o autoritarismo

Nós, artistas, escritores, jornalistas, cientistas e professores, que não podemos viver e trabalhar sem democracia e liberdade, repudiamos frontalmente a declaração do Sr. Ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, que ameaçou instaurar inquérito contra o grande artista gráfico Renato Aroeira. 

O ministro viu ameaças à "segurança nacional" (sic) numa charge em que Aroeira ironiza as falas do Presidente da República incitando seus seguidores a invadirem e filmarem hospitais. Ao dizer que um desenho de humor leva perigo à integridade do Estado, o ministro expressa um delírio fanático e alimenta as fantasias totalitárias dos criminosos que promovem ataques crescentes contra a democracia no Brasil.

Não aceitamos mais delírios obscurantistas. Não aceitamos intimidações. Abaixo o autoritarismo. 

E amparados no Artigo Quinto da Constituição Brasileira, dizemos "não" à censura, em solidariedade ao artista Renato Aroeira e ao jornalista Ricardo Noblat, que postou a charge em seu “Blog do Noblat”. 

14
Jun20

Gilmar Mendes diz que incentivar invasão de hospitais é crime

Talis Andrade

Brasilien Oberstes Wahltribunal in Brasilia - Gilmar Mendes (Getty Images/I. Estrela)

 

Fala de ministro do STF ocorre depois de Bolsonaro pedir que apoiadores filmassem interior de unidades de saúde. Filho do presidente reage e chama Gilmar de "doente mental”. PGR pede que invasões sejam investigadas

por Deutsche Welle

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) afirmou neste domingo (14/06) que estimular a invasão de hospitais em meio à pandemia é um crime e pediu que o Ministério Público tome medidas contra quem defender essa prática.

A declaração do ministro ocorre dois dias após o presidente Jair Bolsonaro pedir para que seus apoiadores "arranjassem uma maneira de entrar" em hospitais públicos e filmassem as alas para verificar se os leitos estão livres ou ocupados. A fala de Bolsonaro, transmitida em uma live na quinta-feira, provocou repúdio entre médicos e autoridades estaduais e municipais.

Em mensagem no Twitter, Gilmar afirmou que "invadir hospitais é crime – estimular também”. "É vergonhoso - para não dizer ridículo - que agentes públicos se prestem a alimentar teorias da conspiração, colocando em risco a saúde pública”, escreveu o ministro, que pediu ainda que o Ministério Público tome providências.

Gilmar Mendes
@gilmarmendes

Invadir hospitais é crime - estimular também. O Ministério Público (a PGR e os MPs Estaduais) devem atuar imediatamente. É vergonhoso - para não dizer ridículo - que agentes públicos se prestem a alimentar teorias da conspiração, colocando em risco a saúde pública.

Nos últimos meses, Bolsonaro tem travado um embate com autoridades estaduais e municipais sobre a forma de gerir a pandemia de coronavírus. O presidente vem contestado, sem provas, os números de mortes e de casos. Na live de quinta-feira, ele afirmou, sem provas, de que o governo vem recebendo informações de que o número de mortes vem sendo inflado para "prejudicar o governo federal"

Nas redes sociais, contas ligadas à família do presidente também têm alimentado teorias conspiratórias de que os hospitais do país estão vazios, o que mostraria que a situação não seria tão grave.

Na última sexta-feira, após a fala de Bolsonaro, o Hospital Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro, registrou um tumulto quando parentes de um paciente recém-falecido tentaram invadir uma ala do prédio para verificar a ocupação. Um médico relatou ao jornal O Globo que os envolvidos no tumulto citaram o pedido do presidente. No sábado, um grupo de deputados estaduais do Espírito Santo fez uma visita surpresa a um hospital no munícipio de Serra.

No início de junho, o hospital de campanha do Anhembi, em São Paulo, também havia sido alvo de uma ação semelhante por parte de cinco deputados estaduais. Na ocasião, os deputados fizeram lives em suas redes sociais, questionando se havia  leitos ociosos no local. A atitude foi condenada pela prefeitura, que afirmou que os parlamentares estavam "tentando enganar a opinião pública”.

Após os episódios, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu uma investigação sobre invasão a hospitais e agressões a profissionais de saúde nas últimas semanas. Pelo pedido de Aras, os procedimentos vão depender do Ministério Público em cada Estado.

"Indubitavelmente, condutas dessa natureza colocam em risco a integridade física dos valorosos profissionais que se dedicam, de forma obstinada, a reverter uma crise sanitária sem precedentes na história do país", afirmou Aras, em ofício ao Ministério Público de São Paulo.

Ainda neste domingo, após a reação de Gilmar Mendes, o vereador Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente e que é suspeito de coordenar o chamado "Gabinete do Ódio” - uma rede de propagação de ataques e fake news -, atacou o ministro. Sem citar Gilmar nominalmente, ele afirmou: "Só um bandido ou um doente mental para minimamente crer que o Presidente incentivou invasão a hospitais”.

Em mensagem no Twitter, Carlos ainda disse tudo que o presidente só teria estimulados os cidadãos a cumprir "seu direito de fiscalizar os gastos públicos”.

Carlos Bolsonaro
@CarlosBolsonaro

Só um bandido ou um doente mental para minimamente crer que o Presidente incentivou invasão a hospitais ao invés de entender que o citado foi para que cidadãos cumpram seu direito de fiscalizar os gastos públicos!

Também neste domingo, o líder da Oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ), informou que pretende apresentar uma notícia-crime na PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente Bolsonaro por causa da fala sobre os hospitais.

 

14
Jun20

Os profissionais de saúde no front da pandemia temem as hordas invasivas de Bolsonaro

Talis Andrade

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II - Relato da invasão a hospitais estimulada por Bolsonaro 

Os profissionais de saúde temem que a prática de invadir hospitais para filmar os locais se torne comum, após as declarações de Bolsonaro. Nesta sexta-feira, segundo relatos do jornal O Globo, houve uma invasão no hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, no Rio de Janeiro.

"Essa fala dele faz com que muitas pessoas deixem de acreditar nos profissionais de saúde. Quando o mandatário do país, que teoricamente teria as melhores informações, pede para as pessoas invadirem os hospitais, gera desconfiança em muitos. Muitos podem acabar acreditando nessa bobagem que ele fala", afirma o médico intensivista José Albani de Carvalho, que atua em UTIs de quatro hospitais públicos de São Paulo.

Albani frisa que há grandes riscos de contaminação para as pessoas que entram em hospitais sem os devidos equipamentos de proteção. "Para uma pessoa entrar na UTI ou em enfermarias para pacientes com a covid, é preciso saber que todos os pacientes estão infectados. Os profissionais de saúde têm contato com esses pacientes estão devidamente paramentados com óculos, proteção facial, máscaras específicas e roupas adequadas", ressalta.

"Uma pessoa que entra sem a devida proteção pode ser infectada e sair disseminando ainda mais o vírus", acrescenta o especialista. Ele classifica a declaração de Bolsonaro como uma "tremenda imbecilidade".

Carla também cita os riscos sanitários ao invadir uma área destinada a pacientes com a covid-19 sem os devidos aparatos. "Os deputados, por exemplo, queriam entrar sem proteção. Foi necessário muita discussão até que eles usassem algo. O hospital é o local em que as pessoas estão em estado grave e a disseminação do vírus é muito grande, por isso muitos profissionais da saúde estão sendo infectados", diz.

Ela admite que está com medo de que o hospital de campanha seja alvo de nova invasão nos próximos dias. "Com o incentivo do presidente, essa situação pode se repetir. É assustador pensar nisso. É como se todos os dias houvesse o risco de vivermos aquela situação de novo. Não queria ter passado por um momento tão constrangedor como aquele. Nos sentimos desrespeitados. Foi totalmente desagradável. Ficamos sem saber o que fazer", declara.

"Os profissionais de saúde estão lá para cuidar dos pacientes. As questões políticas não devem ser tratadas dentro do hospital", diz Carla.

 

13
Jun20

Relato da invasão a hospitais estimulada por Bolsonaro

Talis Andrade

Leticia Aguiar (PSL), Marcio Nakashima (PDT), Adriana Borgo (Pros), Neri (Avante) e Telhada 

 

‘Ele está incentivando a baderna’: o desabafo de enfermeira após Bolsonaro pedir que seguidores invadam hospitais

 

20
Mar20

Profissionais relatam precariedade contra coronavírus no SUS: “Paciente fica exposto, e nós também”

Talis Andrade

"Os médicos vão começar a se contaminar agora, porque não há isolamento real nas unidades e não temos proteção de fato"

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por Joana Oliveira

El País

“Está tudo bem errado. A gente não consegue notificar os casos suspeitos, é tudo subnotificado. Os médicos vão começar a se contaminar agora, porque não há isolamento real nas unidades e não temos proteção de fato. O paciente fica exposto, e nós também”. O relato é de Suzana (nome fictício), uma clínica geral que atua em duas Unidades de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) no SUS de São Paulo em meio à pandemia de coronavírus. Como outros médicos e enfermeiros ouvidos pelo EL PAÍS, ela, que prefere manter o anonimato, reclama da falta de cuidado com a saúde desses profissionais, principalmente na rede pública. Suzana está há quatro dias afastada do trabalho e tentando fazer o teste do coronavírus, o que parece ser uma missão impossível, apesar de ser uma profissional da área. “Internei um paciente com a Covid-19 e comecei a sentir sintomas leves. Recebi atestado e fui para casa, mas não fiz o exame. Sequer fui notificada como caso suspeito”, conta ela.

A médica recorreu ao plano de saúde privado para fazer o teste, mas, mesmo explicando que trabalha em pronto-socorro, não conseguiu. “Só estão testando pacientes internados e em estado grave. Também procurei o SUS e, na hora da notificação, que é quando se autoriza o teste, o sistema não funcionou. Isso tem acontecido rotineiramente", lamenta. (Continua)

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18
Mar20

Estado mínimo: cobertor mais curto para coronavírus

As autoridades agora terão que fazer a chamada “escolha de Sofia” diante do crescimento da procura

Talis Andrade

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por Marcelo Auler

 

Em condições normais de pressão e temperatura, a crise provocada pelo coronavirus provoca dificuldades em qualquer sistema de saúde pública. No Brasil tais dificuldades tendem a aumentar, apesar de termos o Sistema Unificado de Saúde – SUS, que em muito nos ajudará.

A política neoliberal do Estado Mínimo, adotada a partir de 2016 no governo de Michel Temer e que o desgoverno de Jair Bolsonaro continua abraçando, via o ministro da Economia Paulo Guedes, nos causará problemas bem maiores.

Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, na expectativa de atender às futuras vítimas do coronavírus, as autoridades da saúde programam suspender diversos atendimentos médicos essenciais – como hemodiálises e transplantes renais – que funcionam, de forma já precária, no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), no Rio de Janeiro. Ou seja, com um cobertor curto, o estado corre o risco de, ao tentar salvar pacientes da pandemia, deixar ao desabrigo outros doentes crônicos.

É verdade que esta “escolha de Sofia” também ocorreu em outros países, como a China e a Itália. Vítimas mais idosas deixaram de ser atendidas, dando as vagas nos leitos de UTIs para os mais novos. Mas a situação brasileira agrava-se pelo descaso a que foi relegada a saúde pública nos últimos anos.

Bem próximo do Hospital Federal de Bonsucesso está, por exemplo, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, na ilha do Fundão. Ele já vem sendo preparado para atender nessa crise de coronavírus. Muito embora ainda precise também de investimentos para ampliação do número de leitos. Não é o único caso na região de hospital com capacidade ociosa, por falta de investimentos.

Como bem lembrou Helena Chagas, em artigo nos sites Divergentes e Brasil 247 – Vírus rico e vírus pobre – nada será como antes – “Se há alguma coisa que o coronavírus parece estar ensinando ao mundo é que o Estado é mais necessário do que muita gente pensava”. Necessário e essencial, desde que funcione a contento. O que já não ocorre entre nós há algum tempo. Por isso, agora, na crise, o prejuízo tende a ser muito maior.

A situação dos hospitais federais do Rio, entre os quais o de Bonsucesso sempre teve posição de destaque, reflete a devastação clara que a política neoliberal provocou na saúde pública. Afinal, estes mesmos hospitais federais, até dezembro de 2017, davam cobertura a 70% da população da cidade do Rio de Janeiro, segundo consta de documento assinado por dez entidades sindicais de trabalhadores no sistema de saúde em geral.

paulo guedes rentista .jpg

 

Trata-se da mesma política que o ministro da Economia, Paulo Guedes, insiste em enfatizar ao, em pleno início de uma crise sem precedente, defender suas pretensas reformas para reduzir o tamanho do estado. O que soa basicamente até como uma espécie de chantagem.

De 2017 para cá, estes hospitais sofreram constantes perdas de profissionais provocadas pela corrida à aposentadoria. Consequência direta do anúncio de outra reforma neoliberal, a da Previdência. Tentada no governo de Michel Temer e executada em 2019, já sob a gestão de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, sem levar em conta os interesses dos trabalhadores.

Foram profissionais que saíram sem serem substituídos. Ainda de acordo com a cartilha neoliberal, em nome do corte de despesas do governo, a bandeira do estado mínimo prevaleceu. Deixaram de convocar os concursos necessários para o preenchimento das vagas abertas.

“O HFB e os demais hospitais da rede federal do Rio estão há anos judicializados devido à falta de recursos humanos suficiente sequer para o funcionamento normal”, lembra Carlos Vasconcellos, diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.

O preenchimento de vagas em aberto vem sendo pleiteado inclusive por meio de Ações Civis Públicas. Foram iniciativas do Ministério Público Federal, no Rio. Visam o preenchimento dos cargos existentes apenas para o funcionamento normal do hospital, com seus atendimentos especializados. Não previam, como não poderia ser, a criação de outro serviço, como o que se impõe com a crise do coronavírus.

Mesmo com um quadro de pessoal incompleto na rede federal do Rio, no último dia 15, Marcelo Lambert, diretor de Programa do Ministério da Saúde, no Rio, anunciou o fechamento de um pavilhão inteiro do HFB, onde ocorrem atendimentos especializados importantes, para destiná-lo ao atendimento exclusivo de pacientes com coronavírus.

Neste Pavilhão, segundo descrição feita em ofício assinado pelo secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores no Combate às Endemias e Saúde Preventiva no Estado do Rio de Janeiro (SINTSAÚDE-RJ),  Sandro Alex de Oliveira Cezar (íntegra abaixo), funcionam serviços importantes que deixarão de ser prestado, tais como: Nefrologia Clínica; Transplante Renal; Hemodiálise; Diálises Peritoneal e Pediátrica; CTI; Cirurgia Vascular; Ortopedia; Clínica Médica; Pneumologia; Hematologia; Endocrinologia; Endoscopia Digestiva; Unidade Coronariana; Eletrocardiograma; Ecocardiograma adulto e pediátrico; Cirurgia Torácica; Cirurgia Cardíaca; Serviço de Cabeça e Pescoço; Urologia; Neurocirurgia; Otorrinolaringologia e Oftalmologia.

O ofício do SINTSAÚDE-RJ é dirigido à Procuradoria da República no Rio, pedindo providências para que não fechem “nenhuma unidade de saúde no Estado do Rio de Janeiro, em especial no caso do Hospital Federal de Bonsucesso”. Defende que “a União possa, de imediato e com a urgência que o tema requer, tomar providências para recompor a força de trabalho dos hospitais federais”. Também requer que se “possibilite a abertura de novos leitos e que, supletivamente, se for necessário lance mão de leitos da rede privada de saúde, nos exatos termos da portaria que regulamenta as ações de enfrentamento da Doença do COVID 19”.

Comunidades cobram

“Eles desmontam um hospital referência de atendimento no subúrbio e depois, onde ficam esses doentes de outras moléstias e traumas?”, questiona João Ricardo de Mattos Serafim, presidente da Associação de Moradores de Vigário Geral, comunidade onde residem cerca de 45 mil pessoas. Não é a única na região. Antes pelo contrário, são muitas comunidades no entorno do HFB.

Na Região há outros hospitais, mas eles também são vítimas do descaso com a saúde pública. O também tradicional Hospital Estadual Getúlio Vargas, no bairro da Penha, como lembra Serafim, hoje é “um hospital de funcionamento precário com número reduzido de atendimento e emergências, pois foi um que mais sofreu com os cortes de verbas e funcionários. É estadual e funciona com funcionários terceirizados que sofrem com atrasos de salários e falta de insumos para trabalharem”.

O presidente da Associação de Moradores lembra que um outro hospital federal, o Francisca Souza Telles, em Irajá, também atendia àquela região que é uma das áreas mais sobrecarregadas, pois abriga as rodovias mais movimentadas como as Linhas Vermelha e Amarela, a Avenida Brasil e a Rodovia Presidente Dutra. O hospital Francisca de Souza Telles, porém, mesmo com emergência, “funciona precariamente, com fechamento constante por superlotação. Por isso, o hospital de Bonsucesso ainda é o local confiável a nível de emergência e de outros procedimentos”, conclui Serafim.

O quadro de desleixo na saúde pública daquela região é consequência da política de Estado Mínimo. Estruturas bem montadas – ainda que antigas – estão sendo subaproveitadas ou quase estão desativadas por falta de pessoal. Na crise do coronavírus, isto sobressai, na medida em que faltarão leitos e profissionais de saúde para o crescimento da demanda, que já não é pequena por ali.

Como o cobertor é curto, as autoridades agora terão que fazer a chamada “escolha de Sofia” diante do crescimento da procura. Mas o problema seria minorado se criminosamente não tivessem deixado a situação chegar onde chegou. Com quadro de servidores incompleto, em nome da redução dos gastos públicos.

18
Mar20

Sucateado, SUS vive "caos" em meio à pandemia

Talis Andrade

Symbolbild Brasilien Gesundheitstourismus (Evaristo Sa/AFP/Getty Images)

Única opção para milhares de brasileiros, Sistema Público de Saúde vive disparo em atendimentos em hospitais que sofrem até com falta de sabão. Queda de investimento e aumento da demanda provocam "situação de guerra".

  • Autoria Nádia Pontes
  • DW

Em diversos hospitais públicos do país, a situação beira o caos. O aumento da procura pelos serviços provocado pela pandemia do novo coronavírus testa a já fragilizada capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS), relatam servidores da área das cinco regiões do Brasil.

"A situação é de guerra", afirma Cleonice Ribeiro, diretora do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúdeSP), em entrevista à DW Brasil.

"Tem hospital que não tem sabão para lavar as mãos ou papel toalha para enxugar. Trabalhadores que atendem os pacientes não têm álcool em gel, óculos de proteção ou máscara", exemplifica.

Foi em São Paulo que ocorreu a primeira morte por Covid-19 no Brasil, comunicada nesta terça-feira (17/03). Um homem de 62 anos, que já tinha um quadro de saúde delicado, com hipertensão e diabetes, morreu na tarde de segunda-feira, seis dias após apresentar os primeiros sintomas e dois dias após internação num hospital particular.

Até a tarde desta terça-feira, dados do Ministério da Saúde contabilizavam 234 casos confirmados, 152 deles em São Paulo, onde se concentra a maioria dos doentes. Em todo país, 2 mil suspeitas aguardam resultado de exames.

Para milhões de brasileiros, o SUS é a única alternativa para tratar a saúde. "Existem 40 milhões de pessoas sem carteira assinada, na informalidade, sem emprego. São pessoas totalmente desamparadas, vulneráveis que, se adoecerem, irão buscar o SUS", conclui Moacir Lopes, diretor da Federação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps), e servidor do INSS.

"A situação atual é traumática. É o caos total", resume a situação de hospitais públicos frente à pandemia. "Isso porque o SUS já vem sendo sucateado há algum tempo, agora isso fica bem visível", justifica.

 

Falta de dinheiro e combate na saúde básica

Em todo o país, 42 mil postos de saúde atendem gratuitamente a população. Segundo cálculos do Ministério da Saúde, essas unidades têm capacidade de atender 90% dos casos de coronavírus – se os sintomas apresentados pelos doentes forem os mais leves.

"Existem os postos, mas eles não estão estruturados nem pra atender questões corriqueiras da população em geral, imagina uma situação dessa", pondera Cleuza Faustino, auxiliar de enfermagem servidora do Ministério da Saúde e presidente do Fenasps.

Seis hospitais, todos no Rio de Janeiro, são federais. Há ainda mais de 40 hospitais universitários federais. Os demais da rede pública são geridos por governos estaduais e municipais. Segundo o ministério, 55.101 leitos de terapia intensiva são oferecidos no país, 27.445 são do SUS.

A preocupação é que, se muitas pessoas adoecem de uma vez, o sistema não tenha capacidade de tratar todos os pacientes simultaneamente. Especialistas alertam que os problemas respiratórios provocados pelo novo coronavírus exigem mais dias de tratamento com auxílio de aparelhos, como respiradores, do que outras doenças similares. Portanto, o período de ocupação dos leitos é maior.

 

Limitações do orçamento

Diante da disseminação da doença, o governo federal prometeu liberar 432 milhões de reais para reforçar o combate nos estados. A tentativa de melhorar as condições de atendimento, porém, esbarra na subida dos preços.

"O governo está tentando comprar, mas o aumento da demanda deixou tudo mais caro e há dificuldades de pagar", afirma a Ribeiro sobre iniciativas em discussão com o governo de São Paulo.

Entre os trabalhadores do SUS, o clima é de inquietação. No estado de São Paulo, que tem 47 mil servidores distribuídos por 45 hospitais, a maioria tem entre 50 e 60 anos.

"Ao longo dos anos, o governo deixou sucatear tanto os serviços e não contratou novos trabalhadores", pontua Ribeiro, do SindSaúdeSP. "Há praticamente 20 anos não há concurso público", complementa.

Um levantamento feito por pesquisadores da Fiocruz, intitulado "Monitoramento da assistência hospitalar no Brasil (2009-2017)", concluiu que o número de leitos no SUS está em queda. 

"Houve um desinvestimento crônico no SUS, que comprometeu sua capacidade, com fechamento de leitos", resume Josué Laguardia, médico e pesquisador da Fiocruz.

Uma das conclusões da pesquisa é que a rede hospitalar disponível para o SUS reduziu 5,5% no período pesquisado. Em 2009, eram 4.783 hospitais entre públicos e privados, em 2017 foram 4.521 hospitais.

Para o Fenasps, a Emenda à Constituição (PEC) 55, que fixou um teto aos gastos públicos até 2036, votada no governo de Michel Temer, limita a resposta do SUS. "A rede pública, na situação que está, com corte de verbas, com a medida que congelou verbas por 20 anos, está mais debilitada que nunca", avalia Faustino.

No ano passado, o orçamento destinado à saúde foi de 147 bilhões. Em 2020, esse valor caiu para 136 bilhões, segundo os dados da Controladoria Geral da União. A estimativa da Fenasps é que o preparo adequado do SUS para responder à pandemia exige um investimento extra de 20 a 30 bilhões de reais.

 

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