O cansaço é nítido entre quem resiste. Desde eleito e antes mesmo de tomar posse, Bolsonaro guia sua bússola obscena e sua máquina de ódio no contraponto do republicanismo, na coação de princípios democráticos e na insistente busca por fragilizar ou deformar instituições que poderiam limitar seu campo de atuação em nome de um projeto personalista e autoritário de poder.
O expurgo, finalmente, virá. E da forma mais simples, bela e direta que uma democracia prevê: o voto. E quem deu também tira.
A se confirmarem as pesquisas de intenção de voto, teremos um novo (velho) governo pelos próximos quatro anos. O possível retorno de Lula, que assim se tornará o primeiro presidente três vezes eleito na história deste país, sinaliza a necessidade da imprensa, sobretudo livre e independente, de manter rígida a fiscalização dos atos de poder.
O compromisso do petista é de não repetir erros que marcaram profundamente sua gestão e a de sua sucessora, Dilma Rousseff. Urgentemente, ele vai precisar restabelecer o pacto de equilíbrio entre os poderes, celebrado pela tão atacada Constituição de 1988, interrompendo asbarganhas orçamentárias ao Congresso, os ataques ao Supremo e destituindo a política fisiologista entre partidos eprotegidos no Executivo.
No entanto, para além dos corredores do poder em Brasília, há uma explícita necessidade e um clamor de encontro com o Brasil real e seus reais problemas — léguas distante de mamadeiras de piroca, ideologia de gênero, cloroquina, entre tantas outras quimeras forçadamente trazidas às salas de jantar dos brasileiros num momento em que faltou justamentejanta, comida, saúde e estado.
Há uma necessidade de discutir segurança pública de forma séria e responsável, interrompendo os genocídios em favelas e espaços periféricos para atender a uma política de combate às drogas que se mostra completamente esgotada e falida. Na questão ambiental, a Amazônia arde em chamas, enquanto osaparelhados órgãos federais vendam seus olhos para a grilagem de terra, a derrubada ilegal de madeira e o avanço indiscriminado da monocultura da soja e da criação de gado.
Existe um país enlutado, que literalmente sai menor da pandemia. São quase 700 mil pessoas a menos,mortas pelo descaso, com suas memórias humilhadas pelo escárnio de quem fez troça da asfixia e pouco caso da ciência.
O empenho doIntercepte de todos os órgãos de imprensa comprometidos com a democracia é de cobrar de forma contundente o enfrentamento dessas questões, jogando luz nas contradições que pontuarão o novo governo, forjado numa enorme aliança multipartidária, com interesses díspares e muitas (muitas) vezes contraditórios.
Esse é o provável governo que nasce domingo das urnas.
O primeiro compromisso, porém, é efetivamente fazer valer esse nascedouro. Mostrar, constranger e vigiar qualquersanha golpistaou farsa armada que tente melar o resultado das eleições, com narrativas ensaiadas há meses por quem sabe que foi derrotado no princípio básico de convencer o eleitor, soberano na escolha.
Não existe “terceiro turno” e nem “adiamento”. A eleição no Brasil precisa terminar neste domingo, porque é o dia previamente determinado pela Constituição. Qualquer coisa diferente disso tem nome: é golpe. Qualquer movimento contestatório é blefe e aposta no caos de quem anseia lucrar com a plena desordem social.
A eleição termina no dia 30 de outubro porque o Brasil tem urgência em sua reconstrução e não pode assistir paralisado aos caprichos e perversões de um presidente que, nunca, em um só dia como governante, teve respeito ao cargo e aos milhões de brasileiros que representou.
As eleições mais longas e sujas da história democrática do Brasil terminam neste domingo, ao custo de vidas que se foram, traumas não curados e um país em frangalhos, mas suficientemente capaz de se levantar.
Sob a regência do maestro Joaquim França, o Coletivo Consciente de Orquestra e Coro, de Brasília, interpreta a versão em português da antológica canção chilena “El pueblo unido jamás será vencido”. O clipe “O povo unido jamais será vencido” foi feito pela Trupe do Filme. Captação e mix de som foi de Afrânio Pereira.
247 -A ABI - Associação Brasileira de Imprensa, de combativas tradições na luta pelos direitos dos jornalistas, do Estado democrático de direito e a liberdade de expressão, repudiou o ato criminoso da deputada bolsonarista Carla Zambelli contra o jornalista Luan Araújo. Leia a íntegra
“A Comissão de Igualdade Étnico-Racial da Associação Brasileira de Imprensa vem manifestar o seu repúdio ao ato de racismo praticado pela deputada federal Carla Zambelli que, com uma arma na mão, perseguiu o jornalista Luan Araújo, no bairro dos Jardins, região mais rica de São Paulo.
O enfrentamento ao genocídio da população negra praticada pelo braço armado do Estado é a prioridade máxima do trabalho que desenvolvemos na Comissão de Igualdade Étnico-Racial da ABI. Os crimes da deputada Carla Zambelli não podem ficar impunes, eles vão desde racismo – “usaram um homem negro pra vir pra cima de mim” -, passando pelo porte ilegal de arma, 24 horas antes da eleição, formação de quadrilha, entre outras violências.
Constitucionalismo quer dizer "fazer democracia no direito e pelo direito". O ponto central é a institucionalidade.
Democracias consolidadas funcionam assim. Ou alguém viu, na Espanha ou Portugal, pessoas dizendo "essa Constituição atrapalha o país" ou "queremos Franco ou Salazar de volta"? Ou o chanceler da Alemanha dizer "me dá náusea cumprir a Constituição"?
Ou alguém viu um ex-deputado na Espanha ou Alemanha tecendo hediondas ofensas a uma juíza do Tribunal Constitucional, quebrar as condições de sua prisão domiciliar, receber a polícia à bala e com granadas praticando quatro tentativas de homicídio e, depois, tomar cafezinho (ou algo desse quilate) com o policial, tudo "assistido" por um padre de festa junina?
Não? Então me sigam.
O constitucionalismo — essa invenção democrática — criou mecanismos para evitar que maiorias eventuais destruam a democracia. Autopreservação, eis a chave. Se eu habito com outras pessoas e tenho um contrato pelo qual as decisões são tomadas por votação, isso não garante que alterem o contrato e me joguem pela janela.
Como me salvo? Colocando uma cláusula pela qual podem alterar o contrato por votação, menos a cláusula que diz que minha vida e dignidade devem ser preservadas acima de tudo. Essa é a metáfora ulisseana de todos conhecida. As correntes que me amarram... e me salvam das sereias, dos jeffersons, dos kelmons e quejandos.
As cláusulas pétreas e as garantias institucionais (por exemplo, a divisão de Poderes) representam uma espécie de "quarto de pânico da democracia".
Para que serve esse "quarto do pânico"? Simples. Quando os bárbaros — e existem muitos — ameaçam as instituições, protegemo-nos. Simbolicamente, é ali que nos abrigamos.
Porém, não se trata, simplesmente, de possuirmos um "quarto do pânico". O ponto é possuirmos instituições robustas.
A institucionalidade é algo tão complexo que, por vezes, nem o "quarto do pânico" resolve. Voltando à metáfora de Ulisses, de nada adianta ser amarrado ao mastro e dar as ordens aos marinheiros, se estes retirarem a cera dos ouvidos e ouvirem o canto das sereias...!
Explico melhor.
Instituições tem uma função. Metaforicamente, são como limpadores de para-brisas. São inúteis se não estiverem do lado de fora do carro, se me permitem essa plus platitude. Todavia, essa aparente obviedade é necessária porque estamos em um país em que... bem, aconteceu e acontece tudo isso-que-está-aí, d'onde o "fator jefferson" completa a ópera trágica e ao mesmo tempo bufônica. Não preciso elencar as vezes em que o presidente da República ofendeu ministros do Supremo, ameaçou — implícita e muito explicitamente — rupturas institucionais, além da retomada da segunda edição do famoso livro Coronelismo, Enxada e Voto (isso é uma metáfora; ou alegoria!).
Cabe a pergunta: dizer que as "instituições funcionam" pode apenas ser uma ficção da realidade ou, quem sabe, o nosso pânico diante do perigo da realidade da ficção?
Daí minha outra indagação — fulcral: o direito pode salvar a democracia?
No Brasil, o STF já deu mostras de que, até aqui, com muito custo político-institucional — veja-se as correntes de ódio contra a Suprema Corte —, isso não foi apenas possível como foi necessário, se pensarmos nas decisões sobre a pandemia, o inquérito em autodefesa contra os ataques à corte (episódio que mais lhe gera críticas) e o quase-golpe de 7 de setembro de 2021 (em que ministro foi chamado de canalha).
Isso não é motivo para um "pânico institucional"? Bom, se você estiver em dúvida, ligue na Jovem Pan por cinco minutos e o coeficiente de pânico sobe para o grau máximo.
As eleições estão às portas. A corda está esticada. Torcemos pela institucionalidade. Pelo Direito. Pelo Estado Democrático de Direito. Pela democracia.
Como o Rubicão foi atravessado tantas vezes, a tarefa, no futuro, é evitar tais travessias. Bem antes. É a institucionalidade democrática que funciona como superego dos "rubicanheiros" e das vivandeiras.
Ou seja, para evitar a tentação da travessia do Rubicão os nossos limpadores de para-brisas devem estar up to date. Do lado de fora do carro, é claro. E, também, sempre bom ter um estoque de cera, suficiente para tapar os ouvidos dos marinheiros de Ulisses.
Continuo em "pânico institucional". Difícil expressar isso em palavras. É algo que aperta o peito. Temos o quarto para nos abrigarmos. Mas com quem está a chave?
Numa palavra final: como diz Jon Elster (quem criou a metáfora "constitucionalismo-correntes de Ulisses"), o problema não é explicar por que tantas constituições fracassam em impor obediência a seus criadores e nunca passam de meros pedaços de papel escrito. A questão está em compreender de que maneira muitas constituições conseguem adquirir essa misteriosa capacidade de serem obedecidas.
Qual será o nosso caso? Só Freud explica.
Bom, se o Direito nada pode dizer, porque só faz furo n'água, então talvez Freud, tão referido na cultura popular ("isso só Freud explica"!), possa ajudar. Está tudo ali, no livro Psicologia das Massas e Análise do Eu.
A formação do discurso foi tomada por agrupamentos de egos vivendo em pequenos rebanhos. Juntando esses grupos (redes sociais, hoje) e pela velocidade pós-moderna, temos o efeito rebanho. Manada.
Já não há opinião pública. Há apenas a opinião narrada. A liquidez dos fatos.
Ainda dá tempo para procurar na internet as freudianas explicações para entender comportamentos "tipo" jeffersonianas. Como já contei há algum tempo, tenho uma tia que... Bom, deixa pra lá. Vocês entenderam.
Numa palavra final: Freud explica que, se a psicologia do sujeito depende do contexto no qual ele se encontra, é preciso admitir que um outro ambiente pode permitir-lhe mudar de conduta.
Este episódio da Deputada Carla Zambelli demonstra o que o fascismo fez com o Brasil. Uma mulher vulgar, racista e covarde resolve ameaçar um cidadão negro pelo simples fato de se sentir superior, de se sentir poderosa. E assume que o que a levou a agir foi o fato de se tratar de um homem negro. Assustador. Um racismo assumido.
Além de mentir ao dizer que foi ameaçada, o que a gravação desmente categoricamente, a Deputada assume que reconhece que praticou um ato ilegal ao usar uma arma em um momento que a lei proíbe , pois não reconhece legitimidade a norma que proíbe. Criminosa . Esta Carla Zambelli é o Roberto Jeferson de saia. São a mesma face do bolsonarismo raiz, aquele que não segue a Constituição e que faz as próprias regras. Não existe democracia com estes seres escatológicos que saíram do esgoto para assumirem um protagonismo perigoso e violento.
São a escória da humanidade legitimados pelo voto. Os fascistas dão a este grupo uma pretensa legitimidade. É necessário discutir se o voto da a legitimidade para o cometimento dos crimes e da vulgaridade. Esta é a discussão necessária.
O fato de ter tido 946. 244 votos da a esta deputada o direito de ser racista, de ameacar e humilhar um negro, de sacar uma arma em uma via pública, de expor a vida das pessoas, de praticar crimes e se jactar disto , de assumir que não cumpre a lei?
Enfim este é o ideário dos fascistas. Este fato é a legitimação da violência como maneira de agir. Vamos votar pela democracia hoje. Vamos derrotar este projeto de violência e vamos dar chance a estabilidade democrática. E depois de ganharmos deste projeto fascista vamos trabalhar para cassar estes fascistas violentos. Não existe o direito a violência e nós vamos fazer valer a Constituição. Vamos cassar da vida pública estes fascistas. Covardes. Vulgares. Perigosos. Ela própria diz que “ os bandidos não vão cumprir as normas do TSE.” É isto. Ela sabe que é bandida, e tem orgulho disto. Assume o seu crime. Vamos nos quedar inertes? Ou vamos resistir à feição de Cecília Meireles:” A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.”
Jeff Nascimento
@jnascim
Luan Araújo, jornalista negro ameaçado por Carla Zambelli com arma, se diz assustado: “Peço proteção”
Populares foram até o local onde estava a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e protestaram contra a parlamentar. Na tarde dest sábado (29), Zambelli foi filmada apontando uma arma para um homem no meio de uma rua em São Paulo. No vídeo, ela atravessa a rua e entra em um bar com uma pistola empunhada.
Joaquim de Carvalho mostra por que a deputada federal Carla Zambelli, uma das mais barulhentas bolsonaristas, precisa ser processada e ter mandato cassado. Mentiu à Polícia ao dizer que tinha sido agredida, perseguiu adversário político com arma e o constrangeu ao obrigá-lo a gravar pedido de desculpas. Seu segurança atirou em via pública, crime tipificado pelo artigo 15 da lei 9437/97. Pena: 4 anos de reclusão. A vítima é o jornalista Luan Araújo, que é negro, membro dos Gaviões da Fiel e do Coletivo Democracia Corinthiana
Já era sintomático que o candidato Tarcísio de Freitas tivesse tanto empenho em abolir a câmaras que os policiais de São Paulo passaram a usar, com excelentes resultados aobre a letalidade policial.
Agora, quando fica provado que um agente da Abin – leia-se, do Palácio do Planalto – quis obrigar um cinegrafista a apagar imagens que podiam ajudar a elucidar a morte de um homem – desarmado – na comunidade de Paraisópolis, no falso atentado que sua campanha procurou explorar, já não é possível deixar de considerar que, a depender do resultado das urnas, a proteção a matadores e aos grupos de execução sumária pôs o pé na porta para entrar, definitivamente, no ambiente policial de São Paulo.
Nós, cariocas, sabemos o que foi a “tomada do poder” – ou, pelo menos, da periferia do poder – por estes grupos.
Na TVT, no programa Bom para Todos, a partir das 15 horas, esta memória e o suspeitíssimo “abafa” criado no caso Paraisópolis. A transmissão ao vivo vai abaixo:
Embora não seja incoerente que milicianos façam campanha eleitoral como milicianos, é inacreditável que isso consiga arrastar, pelo fanatismo, uma parcela de brasileiros que, em condições normais, nada têm a ver com este tipo de banditismo.
Agora, na reta final, pressionados pela desvantagem aparentemente intransponível que tem Lula, estes atos desesperados são prenúncio da derrota e, além disso, preparação para as contestações do resultado.
O comportamento de Jair Bolsonaro, no debate de hoje, refletirá este clima. Agressões, desaforos e tentativa de intimidação física não faltarão.
Há, portanto, de não faltar a Lula a tranquilidade para suportar e, na hora certa, a firmeza para reagir.
A nossa parte é dar a cara na rua, combater com a exposição de nossa vontade decidida a vontade da população e rechaçar o medo que procuram impor.
É focar no objetivo: o que queremos para a vida dos brasileiros e que Bolsonaro negligenciou: comida, saúde, salário, escola, SUS…
FABRÍCIO CARDOSO DE PAIVA,um agente licenciado da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, foi quem mandou um cinegrafista apagar as imagens de um tiroteio em Paraisópolis, favela na zona oeste de São Paulo, na semana passada. Paiva é atualmente assessor da campanha a governador do ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas, do Republicanos. Ele também ocupou cargo de nomeação política, a convite de Tarcísio, no Ministério da Infraestrutura desde o início do governo Bolsonaro.
A identificação foi confirmada ao Intercept por uma fonte que trabalha no governo. A voz de Paiva também foi reconhecida por ex-colegas de trabalho. As fontes terão os nomes mantidos em sigilo para evitar retaliações. A Abin, respondendo a perguntas que enviamos, “esclarece que apenas um servidor da agência, que no momento está de licença não remunerada para tratar de interesses particulares, acompanha o candidato Tarcísio de Freitas na campanha eleitoral”. Trata-se, justamente, de Paiva.
A existência do áudio foi revelada em umareportagemda Folha na última terça-feira, 25 de outubro. Na gravação, é possível ouvir Paiva dizendo ao cinegrafista da TV Jovem Pan, que é alinhada ao bolsonarismo: “Você tem que apagar”.
Nocurrículoapresentado ao Ministério da Infraestrutura, Paiva informa ter se formado na Academia Militar das Agulhas Negras, a Aman, e atuado como oficial de artilharia do Exército entre 1996 e 2009, ano em que se tornou servidor na Abin. Emjunhode 2019, foi nomeado gerente de projetos da Subsecretaria de Governança e Integridade do Ministério da Infraestrutura por Tarcísio.
Em dezembro de 2021, Paiva foi agraciado com a Medalha do Mérito Mauá, entregue pelo governo federal como “reconhecimento à contribuição ao desenvolvimento e progresso do setor de transportes”. A escolha, feita pelo próprio Tarcísio, foichanceladapor Bolsonaro.
‘Você filmou os policiais atirando?’
O agente licenciado da Abin Fabrício Cardoso de Paiva (à esquerda) mandou cinegrafista apagar imagens do tiroteio. Ele é assessor de Tarcísio de Freitas (centro).
A Folhanoticiouontem que um integrante da campanha de Tarcísio mandou o cinegrafista da Jovem Pan apagar as imagens do tiroteio que terminou com um suspeito morto e interrompeu uma atividade de campanha do candidato bolsonarista em Paraisópolis no último dia 17.
Segundo o jornal, o assessor de Tarcísio – que é Fabrício de Paiva – perguntou ao cinegrafista: “Você filmou os policiais atirando?”. “Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM para cima dos caras”, respondeu o profissional. “Você tem que apagar”, ordenou Paiva.
As circunstâncias da troca de tiros e os autores dos disparos não foram esclarecidas até o momento. Logo após o ocorrido, as campanhas de Tarcísio e Bolsonaro tentaram vender a narrativa de que os tiros haviam sido um atentado contra o candidato a governador. Depois, voltaram atrás.
Em entrevista horas após o caso, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, João Camilo Pires, afirmou ser “prematuro falar que ocorreu um atentado”, mas que “nenhuma hipótese seria descartada” nas investigações. Pires é um general de quatro estrelas da reserva do Exército. Ele se formou na Aman em 1976. Como Paiva e Bolsonaro, também escolheu a artilharia.
Três colegas de turma de Pires – os generais de quatro estrelas Fernando Azevedo e Silva, Manoel Luiz Narvaz Pafiadache e Guilherme Cals Teophilo Oliveira – tiveram cargos de nomeação política no governo Bolsonaro. O grupo, inclusive Pires, fazia parte do Alto-Comando do Exército, que foi consultado sobre o tuíte do general Eduardo Villas Bôas que ameaçou o Supremo Tribunal Federal antes da votação de um habeas corpus que permitiria a Luiz Inácio Lula da Silva disputar as eleições de 2018.
Por fim, presidente Bolsonaro se formou na Aman em 1977 – ele e Pires foram, portanto, contemporâneos na academia. As relações criadas nos tempos da Aman costumam acompanhar os oficiais do Exército ao longo da vida.
Procurada para comentar o caso, a Abin confirmou que um servidor dela, licenciado, participa da campanha de Tarcísio. “O trabalho atual deste servidor não é desempenhado em nome da agência, a qual não tem qualquer ingerência sobre a segurança da campanha do candidato. A Abin reitera que não há nenhum servidor em exercício na Agência exercendo a função de segurança de candidatos a governos estaduais”, afirmou.
A agência disse, ainda, que “o policial citado nas reportagens [da Folha] sobre o caso de Paraisópolis, apontado como autor dos disparos, não faz parte do quadro de pessoal”. A Abin é subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional, comandada pelo general da reserva Augusto Heleno, um dos mais radicais militares de pijama que servem ao bolsonarismo.
Também procuramos a campanha de Tarcísio, que em nota disse que “as contratações [de assessores] foram feitas por escolha da campanha, que tem a premissa de selecionar todos os prestadores de serviço desde que sejam seguidos todos os ritos estabelecidos pela lei eleitoral, bem como a devida prestação de contas ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral]”. “O servidor da Abin que acompanha Tarcísio está em licença não remunerada, portanto, não exerce nenhuma atividade em nome da agência”, acrescentou a nota.
A campanha afirmou ainda que o pedido de apagamento das imagens foi feito “para não expor as pessoas que estavam lá” no local do tiroteio e que ele “foi feito em frente a todos que lá estavam, incluindo jornalistas de outras emissoras”. “Diversos representantes da imprensa que estavam presentes fizeram imagens da situação ocorrida e as colocaram no ar. Nunca houve nenhum impedimento por parte da campanha em relação a isso. Qualquer afirmação que questione isso é uma mentira”, argumentou a campanha de Tarcísio.
Pedimos à campanha um contato para ouvirmos Fabrício Cardoso de Paiva, mas não fomos atendidos. O espaço está aberto para a manifestação dele.
Ela passa pela Agência Brasileira de Inteligência, Jovem Pan, e sabe-se mais o quê
Armação, não foi. Mas um tiroteio entre bandidos, por pouco, não ficou como se tivesse sido um atentado contra o candidato bolsonarista ao governo de São Paulo
Na manhã do último dia 17, em Paraisópolis, Tarcísio visitava a sede de um projeto social quando estourou um tiroteio do lado de fora, que resultou na morte de um homem e na fuga de outro.
Quem fazia a segurança do candidato? Segundo ele, a Polícia Militar paulista. Segundo a Polícia Militar paulista, ela mesma. Mas apareceram indícios de que gente estranha também fazia.
A Jovem Pan deu primeiro na edição do seu “Jornal da Manhã”: “Informação de última hora: Tarcísio é alvo de atentado em Paraisópolis”. No Twitter, Tarcísio escreveu:
“Em primeiro lugar, estamos todos bem. Durante visita ao Polo Universitário de Paraisópolis, fomos atacados por criminosos. Nossa equipe de segurança foi reforçada rapidamente com atuação brilhante da PM de SP. Um bandido foi baleado. Estamos apurando detalhes sobre a situação”.
Às 11h49m, no Twittwer, Mário Frias, bolsonarista de raiz e ex-secretário de Cultura do governo Bolsonaro, postou:
“URGENTE! Tarcisio de Freitas acaba de sofrer um atentado em Paraisópolis. Uma equipe da Jovem Pan estava próxima. As informações preliminares são de que o candidato estava em uma van blindada e todos estão bem.”
Seis minutos depois, ainda no Twitter, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) registrou:
“Acabei de falar com nosso candidato ao Governo de São Paulo e ele está bem. Graças a Deus o atentado em Paraisópolis/SP não fez vítimas fatais.”
A mensagem de Flávio foi ilustrada com uma foto onde aparece uma chamada do programa “Morning Show”, da Jovem Pan, e o título: “Urgente: Tarcísio de Freitas sofre um atentado em Paraisópolis”.
Àquela altura, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro, o pai, já fora informado a respeito. Dali partiu a ordem para que seu programa de propaganda eleitoral daquele dia explorasse o episódio.
A pressa foi tal que, sob um fundo preto, sem locução, foi aplicado apenas um letreiro que dizia:
“O candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas e sua equipe foram atacados por criminosos em Paraisópolis”.
Foi pela Jovem Pan que Bolsonaro soube? Segundo um assessor dele, não. Foi pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Pelo menos dois dos seus agentes faziam a segurança de Tarcísio.
A Abin não pode fazer segurança de candidatos. Ela é apenas um órgão de inteligência do governo federal. Mas, vê-se que vai além dos seus chinelos sempre que o presidente autoriza.
No fim da tarde daquele dia, depois que a Secretaria de Segurança Pública concluíra que não fora um atentado, Tarcísio, em entrevista coletiva à imprensa, reconheceu:
“Não foi um atentado contra a minha vida, não foi um atentado político, não tinha cunho político-partidário. Foi um ataque no sentido de que, se você intimida uma pessoa que está lá fazendo uma visita, isso é um ataque.”
“Foi um ato de intimidação. Foi um recado claro do crime organizado que diz: ‘Vocês não são bem-vindos aqui. A gente não quer vocês aqui dentro’. Para mim é uma questão territorial. Não tem nada a ver com uma questão política.”
Áudio obtido pela Folha de S. Paulo aponta que um integrante da campanha de Tarcísio mandou um cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens do tiroteio. O cinegrafista filmou parte da ação.
Um dos encarregados da segurança do candidato, que portava um crachá, interrogou o cinegrafista:
“Você filmou os policiais atirando?” – ele perguntou.
“Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras”, respondeu o cinegrafista.
O segurança perguntou se ele havia filmado as pessoas que estavam no local onde tudo aconteceu, e o cinegrafista disse que não. Por fim, o segurança mandou:
“Você tem que apagar”.
Em nota, a Jovem Pan diz que “exibiu todas as imagens feitas durante o tiroteio”, e que “o trabalho do cinegrafista permitiu que a emissora fosse a primeira a noticiar o ocorrido.”
Acrescenta a nota:
“Não houve contato da campanha do candidato Tarcísio com a direção da emissora com o intuito de restringir a exibição das imagens e, por consequência, o trabalho jornalístico.”
A polícia paulista vai requisitar as imagens à emissora. O homem que morreu não foi identificado. O que fugiu, também não. O inquérito aberto pela polícia corre em segredo.
Agente Danilo Cesar Campetti, de revolver na mão, na cena do crime, da execução de Felipe da Silva Liva desarmado, e morto a tiro pelas costas
À esquerda, o agente licenciado da Abin Fabrício Cardoso de Paiva, assessor da campanha a governador de Tarcísio, à direita.
Reinaldo Azevedo: Tarcísio, Paraisópolis e o falso atentado
O repórter cinematográfico que gravou o tiroteio que matou um homem e parou a campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao Governo de São Paulo, na favela de Paraisópolis, falou com a equipe de jornalismo da TV Cultura. O caso foi revelado pelo jornal Folha de S. Paulo. Na entrevista, Marcos Andrade revelou como foi abordado por um servidor da Agência Brasileira de Inteligência, que faz a segurança do candidato, pedindo para apagar as imagens do confronto. Ele disse que havia pelo menos mais um agente da Abin no local. O vídeo do repórter cinematográfico da TV Jovem Pan pode ter registrado o momento em que o homem "suspeito" foi morto. O material pode esclarecer se seguranças da campanha de Tarcísio de Freitas participaram do ataque ou se um policial militar foi o autor do tiro.
Quem matou Felipe? Passados 11 dias do assassinato do jovem de 27 anos em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, o candidato bolsonarista ao Governo do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), voltou a se colocar como "vítima" da ação de criminosos, mas todas as evidências levam a crer que o suposto “atentado”, anunciado nas redes antes de ter acontecido, foi uma grande armação. No debate na Globo desta quinta-feira (27), Tarcísio ainda fez uma confissão pública de que houve, a pedido de sua campanha, destruição de provas e evidências que poderiam esclarecer quem foi que assassinou Felipe a tiros. Confira a analise de Renato Rovai, editor da Fórum:
“Tarcísio fez armação e matou meu filho para se eleger”, diz pai de jovem em Paraisópolis
O pintor Fernando, pai de Felipe da Silva Lima executado pelos segurança do general Tarcísio de Freitas, deu entrevista a Joaquim de Carvalho. O irmão de Felipe também falou: "Temos medo", disse.
Vide comentários:
EX-BOZOLOIDE ARREPENDIDO• a habilidade para mentir e enganar as pessoas, vindas da ala bolsonarista, não tem limites.
Paulo Cezar Nogueira• O sujeito nem se elegeu e já implantou a milícia do Rio em São Paulo.
Antonio• O suposto tiroteio, onde só os seguranças do Tarcísio atiraram... mandaram até o cinegrafista apagar as filmagens, pra sumir com as provas do caso. No começo os exaltados queriam explorar a tese de atentado. Depois, viram que seriam facilmente desmascarados, e ficaram caladinhos. Não querem mais falar sobre o assunto...
Jose Almeida• Quem é o homem morto? Ele não estava armado. Como ele foi baleado? POr quem? POr que? Toda essa armação será desmascarada. Tarciso fará companhia ao Bolsonaro em Bangu, como bom carioca.
Antonio• Escolha sua Teoria da Conspiração preferida:
- O “atentado” contra Tarcísio
- As urnas eletrônicas que tiram votos de Bolsonaro
- A armação dos policiais para prender Roberto Jefferson
Marcos Antônio da Silva• O povo de São Paulo tem responsabilidade moral de evitar que o Estado se transforme na República de Salò caipira, refúgio e reduto dos fascistas apeados do poder federal. Eduardo de Paula Barreto• .
Firme e convincente, petista questiona marechal bolsonarista sobre caso de Paraisópolis , desmontes do governo Bolsonaro e falta de identidade com São Paulo
Fernando Haddad, candidato do PT ao governo de São Paulo, foi o grande vencedor do debate promovido pela TV Globo na noite desta quinta-feira (27) entre os candidatos ao Palácio dos Bandeirantes.
Durante o debate, por diversas vezes, Haddad encurralou o candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi obrigado a se manter na defensiva em vários dos temas muito bem abordados pelo petista.
Um dos temas que deixaram o adversário sem resposta convincente foi o caso de Paraisópolis, quando no último dia 17 de outubro ocorreu um tiroteio que interrompeu um ato de campanha de Tarcísio. O bolsonarista que, a princípio, alardeou que teria sido um “atentado”, foi desmentido pelas próprias autoridades policiais. O caso continua recheado de suspeitas, inclusive o fato já comprovado de que um membro da equipe de Tarcísio ordenou a um cinegrafista que apagasse as imagens feitas no local, que poderiam inclusive esclarecer a morte de uma pessoa baleada no tiroteio.
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Fernando Haddad
Candidato ao Governo de SP
AGORA É OFICIAL: em São Paulo o Auxílio será de R$ 800! Eleito governador, vou criar o Auxílio Paulista no valor de R$ 200 pra quem recebe o Auxílio Brasil. Ou seja: o valor vai a R$ 800. Além disso, vou colocar mais pessoas pra receber o benefício. #Vote13
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Fernando Haddad fez a Tarcísio a pergunta que os eleitores e eleitoras de São Paulo estão fazendo: por que a equipe de Tarcísio mandou apagar as imagens? Haddad lembrou ao seu adversário que a destruição de evidências de um suposto crime é um ato ilegal.
“A polícia é que decide manter ou não em sigilo a imagem. Esse procedimento é um absurdo. Pergunte para qualquer delegado se uma pessoa pode levar alguém que fez imagens de um crime e determinar que ela seja apagada. Pode comprometer a investigação. Isso gera suspeição. A sociedade está se perguntando o porquê disso”, afirmou Haddad.
Fiz a pergunta que todo eleitor está se fazendo: por que a equipe do Tarcísio mandou um cinegrafista apagar imagens do tiroteio em Paraisópolis?
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Haddad foi incisivo ao analisar a falta de identidade do adversário, que nasceu no Rio de Janeiro e nunca morou em São Paulo antes das eleições, para com o estado.
“Tarcísio, você não fez nada por São Paulo, você passou quatro anos lá [no Ministério da Infraestrutura] e asfaltou 18 quilômetros, não dá pra asfaltar uma avenida em São Paulo. Você conhece a Avenida Sapopemba? Já passou por lá? Não deve ter passado nunca por lá. E a maior avenida da cidade de São Paulo. Você sabe quantos quilômetros tem a Av. Sapopemba? Sabe? São 40 quilômetros!”, indagou.
No debate, Haddad também questionou seu adversário sobre o desmonte promovido pelo governo de Jair Bolsonaro que acabou com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e também não aplicou nenhum reajuste na merenda escolar, que aumentou ainda mais a insegurança alimentar da população mais vulnerável.
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Fernando Haddad
Quem se alimenta com R$ 0,36 centavos por dia? #HaddadNaGlobo
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Na sua ofensiva a respeito dos desmontes dos programas sociais conquistados durante os governos do PT, como o Farmácia Popular e o Minha Casa Minha Vida, além do corte de verbas para a Educação, Haddad mostrou mais uma vez que a prioridade do governo de Bolsonaro é com o orçamento secreto, em detrimento da defesa da vida do povo brasileiro.
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Fernando Haddad
O bolsonarismo cortou verba da Farmácia Popular, da educação e acabaram com o Minha Casa Minha Vida. Mas para o orçamento secreto, não falta dinheiro. Não queremos isso para São Paulo. Aqui o povo tem que ser prioridade.
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No último bloco do debate, Fernando Haddad taxou de inconsistentes as propostas de Tarcísio para o estado e afirmou que o plano do bolsonarista poderia ser apresentado em qualquer estado do país diante da falta de compromissos específicos com São Paulo.
“Você não tem plano de governo. Não tem uma meta, um compromisso. Você falou que é a favor do Bilhete Único Metropolitano. Nada consta. Não consta a palavra “fome” no seu programa. Não consta “Etec nem Fatec”. Você leu seu plano? Eu li. O plano poderia ter sido apresentado no Paraná. Não mudaria nada. Não tem nada específico sobre São Paulo, serve a um propósito geral”, enfatizou Haddad.