A reportagem de capa doThe Washington Postde hoje é uma página de vergonha para as Forças Armadas brasileiras, e desta vez não adianta dizer que é “propaganda esquerdista”.
Um extenso artigo de correspondentes do jornal norte-americano, além de relatar fatos e retratar personagens do arremedo deCapitólioem Brasília, domingo passado, afirma com todas as letras que comandantes militares brasileiros impediram que a polícia detivesse depredadores no acampamento bolsonarista montado à frente do Quartel General do Exército, inclusive colocando linhas de tropa e tanques para proteger os remanescentes da horda que atacou a Praça dos Três Poderes.
No seu depoimento à Polícia Federal, o ex-comandante da PM do Distrito Federal, coronel Fabio Augusto, diz que foi impedido, por três vezes, de desmontar o acampamento golpista por autoridades do Exército.
Poderia ter sido uma simples dispersão, mas virou o desgaste de uma prisão em massa de personagens tragicômicos.
As Forças Armadas, que poderiam ter escapado incólumes da desgraça em que foram metidas pelo golpismo bolsonarista, talvez apenas com uma declaração de fidelidade à Constituição e de respeito às decisões do poder civil e ao Judiciário estão se deixando conduzir a uma situação em que tudo só fica mais prejudicial à imagem e ao respeito à instituição militar, aqui e lá fora.
E não é de agora, é desde que resolveram aceitar o papel de “auditoria das eleições” que lhes deu Jair Bolsonaro.
Ao colocar – e sustentar – José Múcio Monteiro no Ministério da Defesa, Lula abriu caminho para que as Forças Armadas saíssem, de forma digna e organizada, do beco sem saída em que tinham sido levadas pela associação com um aventureiro como Bolsonaro.
Há semanas que relutam em se reposicionar. E as baixas em sua credibilidade só vão se acumulando.
Dois atos muito representativos do 8 de janeiro, que ocorreram com uma diferença de tempo menor que quatro horas e em palcos distantes 7,9 km entre si, fizeram parte do mesmo teatro da conspiração das cúpulas militares contra a democracia.
Um deles, o primeiro, foi contracenado no Palácio do Planalto. O segundo, no Quartel-General do Exército brasileiro – ou “Exército fascio-bolsonarista”, se se preferir.
O primeiro ato
Por volta das 18 horas de 8 de janeiro, no interior do Palácio do Planalto, ninguém menos que o próprio comandante do Batalhão da Guarda Presidencial, coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, protegia terroristas que momentos antes haviam barbarizado e destruído as instalações do Palácio.
Enquanto um oficial da PM/DF bradava que “estão todos presos, coronel”, o oficial-comandante da Guarda Presidencial impedia a prisão dos criminosos e agia pessoalmente para liberá-los e, assim, deixá-los fugir impunemente.
O Batalhão da Guarda Presidencial é a unidade do Exército subordinada ao Comando Militar do Planalto que tem como missão proteger os palácios e residências presidenciais.
No dia 8 de janeiro, no entanto, o comando do Batalhão agiu em sentido diametralmente oposto ao seu dever institucional. Cumprindo ordens, naturalmente – não do GSI, mas do Exército.
Primeiro, o Batalhão da Guarda Presidencial retirou as tropas regulares e desguarneceu o Palácio, facilitando a ação dos criminosos, que encontraram as portas do Palácio destravadas para poderem invadir com inaudita facilidade.
O coronel do Exército Paulo Jorge da Hora, comandante do Batalhão da Guarda Presidencial. Fotomontagem: Metrópoles
E, depois da bárbara destruição, o comandante do Batalhão e seus comandados prevaricaram, traíram a Constituição e agiram com cumplicidade para liberar os terroristas – dentre eles, inclusive militares.
O segundo ato
Por volta das 22 horas daquele 8 de janeiro, o Exército posicionou blindados e formou um denso cordão de soldados no acesso ao Quartel General do Exército.
A primeira e falsa informação, plantada na imprensa pelo próprio Exército, foi de que a barreira seria para impedir o regresso dos criminosos “ao lar” – ou seja, ao acampamento no pátio do QG.
“Agora ninguém mais entra; só sai”, diziam emoffà imprensa.
Mas, na realidade, a fortaleza militar foi uma trincheira erguida para impedir que a PM do DF entrasse naquele território sem lei para cumprir o mandado de prisão de criminosos e terroristas ali amotinados.
É de conhecimento público que militares da reserva e da ativa, assim como integrantes da chamada família militar, se aboletavam no QG do Exército ao lado de terroristas do estilo daqueles que barbarizaram Brasília em 12 e 24 de dezembro com atos de terror.
A ordem do STF de desmontagem do acampamento e de prisão dos criminosos amotinados no QG só foi efetivamente cumprida na manhã de 9 de janeiro, depois do Exército providenciar a fuga de militares e de integrantes da família militar do local – dentre eles, segundo noticiou a imprensa, Dona Cida, a esposa do general-conspirador Villas Bôas.
As negociações dos ministros civis do governo – Justiça, Casa Civil e Defesa – com os comandantes militares, que se comportaram como chefes da conspiração e verdadeiros representantes dos amotinados, atravessaram a madrugada.
Um clima ríspido e tenso, na percepção de quem testemunhou a reunião. Com direito a temor de que um ministro civil pudesse receber voz de prisão de um atrevido general sedicioso que deveria ter sido exonerado e preso.
O 8 de janeiro foi uma operação orquestrada que envolveu múltiplos atores que devem ser identificados, responsabilizados e condenados.
Os atos terroristas em Brasília no dia 08/01 deixaram perplexo o especialista em Forças Armadas Manuel Domingos Neto, professor da Universidade Federal Fluminense e doutor em história pela Universidade de Paris.
“É duro, eu conheço as Forças Armadas há 50 anos, na condição de oficial da reserva, de preso na ditadura quando fui torturado nos quartéis, mas isso eu não esperava, agasalhar vandalismo, isso exorbita qualquer projeção, foi além da conta”, lamentou.
Para ele “as Forças Armas estão ensandecidas e Lula deve substituir imediatamente o comandante do Exército”.
O especialista garante que as Forças Armadas acompanharam tudo de perto: “Eles sabiam o que aconteceria”.
E disse também que a esposa do general Villas Bôas tem contas a prestar à Polícia. Ela foi filmada nos acampamentos, pontos de articulação dos movimentos terroristas e de vandalismo. “Ela deve ser chamada a prestar contas. Maria Aparecida Villas Boas é simbólica, é tomada como a mãe dessas coisas. Tá na hora de verificar a responsabilidade dela nesses atos criminosos, assim as instituições mostrarão de fato poder”, concluiu. Entrevista à jornalista Marilu Cabañas. Veja o vídeo.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, confirmou, hoje (10), que os órgãos responsáveis pela investigação do ataque às sedes dos Três Poderes, já identificaram alguns dos financiadores da ação.
Embora cerca de 1.500 pessoas tenham sido levadas para a Polícia Federal, o ministro ressalta que equipes especializadas estão interrogando e qualificando os crimes. Segundo ele, a expectativa é que, ainda hoje, à noite, divulgue-se um número definitivo de prisões.
O governo do Distrito Federal, por sua vez, divulgou uma lista com 277 nomes de pessoas presas. São 158 homens e 119 mulheres. Os golpistas foram levados para o Centro de Detenção Provisória 2, na Papuda.
A Polícia Civil afirma que, pelo menos, 15 crimes foram cometidos. Entre eles, estão golpe de Estado, dano a bem público e lesão corporal. O ministro Flávio Dino diz que os financiadores identificados poderão responder por associação criminosa (até três anos de prisão) e prática de crimes contra o Estado Democrático de Direito (até oito anos de prisão), tentando destituir um governo legitimamente eleito, entre outros delitos previstos no Código Penal brasileiro. O crime de golpe de estado pode implicar em até 12 anos de reclusão.
O número de presos deve aumentar. Na Academia Nacional de Polícia, há centenas de pessoas detidas que estão passando por uma triagem da Polícia federal para serem liberadas ou presas por envolvimento na depredação.
O Ministério também divulgou que recebeu, em 24 horas, 30 mil denúncias e informações sobre os terroristas que cometeram os atos de vandalismo na Esplanada dos Ministérios.
Segundo o secretário de Acesso à Justiça, Marivaldo Pereira, neste primeiro momento as apurações darão prioridade aos dados de quem financiou o envio de caravanas de radicais bolsonaristas para Brasília e os gastos dos acampamentos em frente a quartéis do Exército.
“Já foram identificados os primeiros financiadores, sobretudo em relação aos ônibus: aqueles que organizaram o transporte, que contrataram os veículos. Estas pessoas já estão todas identificadas”, disse Dino à imprensa.
Ele informou que, entre os financiadores, há desde pequenos comerciantes até empresários do agronegócio e indivíduos ligados a colecionadores, atiradores desportivos e caçadores.
A previsão é que o relatório da Advocacia-Geral da União com os nomes das companhias seja entregue ainda hoje (10) à Justiça Federal do Distrito Federal. O órgão vai pedir medidas cautelares para o bloqueio dos bens das empresas e solicitar que a Justiça reserve parte dos recursos para cobrir os estragos na Esplanada dos Ministérios.
“O que posso afirmar é que a investigação está em curso; já foram feitas as primeiras individualizações e, com isso, haverá o prosseguimento que cabe: a aplicação das sanções previstas em lei”, acrescentou o ministro.
Segundo Dino, os primeiros financiadores identificados estão espalhados por dez unidades federativas (a maioria do Sul e Centro-Oeste).
O novo foco dos investigadores está na ligação dos terroristas com líderes políticos que tenham articulado a vinda de bolsonaristas radicais a Brasília, no último fim de semana. Já se sabe que estes políticos mantiveram contato com os empresários que financiaram a ação.
Segundo a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, cerca de 1,5 mil pessoas foram detidas no local por envolvimento nos atos de vandalismo. O ministro Flávio Dino, contudo, disse que o número ainda não é definitivo.
“Tivemos a apreensão de aproximadamente 1,5 mil pessoas, mas agora estamos tratando das individualizações. Trata-se da maior operação de polícia judiciária da história do Brasil, mas não se trata de uma prisão em massa. É preciso identificar cada pessoa e o que ela fez. Temos equipes trabalhando nisso, fazendo as oitivas, lavrando autos de apreensão e de prisão em flagrante. Além disso, houve algumas situações humanitáriasque foram solucionadas ontem mesmo. Nossa expectativa é que, ainda hoje, à noite, tenhamos um número definitivo”, concluiu Dino.
Sem anistia
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou nesta terça-feira (10) que as instituições punirão “todos os responsáveis” pelos atos de terrorismo.
“Dentro da legalidade, as instituições irão punir todos os responsáveis, todos. Aqueles que praticaram os atos, aqueles que planejaram os atos, aqueles que financiaram os atos e aqueles que incentivaram, por ação ou omissão. Porque a democracia irá prevalecer”, declarou Moraes.
“Mas as instituições não são feitas só de mármore e cadeiras. São feitas de pessoas, de coragem, de cumprimento da lei. Não achem esses terroristas que até domingo faziam badernas e crimes, e que agora reclamam que estão presos querendo que a prisão seja uma colônia de férias. Não achem que as instituições irão fraquejar”, continuou Moraes.
Quase ao mesmo tempo, no Senado, o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) fez um discurso duro contra os atos de terrorismo – e também reforçou que ‘minoria extremista’ será identificada, investigada e punida.
Idosos, mulheres e crianças
Um ônibus com bolsonaristas detidos pela Polícia Federal deixou o ginásio da Academia Nacional da PF, no início da tarde desta terça-feira (10), em direção à Rodoviária Interestadual de Brasília. O grupo era composto principalmente por idosos com comorbidades. Mulheres com crianças também foram liberadas.
Eles estavam no local desde a manhã de segunda (9), após serem retirados do acampamento instalado no Quartel-General do Exército. Ao todo, 1,2 mil foram detidos. Cerca de 50 ônibus foram usados para levar o grupo para a Superintendência da Polícia Federal. O grupo levado à rodoviária já passou por triagem e foi liberado nesta manhã.
Desde a noite de segunda, a PF começou a liberar menores de idade, mulheres com crianças pequenas e idosos, que tiveram prioridade na triagem. A Polícia Federal ainda não divulgou um balanço de quantas pessoas foram soltas e quantas continuam presas.
Liderados pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), deputados bolsonaristas pedem garantia de direitos humanos a presos em atos. O ofício, enviado à Defensoria Pública da União e ao Ministério dos Direitos Humanos, cita pessoas que estariam sendo “tolhidas de condições básicas em termos de alimentação, hidratação e alojamento”.
Por meio de nota, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania disse que “expressa preocupação com todas as pessoas do país que se encontram presas”. Disse também que estaria monitorando as prisões.
55 ônibus apreendidos
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) interceptou e apreendeu, em menos de 24 horas, 55 ônibus envolvidos nos atos golpistas. O efetivo da PRF está estrategicamente distribuído em um “cinturão” viário que compreende as principais rodovias de acesso à capital federal. Em todos os casos, os passageiros são identificados e conduzidos para unidades da Polícia Federal.
Um ônibus apreendido em Santa Maria (DF), que seguia para Minas Gerais, tinha entre os passageiros dois policiais militares armados (um reformado e outro da ativa), que usaram spray de pimenta no interior do ônibus para causar tumulto.
Em outro caso, na mesma área, a vistoria encontrou estojos de bombas de gás lacrimogêneo já deflagradas, além de um cartão de acesso do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.
Responsabilidade governamental
Anderson Torres e Ibaneis Rocha participaram da posse do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino Foto: Renato Alves/ Agência Brasília
A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, que comandava a Segurança Pública do Distrito Federal. Ele já foi exonerado da pasta, mas estava viajando para a Flórida (EUA), onde se encontra Bolsonaro, no momento dos atentados.
O governador Ibaneis Rocha (MDB) também foi afastado do cargo. O governador pode ser punido com impeachment e até ser preso.
Policiais militares do Distrito Federal foram flagrados tirando selfies e até comprando água de coco durante os ataques golpistas em Brasília no domingo. As investigações ainda estão em andamento, mas esses agentes podem ser punidos com exoneração e até detenção, se for comprovado que infringiram regras do Código Militar.
Bethlucida2
@Bethlucida2
Os nazistóides do Brasil!!!
Frota 77
@77_frota
Deputado eleito Andre Fernandes divulgou o ato:
Luiz Müller
@luizm
ATENÇÃO!! O corregedor-geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Benedito Gonçalves, aceitou a denúncia para cassar os mandatos de: Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli, Bia Kicis, Gustavo Gayer, Nikolas Ferreira, Magno Malta e para prender o presidente Bolsonaro.
Militar da reserva do Exército, Adriano Camargo Testoni estava acompanhado da esposa, Evelise Rodrigues, em atos terroristas na Esplanada.
"Forças Armadas filha da puta. Bando de generais filha da puta. Vanguardeiros de merda. Covardes. Olha aqui o que está acontecendo com a gente", grita Testoni
Tem dias que a gente se sente Como quem partiu ou morreu A gente estancou de repente Ou foi o mundo então que cresceu A gente quer ter voz ativa No nosso destino mandar Mas eis que chega a roda-viva E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante Rodamoinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração
A gente vai contra a corrente Até não poder resistir Na volta do barco é que sente O quanto deixou de cumprir Faz tempo que a gente cultiva A mais linda roseira que há Mas eis que chega a roda-viva E carrega a roseira pra lá
Roda mundo, roda-gigante Rodamoinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração
A roda da saia, a mulata Não quer mais rodar, não senhor Não posso fazer serenata A roda de samba acabou A gente toma a iniciativa Viola na rua, a cantar Mas eis que chega a roda-viva E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda-gigante Rodamoinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração
O samba, a viola, a roseira Um dia a fogueira queimou Foi tudo ilusão passageira Que a brisa primeira levou No peito a saudade cativa Faz força pro tempo parar Mas eis que chega a roda-viva E carrega a saudade pra lá
Roda mundo, roda-gigante Rodamoinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda-gigante Rodamoinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração
Roda mundo, roda-gigante Rodamoinho, roda pião O tempo rodou num instante Nas voltas do meu coração
Há 54 anos, peça de Chico Buarque era alvo de censura e violência
Chico Buarque nos ensaios da peça "Roda Viva", em 1968. Imagem: Reprodução
De improviso, o ator e codiretor Claudio Botelho fez referências à uma possível prisão do ex-presidente Lula e ao impeachment de “uma presidente ladra”. Recebeu uma reação forte por parte da plateia, que com vaias e grito de “Não vai ter Golpe”, impediu que a peça continuasse. Botelho tentou seguir o espetáculo, mas já era tarde: “Vocês são piores que os militares, vocês pararam Roda Viva”, gritou, antes de ser retirado do palco.
Há 54 anos, a peça “Roda Viva”, que é lembrada no musical da dupla Charles Möeller e Claudio Botelho, se tornaria um símbolo da resistência contra a ditadura militar. Os contextos díspares revelam que a ação sofrida foi muito além do que uma mera manifestação, como ocorrida no último sábado.
Com poucos meses em cartaz, a peça de Chico era aparentemente apolítica. Contava a história de um ídolo da música que decide mudar de nome para agradar o público, se tornando uma figura manipulada. A submissão do personagem aos mecanismos da indústria cultural ressoava, nas entrelinhas, uma reflexão sobre a questão política na época -- muito mais séria do que a polarização entre "coxinhas" e "petralhas".
No dia 18 de julho de 1968, cerca de 100 pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiram a força o Teatro Galpão (hoje Teatro Ruth Escobar), no encerramento da apresentação, destruindo os cenários e agredindo o elenco.
A edição da Folha de S. Paulo no dia seguinte noticiou que os elementos estavam “armados de cassetetes, soco-inglês sob as luvas” e que espancaram os atores Marília Pêra, André Valli e Rodrigo Santiago. “Depredaram todo o teatro, desde bancos, refletores, instrumentos e equipamentos elétricos até os camarins, onde as atrizes foram violentamente agredidas e seviciadas”.
Ao Jornal da Tarde, naquela semana, Marília relatou o cenário de horror: "Quis fechar a porta, mas eles já tinham me visto. Entraram quebrando os espelhos arrancaram minha roupa, deram socos. Saí correndo eles continuaram batendo. Pelo corredor havia mais rapazes e enquanto eu fugia sentia cassetetes nas costas. Não apanhei mais porque a Isa, camareira do teatro, correu para mim e me protegeu enquanto fugíamos"
A reação a toda aquela violência foi explicitada na opinião do dramaturgo Plínio Marcos. “Grupos terroristas procuram, através de atos violentos de terrorismo organizado por gente interessada numa ditadura violenta, agredindo trabalhadores em seu local de trabalho", disse à Folha.
Dois meses depois, a peça seguia com filas ainda maiores, quando sofreu violência semelhante dois meses depois, em Porto Alegre, com uma batida do Exército Brasileiro. A peça havia sido proibida pela censura, por ser considerada "degradante" e "subversivo".
Segundo o censor responsável, Mario F. Russomano, Chico Buarque havia criado "uma peça que não respeita a formação moral do espectador, ferindo de modo contundente todos os princípios de ensinamento de moral e de religião herdados de nossos antepassados".
Criado em homenagem a Chico Buarque, na ocasião de seu 70° aniversário, “Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos” foi uma dos poucos espetáculos que conseguiu liberação para a citação de “Roda Viva”, considera pelo autor como uma peça ruim e datada, o que impediu novas encenações desde então.
Juíza volta a negar autoria de “Roda Viva” a Chico Buarque
Músico, teatrólogo e romancista processou o deputado Eduardo Bolsonaro por utilizar a canção indevidamente
247- A juíza substituta do 6º Juizado Especial Cível da Comarca da Capital Lagoa, Mônica Ribeiro Teixeira, contestou, mais uma vez, que o cantor e compositor Chico Buarque seja o autor da letra da música “Roda Viva”, que em 1968 virou inspiração para uma peça de teatro quando o elenco foi espancado pelo regime militar, informa ojornalO Globo.
Na ação, Chico cobra a retirada de sua música da postagem do deputado Eduardo Bolsonaro (PL), além de uma indenização de R$ 48 milhões e publicação da sentença condenatória no Instagram.
Na decisão em questão, a referida juíza tem dúvidas se Chico é, de fato, autor de 'Roda Viva'. Segundo ela, há “ausência de documento indispensável à propositura da demanda, qual seja, documento hábil a comprovar os direitos autorais do requerente sobre a canção ‘Roda Viva’”
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Chamado de 'subversivo' pela Censura, 'Roda Viva', de Chico, faz 54 anos
Redação Folha de S. Paulo
Um dos marcos do teatro brasileiro, "Roda Viva" fazia sua estreia há 50 anos no Teatro Princesa Isabel, no Rio.
O diretor Zé Celso acabara de sair de outra montagem de impacto, "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, que estreara em setembro de 1967 em São Paulo e, naquele mesmo janeiro de 1968, fazia uma temporada carioca no Teatro João Caetano.
"Roda Viva" também marcou a estreia de Chico Buarque na dramaturgia –antes, porém, ele havia musicado para o teatro o poema "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto.
Escrito pelo músico "em 25 dias, trabalhando sem parar", segundo Chico contou ao "Globo" pouco antes da estreia, "Roda Viva" é uma alegoria de um artista (então vivido por Heleno Prestes) que ganha fama e é "engolido" pela indústria cultural.
Em determinada cena, como num rito mítico –ecoando o filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha"–, o protagonista chega a ser crucificado.
Entre as músicas, a famosa canção-título que diz "A gente quer ter voz ativa/ No nosso destino mandar/ Mas eis que chega a roda-viva/ E carrega o destino pra lá".
Ao periódico carioca, Chico ainda disse durante os ensaios da montagem: "Meu tema é um desabafo, que não chega a ser autobiográfico".
O espetáculo enfrentou o recrudescimento da ditadura, que no fim daquele ano decretaria o AI-5, o mais severo dos Atos Institucionais.
Em julho de 1968, o CCC, Comando de Caça aos Comunistas, invadiu o Teatro Galpão, onde o musical fazia uma temporada paulistana. Destruiu o cenário e espancou artistas, entre eles a atriz Marília Pêra (1943-2015).
Em outubro, quando a peça estrearia em Porto Alegre, foi proibida pelo o Exército, que bateu nos atores no hotel onde estavam hospedados.
Censurada repetidas vezes pelo regime militar, "Roda Viva" foi considerada pelo governo um espetáculo "degradante", "subversivo" e que "desrespeita a todos e tudo, até a própria mãe".
Na análise do censor Mário F. Russomano, Chico foi chamado de "débil mental".
O deputado bolsonarista Major Victor Hugo apresentou um inédito pedido de “anistia” para os bloqueadores de estradas que infernizam o país – e esta manhã a vez foi de quem se viu impedido de chegar ao Aeroporto de Viracopos, em Campinas.
Aliás, para eles e também para os responsáveis pelo “ financiamento, a organização e o apoio de qualquer natureza, além das falas, comentários ou publicações em redes sociais ou em qualquer plataforma na rede mundial de computadores (internet)”. Só excetua -vejam só – “crimes contra a vida, contra a integridade corporal, de sequestro ou de cárcere privado”. Falava incluir isso, não é? Ou melhor, nem falta, porque o episódio do motorista aprisionado por golpistas e o caso do menino que tinha de operar-se e foi bloqueado já são transgressão mais que provada.
O fato é que estamos assistindo um patrocínio aberto do golpismo, que não vai parar sozinho, porque já há praticamente um mês ele segue não apenas tolerado, mas insuflado pelo governo, pelos militares e pelos partidários de Jair Bolsonaro.
O tempo de pedir que voltem para casa já passou e até isso era um exercício de tolerância e pacificação.
A violação da lei que estão praticando está mais que clara e condenada pela sociedade. Mas não pelas instituições que deveriam estar agindo: as polícias, o Ministério Público e o próprio Judiciário, que – por evidente traço corporativo – tem deixado só o ministro Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal, que o respaldou ate agora.
Todas as autoridades estaduais e mesmo os procuradores federais nos estados e chefes das forças de segurança têm toda a autoridade para agir, mas se mostram de uma “brandura” que jamais se viu na história.
A impunidade é a escada pela qual sobem a arruaça e a insânia e, do jeito que as coisas vão, logo sairemos das situações ridículas para acontecimentos trágicos. Alguém divida que os tiros e granadas de Roberto Jefferson são frutos do precedente de indulto a Daniel Silveira?
Os fanáticos já temos, basta apenas que lhe surja umJim Jones.
General que mandou Barroso tomar cuidado aumentou em 900% seu patrimônio nos anos Bolsonaro
Por Jeferson Miola /247
Oficiais militares, principalmente do Exército, usam a imprensa para testar o trânsito das suas pretensões na transição de governo; mas, em especial, para tentar enquadrar e/ou influenciar as escolhas do governo eleito acerca do ministério da Defesa e das Forças Armadas.
Plantam informações e versões – algumas verdadeiras, outras falsas –, insinuam planos e propostas e, também, fazem circular factóides e balões de ensaio.
Eles estão centralmente empenhados em emplacar seus interesses político-partidários, corporativos e estratégicos no processo de transição de governo.
Apesar de aquartelarem nas sedes dos comandos militares as hordas de criminosos e fascistas que promovem caos, baderna e atentam contra a democracia, as cúpulas militares fazem de conta que tudo transcorre dentro da mais absoluta normalidade.
Estesimulacro de normalidadeé funcional e conveniente. Com a simulação de uma falsa normalidade, eles tentam continuar interferindo na política como se nada tivesse acontecido e como se nada de anormal e inconstitucional ainda continuasse acontecendo.
São sintomáticos, nesta condição denormalidade, os vazamentos que eles fazem sobre o perfil do ministro da Defesa que poderiam “aceitar” ou “objetar”. Vazam que “admitem” um ministro civil, mas não sem indicar preferências e restrições.
Não simpatizam com a possibilidade, por exemplo, de que o eventual indicado venha a ser algum jurista egresso do STF ou, então, algum diplomata.
Por outro lado, sinalizam que ficariam satisfeitos com a nomeação de alguém com o perfil de Aldo Rebelo – que, não por acaso, cultiva uma cosmovisão convergente com a deles sobre o papel histórico, presente e futuro das Forças Armadas na tutela da democracia.
Para a escolha dos comandantes das três Forças, eles nem de longe cogitam transferências para a reserva, pois “apostam” que Lula observará o critério de antiguidade e nomeará os mais antigos – estes mesmos generais oficiais e comandantes que estimulam e defendem os atos criminosos e antidemocráticos organizados e reunidos em áreas de administração militar.
Emreportagem do jornal Estadão, o jornalista Felipe Frazãomenciona que na visão de generais da ativa ouvidos, “seria natural a preparação da transição pelos generais mais antigos de cada Força, cotados para assumir o comando-geral”.
Esta pretensão absurda evidencia a arrogância das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas, que arvoram para si prerrogativas e poderes não previstos na Constituição brasileira. Eles não reconhecem o dever de obediência ao poder civil e às instituições civis.
O fim do governo militar nominalmente presidido por Bolsonaro representa, igualmente, o encerramento de mais um ciclo desastroso de atuação dos militares na política.
No contexto da restauração da democracia, será preciso despartidarizar, despolitizar e, sobretudo, profissionalizar as Forças Armadas à luz da missão exclusiva da defesa do país em relação a eventual agressão estrangeira.
Para isso, éimprescindível transferir para a reservaa geração de oficiais que ainda hoje, século 21, respira os ares do porão da ditadura, idolatra o sanguinário Brilhante Ustra e reverencia como guia intelectual o general-conspirador Villas Bôas.
A tragédia legada pelo governo militar, que deixou o país em escombros e o povo brasileiro em sofrimento profundo, é um testemunho eloquente da incompatibilidade do alto oficialato e dos comandantes não só com a democracia, mas também com um projeto de Forças Armadas competentes, legalistas, profissionais e confiáveis.
Relatórios enviados ao STF (Supremo Tribunal Federal) revelaram o perfil dos líderes e financiadores de manifestações e bloqueios antidemocráticos realizados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que não aceitam a derrota e questionam o resultado das urnas.
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, os documentos foram encaminhados pelas Polícias Militar, Civil e Federal e pelo Ministério Público, e produzidos a pedido do ministro Alexandre de Moraes. O veículo teve acesso aos documentos.
NoAcre, relatório de inteligência aponta que dois fazendeiros locais estariam entre os financiadores dos protestos em defesa de uma intervenção militar: Jorge José de Moura, conhecido como “rei da soja”, e Henrique Neto. Danilo Lovisaro do Nascimento, procurador-geral de Justiça do estado, afirmou que STF que tem “certeza de que os atos antidemocráticos estão sendo financiados pelos fazendeiros do agronegócio”.
EmGoiás, de acordo com o Estadão, os empresários Tales Cardoso Machado, dono de uma panificadora, e Pedro Sanches Roja Neto; o ex-vereador de São Miguel do Araguaia Leonardo Rodrigues de Jesus Soares; o corretor e candidato derrotado a prefeito da cidade em 2020 Sandro Lopes (PRTB); e o ruralista Hernani José Alves são citados pela Polícia Civil de Goiás como lideranças dos bloqueios na zona rural de São Miguel do Araguaia, onde uma das rodovias chegou a ser fechada com pneus incendiados.
Em Goianésia (GO), o relatório mostra que caminhoneiros e moradores “que atuam principalmente no agronegócio” mobilizaram os bloqueios, e dois nomes foram apontados pela polícia: Jamil El Hosni e Rafael Luiz Ottoni Peixoto.
Golpista Jamil El Hosni
NoMaranhão, o investigador de polícia Marcelo Thadeu Penha Cardoso e candidato a deputado estadual em 2022 Claudio Rogerio Silva Raposo (PTB) foram apontados pela polícia como responsáveis pelos atos que ocorreram em frente ao quartel do 24º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), em São Luís.
EmMato Grosso do Sul, a médica Sirlei Faustino Ratier, a servidora da Câmara Municipal de Campo Grande Juliana Caloso Pontes, o comerciante Julio Augusto Gomes Nunes, o agricultor Germano Francisco Bellan, o ex-prefeito de Costa Rica Waldeli dos Santos Rosa e os pecuaristas Rene Miranda Alves e Renato Nascimento Oliveira, conhecido como Renato Merem, foram identificados pela Secretaria de Segurança Pública do estado.
NoParaná, o empresário Valmor Geronimo Ferro foi apontado pela PM como uma das lideranças dos protestos em Curitiba. Ele teria sido responsável por levar água e comida para os manifestantes. Já os empresários José Antonio Rosolen e Robson Leandro Calistro teriam “ascendência sobre as decisões” dos manifestantes em Cianorte.
EmSanta Catarina, a Polícia Civil nomeou ao menos onze lideranças autodeclaradas dos atos, incluindo empresários.
Esses são 2 dos 8 neonazis presos em SC Laureano Vieira Toscani, condenado a 13 anos após espancar 3 judeus. Já foi preso por tentativa de homicídio motivada por racismo João Guilherme Correa, denunciado por duplo homicídio em disputa de lideranças de células neonazis no PR
Golpistas das grandes transportadoras devedoras do fisco e bancos oficiais precisam sentir o gosto do cárcere que ameaçam para estudantes, jornalistas, cientistas, intelectuais, artistas, lideranças comunitárias, defensores dos direitos humanos, populações indígenas e quilombolas
Sâmia Bomfim
@samiabomfim
O ministro Alexandre de Moraes determinou ao Banco Central o bloqueio de contas bancárias de 43 suspeitos de financiar atos golpistas. Pedido de intervenção militar é crime, e todos os responsáveis pelos atos antidemocráticos precisam ser punidos.
Bolsonaro foi preso pelo Exército por planejar terrorismo dentro dos quartéis. O capitão Bolsonaro tramava a continuação da ditadura militar.
Expulso do Exército ensinou corrupção a primeira esposa, que ele elegeu vereadora do Rio de Janeiro.
Ensinou corrupção ao filho Zero 1, que ele elegeu vereador no lugar da mãe, que traiu para entregar os negócios da corrupção da família - a grana dos funcionários fantasmas, dos laranjas - a segunda esposa.
Para aumentar as rachadinhas, elegeu os filhos Zero 2 e Zero 3 parlamentares.
Também desconfiou da segunda esposa, e casou com uma terceira, que recebia dinheiro vivo e cheques do miliciano Fabrício José Carlos de Queiroz, sócio do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime no Rio das Pedras, na ex-Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro, hoje zona de guerra.
Adriano da Nóbrega, com atuação e mando nos territórios eleitorais que elegiam Jair Bolsonaro deputado federal, Flávio Bolsonaro deputado estadual, e Carlos Bolsonaro vereador, foi morto na Bahia em uma queima de arquivo.
Eis que chegou a grande empreitada: o golpe eleitoral que derrubou Dilma Rousseff, prendeu Lula, fez Michel Temer presidente, que colocou o Rio de Janeiro sob a intervenção militar do general Braga Neto, o judiciário domado pela Lava Jato, e elegeu o sucessor com o apoio dos partidos da milícia e militar, da direita e extrema direita. Um mando que, pelas urnas ou na marra, pretende continuar mais quatro anos no mínimo, pela ocupação dos marechais de contracheque e pensões vitalícias de suas filhas parasitas que se casam, malandramente, apenas no religioso.
Sylvia Montarroyos tinha apenas 17 anos quando foi presa por agentes da ditadura militar no Brasil, por distribuir um jornal com conteúdo “subversivo” e alfabetizar camponeses
Sylvia de Montarroyos, presa aos 17 anos pela Ditadura Militar no Brasil
A estudante Sylvia Montarroyos tinha apenas 17 anos quando foi presa pelo regime militar por distribuir um jornal com conteúdo “subversivo” e alfabetizar lavradores.
Desacordada, recebia soro na ala feminina do Manicômio da Tamarineira, no Recife. Os “olhos diabolicamente ingênuos”, como descreveu o delegado que a prendera, estavam fechados. Media 1,55 m e pesava menos de 30 kg. Os cabelos longos tinham sido raspados em um quartel do Exército. No braço esquerdo, uma das queimaduras de cigarro que marcavam sua pele tinha infeccionado e cheirava a carne podre.
Sylvia de Montarroyos escreveu o livro de memórias ‘Réquiem por Tatiana’. O drama vivido pela ativista é relatado nas mais de 400 páginas do livro. Segundo Sylvia, a obra relata suas memórias desde 2 de novembro de 1964, quando foi presa, até o momento em que saiu do Brasil, quase dois anos depois.
“Durante este tempo, fui brutalmente torturada em vários quartéis de Pernambuco e cheguei a ser internada no Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano, que na época era Hospital da Tamarineira, onde fiquei por cerca de 10 meses. Cheguei lá pesando 23 quilos. O tratamento da época era à base de choques elétricos e drogas, mas mesmo assim consegui me recuperar um pouco. Então fui para a casa dos meus pais, mas fiquei só uma semana lá, pois os militares expediram mais um mandato de prisão. Fugi do Recife, passei um tempo no Rio de Janeiro e em São Paulo e, depois, fui para o Uruguai”, relatou Sylvia de Montarroyos.
Como Silvia, um levantamento do site UOL descobriu 24 casos de presos políticos internados pela ditadura militar em instituições psiquiátricas, em nove unidades da federação. Pelo menos 22 foram antes submetidos a tortura em prisões comuns. As internações foram determinadas pela Justiça Militar ou por autoridades que tinham os presos políticos sob custódia.
A Ditadura Militar no Brasil teve início com o golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, o então presidente democraticamente eleito no país, e durou entre os anos de 1964 e 1985.
Leia neste link documentos da internação de presos políticos durante a ditadura militar.
Na ditadura, a imprensa foi proibida de usar o termo camponês, por designar as Ligas Camponesas do deputado Francisco Julião. E determinava a censura do IV Exército: devia ser substituído por rurícola. Camponês até hoje saiu do vocabulário popular. Lavrador é mais conhecido. Ou sem terra.
Em 1930, Anayde Beiriz, que também afrontou o patriarcado, foi internada no Manicômio da Tamarineira, onde foi 'suicidada' pela polícia pernambucana.
Os últimos anos da política brasileira, desde as manifestações de junho de 2013 até a eleição do presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, passando pelo impeachment de Dilma Roussef, chamaram a atenção da comunidade internacional. O filósofo Diogo Sardinha, pesquisador da Universidade de Lisboa e ex-presidente do Colégio Internacional de Filosofia sediado em Paris, é mais um membro da academia que viu no contexto brasileiro um terreno rico para uma reflexão sobre a democracia e sobre a fragilidade do sistema representativo. Em entrevista à RFI, ele detalhou as ideias contidas em seu próximo livro sobre as “grandes tendências da sociedade brasileira”.
A nova obra de Diogo Sardinha, que será lançada nos próximos meses em São Paulo pela editoraContracorrente, ainda não tem título definido, mas tratará do contexto político e social do Brasil dos últimos anos. “Sobretudo esse período que vai de junho de 2013, com a reeleição de Dilma Roussef, até os dias de hoje. A situação brasileira atual desperta atenção em todo o mundo. Paris é um dos centros de debates sobre o que está acontecendo no Brasil”, afirmou Diogo Sardinha à RFI.
De acordo com o pesquisador, os governos do PT fizeram com que a comunidade internacional acreditasse em uma sociedade de democracia saudável, “com instituições estáveis”, o que não era o caso. A impressão, para Diogo Sardinha, era de que essa situação de “direitos garantidos” iria se manter “porque estava consolidada”.
“Compreendi mais tarde, lendo e conversando com amigos, que essa não é a realidade. O Brasil viveu um período de início de construção de democracia, especificamente no sentido de integração nos direitos econômicos e sociais”, reflete o filósofo. “Tudo isso que foi desenvolvido num período de aceleração da história entre 2002 e 2016, foi uma exceção na vida da sociedade e das instituições políticas brasileiras."
Nos últimos anos, entretanto, ficou claro que o Brasil não tinha instituições sólidas para garantir oxigênio suficiente à democracia, de acordo com o pesquisador. “Vemos isso no caso do poder judiciário, que é um poder dominado por um grupo de pessoas de um certo perfil e que toma decisões ao sabor daquilo que alguns magistrados sentem que é o desejo político das pessoas ou da população”, afirma, ressaltando que existem algumas exceções de juízes “comprometidos com o exercício equilibrado” da profissão.
Homem branco: chave da compreensão da situação brasileira
Para Diogo Sardinha, a figura do “homem branco das classes privilegiadas” é um elemento-chave para entender a situação brasileira atual – um personagem onipresente que participa de todos os grandes momentos da história do país. Eles dominam áreas de poder como, por exemplo, o judiciário, ressalta Sardinha, citando Sérgio Moro, ministro da Justiça, como representante desse “perfil”.
O impeachment de Dilma Roussef foi outro “momento decisivo” da história brasileira povoado por “homens brancos”. Com o agravante, segundo Sardinha, de que, dessa vez, eles se uniram para tirar uma figura feminina do governo. “Foi claramente uma afirmação do grande poder econômico e político branco das grandes cidades e das grandes famílias contra uma mulher. O impeachment não se resume a isso, mas ele é incompreensível sem isso. Claro que houve mulheres, como Janaína Paschoal, mas quando vemos o núcleo central dos opositores são os homens brancos da elite familiar brasileira.”
O processo de destituição de Dilma teve como objetivo reforçar o poder de grupos que foram ligeiramente afastados dele, de acordo com Sardinha, que cita polos importantes da sociedade brasileira,como a igreja ou o exército.
Tentativa de “imbecilização coletiva”
Parte dos eleitores do presidente Jair Bolsonaro, no entanto, são pessoas de classe baixa, negros e mulheres e elegeram, democraticamente, um homem branco da elite para governar o país. Diogo Sardinha apresenta diversos argumentos para decifrar esse episódio da história brasileira e lembra, antes de tudo, que nem todos se sentiram representados no discurso do chefe de Estado.
“É complexo. Muitas vezes, as pessoas votam contra seus próprios interesses. Mas o que se passa no Brasil é muito curioso:poderíamos chamar de ‘tentativa de imbecilização coletiva’. (...) É como vemos agora com o caso do hacker envolvendo Sérgio Moro e [Deltan Martinazzo] Dallagnol”, explica. “Tem esse velho provérbio que diz que, quando o sábio aponta para a lua, o imbecil olha para o dedo. Ao invés de olharmos para o que foi revelado entre a troca de conversas entre Moro e Dallagnol, isso não interessa, o importante é saber quem encontrou ‘criminosamente’ essas mensagens. É o processo de imbecilização, com um grupo de pessoas dizendo ao povo para ‘olhar para o dedo’”.
De acordo com Diogo Sardinha, esse fenômeno é o mesmo responsável para que “negros votem em um candidato racista e mulheres em um anti-feminista”. “Agora, vamos tentar fazer com que as pessoas se dêem conta do erro em que caíram. Nem todas, mais uma vez, mas é preciso trabalhar para que aqueles que se equivocaram compreendam isso e entendam que o erro pode ser corrigido”, conclui.