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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

31
Mar22

Depois de arrecadar R$ 575 mil em “vaquinha leiteira" Dallagnol volta a atacar Lula, e tira sarro da justiça frouxa por punição inútil e irrisória 

Talis Andrade

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Condenado a indenizar o ex-presidente em R$ 75 mil por danos morais por causa do caso do PowerPoint, ex-procurador da Lava Jato diz ter recebido 12,7 mil doações espontâneas em menos de uma semana

 

O ex-procurador da operação Lava Jato Deltan Dallagnol anunciou que solicitou, na terça-feira (29), o bloqueio de sua chave Pix, após ter recebido R$ 575 mil em doações para pagar uma indenização ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dallagnol foi condenado pela 4.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) a pagar R$ 75 mil a Lula, por danos morais, após ter apontado o petista como chefe de uma organização criminosa na já famosa “apresentação do PowerPoint”, em 2016.

Na quinta-feira, dia 24, Dallagnol anunciou que já havia arrecadado R$ 500 mil e aproveitou para atacar Lula. No dia anterior, o ex-procurador havia dito que destinaria o valor que excedesse a indenização para o tratamento de crianças autistas ou com câncer — até então eram R$ 130 mil, segundo ele.

Após a revista Veja publicar que Lula queria aumentar o valor da indenização para usar o dinheiro em uma “festa de casamento”, Dallagnol passou a acusar o ex-presidente. “Ele quer pegar para ele e quer usar no casamento. Não passa na cabeça dele ajudar essas crianças, ele só pensa nele mesmo”, disse em vídeo postado no Twitter.

Em entrevista ao jornal O Globo, publicada na sexta-feira (25), Dallagnol garantiu que não tinha pedido para ninguém fazer doações. Segundo a colunista Bela Magale, ele recebeu “um pix a cada 15 segundos” de todas as partes do Brasil. “Se me perguntassem, ia falar para não doar. Ficaria constrangido, não faria uma vaquinha. Imagino que pessoas pegaram meu CPF na internet e começaram a fazer pix”, disse o ex-procurador à coluna.

As postagens mostram no mínimo uma relação estabelecida ao sabor da vontade do ex-procurador. Dallagnol garantiu não ter pedido doações, mas, já que as pessoas procuraram seu CPF na internet e fizeram depósitos mesmo contra sua vontade, Lula passa a ser responsável por tirar dinheiro das crianças doentes para fazer uma festa de casamento (segundo a revista Veja), já que os recursos excedentes serão destinados, diz o ex-procurador, ao tratamento de crianças com câncer ou autismo.

 

Aceitável

 

Questionado pelo Plural se considera um ato aceitável receber doações para pagar uma indenização imposta pela Justiça e culpar o autor da ação por supostamente tentar usar recursos que seriam destinados ao tratamento da saúde de crianças em uma festa (na versão da revista Veja), algo que não tem nenhuma relação com o processo ou com o fato que o motivou, Dallagnol, por meio de sua assessoria, respondeu que Lula só busca aumentar o valor da indenização (que já estaria perto de R$ 100 mil, com correção monetária) por causa dos valores doados espontaneamente.

“Ele (Lula) afirmou publicamente que buscaria aumentar o valor da indenização por causa das doações. Ou seja, o fundamento da sua pretensão é o fato de que muitas pessoas fizeram doações. Ele quer, com isso, aumentar o valor da indenização original para receber os valores das doações que Deltan se comprometeu a destinar para crianças com câncer ou autistas”, diz a nota. “Neste caso, é evidente que o ex-presidente está, sim, querendo para si o valor que Deltan já se comprometeu a destinar a crianças com câncer e autismo.”

Na nota, a assessoria nega que Dallagnol tenha acusado Lula de “tirar dinheiro de crianças” por causa da condenação. “A decisão será cumprida caso não sejam acatados recursos em instâncias superiores. O que o ex-procurador considera inadmissível é que o ex-presidente, ao saber de uma campanha espontânea que arrecadou mais de R$ 500 mil em poucas horas, tente usar isso como argumento para aumentar a indenização que busca receber, mesmo sabendo que o dinheiro remanescente será doado para crianças com câncer e autismo.”

Segundo a assessoria, não se trata da primeira doação feita pelo ex-chefe da força-tarefa da Lava Jato. “Deltan já realizou outras doações anteriormente. Em 2016, por exemplo, destinou R$ 219 mil para auxiliar na construção do Hospital Erastinho, o primeiro exclusivamente oncopediátrico do sul do país. Ao longo dos últimos anos, Deltan contribuiu para várias ações filantrópicas”, afirma a nota.

Para o ex-chefe da força-tarefa da operação Lava Jato em Curitiba, o objetivo de Lula ao mover a ação foi “atacar e punir aqueles que lutam contra a corrupção no Brasil”. Trata-se de uma clara retaliação do sistema aos profissionais que dedicam sua vida a investigações de desvios de recursos públicos, que deveriam ser destinados a melhorar a vida da população”, diz a nota enviada pela assessoria.

 

Destinação dos recursos

 

Pré-candidato a deputado federal pelo Podemos, Dallagnol não poderia utilizar a totalidade de recursos arrecadados na campanha, segundo a advogada

 Juliana Bertholdi, especialista em Direito Eleitoral. As campanhas de arrecadação para fins eleitorais só podem ser realizadas a partir do dia 15 de maio. “Além do respeito às datas, a vaquinha só pode ser realizada através das plataformas autorizadas pelo TSE. O resgate dos valores está condicionado ao Registro da Candidatura”, informou a advogada.

A única forma de utilizar estes recursos em campanha seria classificá-los como “recursos do próprio candidato”, valor limitado a 10% do total empenhado na campanha. Ainda assim, explica a advogada, por causa da origem, o uso poderia ser questionado por adversários.

Em seu perfil no Twitter, o ex-procurador prometeu esclarecer a destinação dos recursos nos próximos dias. “Em breve, trarei informações sobre a prestação de contas desses valores, incluindo o tipo de aplicação em que estão e os rendimentos, e também sobre o julgamento, já que agora temos a chance de não só derrubar essa condenação injusta, mas ajudar crianças com câncer e autismo.”

 

Solidariedade

 

As doações a Deltan Dallagnol também chamaram a atenção pelo fato de o ex-procurador, aparentemente, não precisar de ajudas financeiras. Segundo o site De Olhos nos Ruralistas, a família Dallagnol detém extensas propriedades nos estados do Mato Grosso e Amazonas.

No auge da operação Lava Jato, o então coordenador da operação tratou com outro procurador da República, Roberson Pozzobon, sobre a abertura de uma empresa para gerenciar suas palestras. Em setembro de 2018, ele teria apurado um lucro líquido de R$ 232 mil com palestras, proferidas na condição de coordenador da força-tarefa. “Dá uma média de R$ 10 mil limpo”, afirmou em uma conversa pelo aplicativo Telegram, segundo matéria da Vaza Jato, como ficou conhecida a série de reportagens feita pelo The Intercept Brasil em parceira com outros veículos. Em 2016, o lucro com palestras teria sido de R$ 219 mil.

Em 2019, o salário bruto do então procurador era de R$ 33.689,11 por mês, segundo o portal de transparência do MPF, total que poderia superar a marca de R$ 430 mil ao fim do ano. No ano anterior, de acordo com o The Intercept Brasil, ele recebeu cerca de R$ 300 mil em rendimentos líquidos, sem considerar valores referentes a indenizações.

Mesmo assim, informou Deltan Dallagnol em sua conta no Twitter, milhares de brasileiros procuraram seu CPF na internet e fizeram 12.740 depósitos em sua conta, com um valor médio de R$ 45, em menos de uma semana.

31
Mar22

LAÍS ABRAMO – UM RETRATO DA DITADURA

Talis Andrade

 

lais abramo

Teia Blog

Laís Abramo no dia 9 de Maio de 1998 escreveu seu depoimento de sua vivência nos períodos de 1972 e 1973, entre um dos momentos de maior repressão policial (72-75) onde a CJP-SP (Comissão de Justiça e Paz) se dedicava inteiramente para prestar assistência material e jurídica aos presos, torturados e desaparecidos,  momento esse em que a participação da Igreja Católica foi essencial para a defesa dos direitos humanos junto  às comissões de justiça e paz.

Laís hoje trabalha com a direção do escritório da Organização Internacional do Trabalho no Brasil, leia “Trabalho Decente (“O conceito de trabalho decente se apóia em quatro pilares estratégicos: os direitos e princípios fundamentais do trabalho, a promoção do emprego de qualidade, a extensão da proteção social e o diálogo social”- Laís Abramo)

Segue o depoimento de Laís Abramo:

Eu entrei na Ciências Sociais da USP em 1972. O clima era barra pesada. Sensação de medo, não se podia falar muito, os corredores estavam cheios de tiras, as paredes tinham ouvidos. Os “veteranos” estavam marcados pelas histórias das muitas prisões ocorridas no ano anterior: a mais terrível delas era a de um colega do noturno que havia sido preso pelo pessoal da OBAN em plena sala de aula.


Mas também havia muita expectativa: não era pouca coisa estar na USP, no curso de Ciências Sociais. Apesar da sensação de estar vivendo “o fundo do poço”, imediatamente pudemos sentir também os efeitos do que depois eu vim a entender como uma característica bastante especial da Universidade brasileira em tempos de ditadura (comparada com o que aconteceu em outros países como Chile, Argentina, Uruguai). Ela não foi destruída na mesma medida em que as outras o foram.


Na Ciências Sociais isso era muito concreto: apesar das prisões e “aposentadorias” compulsórias que atingiram muitos alunos e professores, havia toda uma nova geração de professores, excelentes, que continuavam a luta. Não houve o corte brutal que houve em outros casos. E isso foi fundamental, não apenas para manter a qualidade do ensino, como para que a USP se transformasse, naqueles anos, numa verdadeira “aldeia gaulesa” de resistência à ditadura.


1973: começo do ano, nossa primeira grande “tarefa” como diretoria do CEUPES, depois do Plebiscito que havíamos realizado no final do ano anterior contra o Ensino Pago, era organizar a recepção aos calouros. E lá fomos nós. Fim da primeira semana de aula, sábado à tarde, choppada nos Barracos. Chega o Bom-Bom, um amigo da Geologia, agitado, assustado: “O Minhoca caiu. Tenho certeza que ele não vai abrir”. “Minhoca” era o apelido de Alexandre Vannuchi Leme. Aquilo me assustou.


Meio da semana seguinte: estávamos fazendo, à noite, uma reunião de avaliação da semana dos calouros na casa de uma colega. De repente, agitadíssimos, chegam dois amigos da Geologia: “Mataram o Minhoca”. Tinha acabado de sair a maldita notícia. No rádio, acho. Perplexidade total. Esse a gente conhecia de perto. Esse não estava na clandestinidade (nas semanas anteriores, vários outras pessoas tinham sido assassinadas pela ditadura, na tortura ou no meio da rua). O que fazer? Lembro, como se fosse hoje, da discussão: difícil, tensa (só como nota de rodapé: tínhamos, todos, 20 anos ou menos; eu tinha 18). Havia duas posições. A primeira: não podemos fazer nada; fazer alguma coisa agora será dar mais pretexto para que a repressão caia mais ainda em cima da gente (ela é muito forte, nós somos muito fracos). A segunda: nada disso, não dá, temos que fazer alguma coisa, porque se a gente ficar parado, quieto, aí que eles vão cair em cima cada vez mais. Lembro claramente do Bino e do Armando defendendo essa segunda posição.


Saímos de lá sem saber o que fazer, com a questão em aberto. Era tarde, 11hs, ½ noite, a gente andando, na escuridão, aqueles 3 ou 4 quarteirões da casa em que estávamos até a Av. Faria Lima. A minha sensação nítida é que a qualquer momento apareceria um camburão da OBAN para nos prender. Insegurança total, desamparo.


Fomos até a casa de um amigo da Poli, tentar juntar mais gente para saber o que fazer: os amigos um pouco mais velhos, com um pouco mais de experiência (alguns haviam participado de alguma forma das lutas de 68), o pessoal do Centro Acadêmico XI de Agosto, que eram aprendizes de advogado. Os advogados eram figuras importantíssimas na época (os que eram “do Bem”, é claro): sabiam entender mais a repressão, davam uma certa sensação de proteção naquele contexto de imensa desproteção.


Mas enfim, naquela noite de março de 1973, acabamos indo todos para minha casa, pedir a opinião do meu pai, pedir que ele nos ajudasse a pensar (já nos sentíamos muito responsáveis pelo que iria acontecer no dia seguinte na Universidade). Porque ele era de esquerda, mais experiente, e jornalista. E os jornalistas também eram muito especiais na época. Supunha-se que, no meio de toda aquela desinformação provocada pela censura e pela total falta de transparência dos processos decisórios, em todos os níveis, eles tinham um pouco mais de informação: fofocas palacianas, brigas entre os militares, tendências da repressão, possíveis golpes e contra golpes. Mas acho também que, além de todas essas razões, fomos conversar com ele aquela noite porque a sensação de pequenez e desamparo era tão forte, que precisávamos mesmo ter uma figura de pai por perto. Ele e a minha mãe foram acordados àquela hora da noite e nós ficamos lá conversando por bastante tempo. Não me lembro o que concluímos. Lembro que cheguei na USP no dia seguinte com a mesma dúvida: o que fazer?


Mas logo de manhã a questão foi resolvida. O pessoal da sala do Alexandre, ao chegar na escola pela manhã, e ao receber a notícia, sem muita análise, sem muita discussão, resolveu interromper as aulas e se declarar em Assembléia Permanente. O conjunto da escola aderiu imediatamente. O que tinha acontecido era realmente inaceitável. O Minhoca era um cara muito querido. A indignação venceu o medo.


Isso deu o rumo para todos nós. Assembléias gerais nas escolas, decretação de luto na Universidade. Era uma 6a feira. Pusemos faixas negras nos prédios em sinal de luto. No dia seguinte todas haviam sido retiradas pela repressão.


Aí veio a idéia (que também nos parecia inexequível, num primeiro momento) de pedir para o D. Paulo Evaristo Arns rezar uma missa na Catedral da Sé. Parecia inexequível porque pouco tempo antes ele havia se recusado a rezar uma missa pelo “Otavinho”, um agente da OBAN que havia sido “justiçado” por uma organização de esquerda. E o Alexandre era apresentado pelos jornais como um “perigoso terrorista da ALN”.

 

As negociações duraram vários dias. Até que o D. Paulo, num imenso ato de coragem e dignidade, aceitou rezar a missa. Que foi celebrada na sexta-feira, pleno 30 de março, um dia antes do 9o aniversário do Golpe de 1964.


A missa: Sérgio Ricardo cantando Calabouço, os agentes da OBAN filmando ostensivamente, fixamente, por segundos ou minutos que pareciam eternos, a cara de cada um de nós, a família do Alexandre, o pessoal da Geologia. Presente o tempo todo a sensação de que a polícia poderia cercar a Igreja e prender todo mundo.


Sérgio Ricardo cantando Calabouço: Edson Luís em 68, Alexandre Vanucchi Leme em 1973. Tênuamente começávamos a refazer os fios da história, uma história que havia sido cortada, brutalmente interrompida. O texto da missa falava do “nosso irmão Alexandre, morto misteriosamente”, reivindicando o seu exemplo de luta (“para que a sua vida e morte não tenham sido em vão”). Esse Alexandre que a repressão havia dito que era um “perigoso terrorista”, e que havia sido morto atropelado por um caminhão numa tentativa de fuga ao receber a ordem de prisão. Pode parecer pouco hoje, mas naquele momento tratava-se de uma disputa simbólica, de uma disputa pela linguagem, pelas versões da história, que era de importância crucial. O texto fazia referência também ao primo dele, Paulo de Tarso Vannuchi (“para que se encontre em breve entre nós”), que estava preso na época, também acusado de “terrorismo”.


Na saída da missa, a polícia estava lá fora. Ninguém sabia direito o que fazer. Para todos nós aquilo era inédito. Medo de possíveis provocações (a Catedral estava, realmente, repleta de agentes da OBAN e outros “tiras”). Alguém teve a idéia (acho que foi o pessoal que preparou o texto da missa) de puxar o “Caminhando e cantando e seguindo a canção…”. Além de muito emocionante, foi realmente uma saída muito inteligente. E inaugurou outro símbolo, outro código daquela época, que nos serviria muito, muitas vezes mais. Apesar disso, vários estudantes foram presos na saída da missa.


Na segunda feira seguinte a USP não era mais a mesma. Era um pouco melhor. Todos nós éramos um pouco melhores. E um pouquinho mais fortes. Não há nenhuma dúvida que o Bino e o Armando tinham toda razão na discussão daquela noite.

Siga @LaísAbramo no twitter https://twitter.com/LaisAbramo

31
Mar22

Entre Braga Netto e a memória de uma menina de dez anos, é fácil saber quem tem algo a dizer sobre o golpe de 64

Talis Andrade

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Por Paulo Moreira Leite

Num país onde a memória histórica segue uma construção difícil, o 31 de março de 2022 será marcado por dois textos que apresentam visões opostas a respeito do golpe militar que sangrou a sociedade brasileira com violência jamais vista, agravou a dependência e deixou uma herança de violência e ameaças à democracia que sobrevivem até os dias de hoje. 

Um deles -- a nova versão de uma ordem do dia assinada pelos comandantes militares nesta data -- já é uma tradição no 31 de março.  Encabeçado pelo ministro da Defesa, o texto de 2022 repete a propaganda-padrão estabelecida pelo regime militar, num conjunto de afirmações absurdas e raciocínios desconexos. Alinhava fantasias como o "legado de paz, liberdade e democracia," que seriam apenas risíveis se não tivessem a função de tentar esconder desastres econômicos, tragédias sociais e crimes políticos identificados e reconhecidos há muito tempo pelos brasileiros e brasileiras. 

No texto "Memórias do golpe", escrito em 2014, disponível no Brasil 247 e neste espaço desde ontem, a socióloga Laís Abramo, que tinha pouco menos de dez anos na época, não faz propaganda nem luta ideológica.

Laís fala de fatos,  que testemunhou em Brasília, onde seus pais foram residir em 1962, como professores da UnB, convidados por Darcy Ribeiro.

Com a simplicidade de quem procura recuperar a vida vivida sem retoques, Laís fala do medo dentro de casa, que tomava corpo nas vésperas do 31 de março, quando crescia a convicção de que "deveríamos esperar pelo pior".

O texto recorda os comentários ouvidos quando  tropas invadiram a Universidade, episódio que anunciou a brutalidade que estava por vir. Descreve uma marcha de tanques pela W-3, principal avenida da Capital Federal. Fala da prisão do pai, o jornalista Perseu Abramo, referência de várias gerações, não só pelo rigor profissional, mas pela capacidade de manter-se leal às próprias convicções e princípios.  

A vida humana está lá, sem retoques, numa família de professores e quatro crianças -- entre dez anos e seis meses. Despretensioso, sem nenhuma ambição além de recuperar as próprias lembranças, tem a beleza única dos textos de quem não precisa mentir.

Alguma dúvida?

 

 

 

 

 

31
Mar22

Defender a Democracia e Liberdade e Fraternidade contra o golpe militar que prende, tortura e mata

Talis Andrade

 

 

II - Em solidariedade a Aroeira, artistas recriam sua charge sobre Bolsonaro e gritam ditadura nunca mais, tortura nunca mais

 
Jonesy Cartoons
@jonesycartoons
Cartoonists are redrawing an attacked cartoon by in protest against oppression in Brazil. Here's mine, which also reflects Bolsanaro's appalling record on #COVID19 More here: cartoonists-rights.org/cartoonists-ta#chargistascontracensorship #SomosTodosAroeira @CRNetIntImage
MarshallNotFunny
@marshallcartoon
Worrying stories of cartoonists being persecuted in Brazil as part of a wider attack on freedom of expression. Cartoonists are redrawing an attacked cartoon by
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Ciane Lima
After the Ministry of Justice asked to open an investigation to investigate a cartoon by Renato Aroeira that associates Jair Bolsonaro with Nazism, cartoonists and cartoonists joined in defense of their colleague.
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Terry Anderson
@Schism_Schasm
In solidarity with Renato @Aroeiracartum and all cartoonists targeted in Jair Bolsonaro's #Brazil. Full story at: cartoonistsrights.org/cartoonists-ta#chargistascontracensorship #somostodosaroeira #CensuraNão
 
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Soraia: fazer e pensar arte é um ato político.
@soraiacomi1
#SomosTodosAroeira em Joinville, Santa Catarina, Brazil
instagram.com
⃤Soraia Silva (@soraia.com.i) • Instagram photo
Mario Alberto
@MarioACharges
Depois do Zedassilva, do Quinho, depois de todo mundo (talvez até já tenham feito algo assim por aí). De qualquer forma, achei que valia a pena reforçar o tema. #SomosTodosAroeira
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HH
Aí vem uns minions na minha TL e manda eu ir p/ Cuba; Venezuela ; Argentina e etc...Mano eu devia ter ido antes desse miliciano arrombado fuder com a imagem do Brasil e do brasileiro. Eu quero ir kralho o q me impede é q nenhum país no  quer nos receber. #SomosTodosAroeira
Adão Iturrusgarai
Agora o governo deu para perseguir chargistas. Não sei se é cortina de fumaça, falta do que fazer, fascismo, ou tudo isso junto. Eu já tomei processo por causa de cartum, sei bem o que é isso. #SomosTodosAroeiraImage
Distopia Brazil
@Douglas86736732
Luciano Félix
A charge não quer dizer que o presidento é associado ao partido nazista... basta o mínimo de inteligência para a simples interpretação.Image
Gisele_ Incomodando
Somos todos Aroeira.Image
SAJO
@SamuelSajo
 
Ju 
@JuPoroloniczak
 
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revoltirinhas
algo muito triste aconteceu com o chargista Renato Aroeira que foi censurado e está sendo perseguido. Todo meu apoio a Aroeira.
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Graceta do Povo - A política na bufonada
Nosso total apoio ao e a qualquer cartunista que exercer seu legítimo direito de expressão e crítica. Censura jamais!! Arte: Romahs
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Daniel Sousa já está fazendo gibí novo
@bomdiavermes
poxa, mas não pode mencionar essa charge, né? nem fazer a sua....
 
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Vera Vacinalover 
@Verasmgomes
Replying to
Muito bom! Eu gostei muito dessa aqui #SomosTodosAroeiraImage
31
Mar22

Lição de Democracia e Liberdade e Fraternidade para quem conspira o golpe, trama a ditadura, a tortura, o exílio e o fuzilamento do inimigo

Talis Andrade

 

Em solidariedade a Aroeira, artistas recriam sua charge sobre Bolsonaro e lançam abaixo assinado 

 

por Mônica Nunes /Conexa o Planeta

Charges, cartoons e ilustrações produzidos com talento traduzem muito bem – e com grande efeito – a realidade. E os artistas que se dedicam à essa arte – do desenho, da boa leitura e da interpretação dos fatos – têm nos ajudado a enfrentar o cenário inóspito e cada vez mais tenebroso promovido por Bolsonaro desde que assumiu o governo, em janeiro de 2019.

São um alento ou uma provocação contra a inércia como as charges criadas por Renato Aroeira, um dos mais importantes artistas brasileiros desse tipo de manifestação artística, que, esta semana, foi alvo de mais uma arbitrariedade cometida pelo ministro da justiça, André Luiz Mendonça, ex-Advogado Geral da União que assumiu a vaga deixada por Sergio Moro em abril. Tudo por causa da charge abaixo:

Angeli

Com a charge “polêmica”, Aroeira criticou a declaração de Bolsonaro que incitava seus seguidores a invadirem e filmarem hospitais, alegando que não falta estrutura para atender os pacientes com covid-19 (pelo menos dois casos de invasão foram registrados). Ela foi publicada no site Brasil 247 e reproduzida pelo jornalista Ricardo Noblat (em seu Twitter), que também foi incluído na investigação.

Rapidamente, uma onda de solidariedade uniu chargistas, escritores e jornalistas e invadiu as redes sociais com um movimento que ganhou o nome de #somostodosaroeira. Foi criado um abaixo assinado online  Pela liberdade de expressão, em solidariedade ao cartunista Aroeira – que, no mesmo dia, já reunia mais de 10 mil assinaturas e, no terceiro dia, já chegou à meta de 75 mil, que foi aumentada para 150 mil. Assina, lá!

Mas o movimento não ficou restrito à petição. Cerca de 70 chargistas do Brasil e do exterior começaram a publicar releituras da charge de Aroeira. Cada um, com seu estilo, reproduziu o desenho e assinou com o artista. Ou seja, o movimento em resposta à ameaça de Mendonca, produzirá cerca de 70 desenhos parecidos. Pois é… o governo vai abrir inquérito contra todos, agora?

“Estão fazendo uma coisa maravilhosa, que eu nunca tinha visto… Fiquei muito emocionado com isso”, declarou Aroeira ao colunista Chico Alves, do UOL. “É bobagem brigar com gente que só estava fazendo piada. Porque rindo você castiga com uma força, rapaz…”.

Gladson Targa

Nessa conversa, ele destaca uma característica intrínseca dos chargistas, que somente as pessoas obtusas não conseguem entender. O fio condutor que os move é o desrespeito. Por excelência. O objetivo é ridicularizar. “A gente mostra que aquela atitude que todo mundo está achando pomposa, circunspecta e séria, na verdade, é uma calhordice ridícula. É como se disséssemos: a sua anágua está aparecendo. Mostramos a roupa íntima, a bunda… o rei está nu. A gente é desrespeitoso por natureza”.

Aroeira lembra também que a maioria desses profissionais é humanista e, por isso, cada vez mais, bate nos opressores e não nos oprimidos, como antes. Para ele, os oprimidos mudaram sua atitude e estão mudando o mundo. E, nesse cenário, a charge pode funcionar como uma “força auxiliar”. Ele explica: “A gente ajuda as pessoas a rirem, a apontarem para o inimigo e rirem dele, ridicularizá-lo, ajudamos a fazer uma catarse ou outra, que é sempre bom”.

E a charge continua…

Latuff

Todas as reproduções e releituras da charge de Aroeira têm sido identificadas pelos artistas com a frase Charge Continuada. Exceto as que foram criadas para criticar a atitude de Mendonça ou se utilizam do tema com outro viés que não o de copiar o que foi feito por ele, como a de Angeli (que reproduzi mais acima), Latuff, Nando Motta e Quinho.

Quinho (acima e abaixo)

E, apesar do incomodo que causou a ameaça de ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional, Aroeira não vai “dar um tempo”. Ele revelou que já está fazendo a continuação da charge de Bolsonaro nazista: “É a mesma charge, só que agora com o ministro da Justiça e o Wajngarten, da Secom, passando pano e limpando a sujeira que o Bolsonaro tinha feito”, contou à Alves.

Do ponto de vista político, Aroeira considera a atitude do ministro como “um baita tiro no pé” já que deu à sua charge muito mais visibilidade do que se tivesse ficado restrita ao site Brasil 247 e ao twitter de Noblat.

Para rebater a acusação de calúnia, citou a atitude de Picasso quando foi abordado por um oficial nazista em frente à tela Guernica. ‘Você fez isso?’. E o pintor espanhol respondeu: ‘Não, vocês fizeram’. Então, parafraseando Picasso, se Aroeira fosse abordado por Bolsonaro e perguntasse se, com a charge polêmica, ele o estava chamando de nazista, o artista responderia: ‘Não, você próprio se chamou de nazista. Eu só desenhei’. Perfeito.

A maior besta

Durante as campanhas para a eleição presidencial de 2018, uma charge de Aroeira, de 1993, se espalhou pelas redes, talvez como um apelo bem humorado e perspicaz para que os incautos observassem quem era, de fato, aquele que estava sendo apontado como a salvação da Pátria.

O artista desenhou Bolsonaro como uma espécie de dinossauro usando botas de militar nas quatro patas e o chamou de Estupidossauro Bolsonarus: a maior besta que já caminhou sobre a face da Terra. Na época, o atual presidente era um medíocre deputado federal que já falava em fechar o Congresso Nacional e entregar o governo aos militares. Só mudou de cargo.

A campanha não surtiu efeito, é verdade. Nem mesmo a divulgação de vídeos de entrevistas em que Bolsonaro dizia, em alto e bom som, que a ditadura militar foi incompetente porque deveria ter matado uns 30 mil – só a COVID-19, devido principalmente à inépcia de seu governo, já matou 43 mil pessoas! – e dizimado os indigenas como os americanos, demoveu 38% dos brasileiros da ideia de votar nesse cara.

Muita gente chegou a dizer que ele estava brincando quando dizia essas sandices. Outros argumentavam com a justificativa de que, pelo menos, ele era sincero. Viram o que quiseram e, junto com aqueles que se omitiram nas eleições (votaram em branco e nulo), colocaram os brasileiros nas mãos de um facínora.

Então, um viva aos chargistas, cartunistas e ilustradores que, todos os dias – em jornais, sites e redes sociais -, nos ajudam a driblar o desespero e a nos fortalecer para continuar lutando por democracia, por liberdade e pela vida!

Fontes: UOL, Folha de São Paulo, Correio Brasiliense, Twitter Noblat

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.

 

31
Mar22

Atrevimento das cúpulas militares com ordem do dia é consequência da impunidade

Talis Andrade

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por Jeferson Miola 

A existência da ordem do dia cretina, alusiva ao golpe de 1964, é consequência direta da impunidade concedida pelo poder civil aos terroristas de Estado que depois de derrubarem por meio de um golpe armado o governo de João Goulart, perseguiram, torturaram e assassinaram os próprios brasileiros.

As cúpulas militares partidarizaram e milicianizaram as Forças Armadas. Os atuais comandantes são o subproduto dos porões mais fétidos da ditadura.

Usufruindo da impunidade que lhes foi erroneamente concedida pela sociedade civil, ao longo desses últimos 30 anos de débil rotina democrática eles agiram secretamente como cupins que devoram a madeira. Infestaram as instituições de Estado, corroeram a democracia para debilitá-la e, assim, conseguirem golpeá-la novamente – desta vez, porém, com a falsa aparência de legalidade.

Os comandantes militares que assinaram a ordem do dia alusiva ao golpe de 1964 representam a renovação geracional da tradição mais anti-profissional, mais conspirativa e golpista da história das Forças Armadas.

Eles são herdeiros da facção que não aceitava nem mesmo a “transição lenta, gradual e segura” do ditador Geisel.– aquele bando que queria a continuidade da ditadura; queria um projeto não só duradouro, mas permanente de poder militar no país.

Mesmo com o fim da ditadura estes conspiradores nunca deixaram de se organizar secretamente e nunca deixaram de atuar politicamente. Infestaram, parasitaram e apodreceram as instituições de Estado, como hoje se percebe de maneira cristalina.

Eles perderam totalmente a confiança e o respeito. As Forças Armadas, comandadas por esta gente, já não podem ser consideradas como instituições de Estado, porque agem como milícias oficiais fardadas que consideram como inimigo o próprio povo brasileiro. Mas, na realidade, são eles mesmos os maiores inimigos da sociedade brasileira e a grande ameaça ao pouco que ainda resta de democracia no Brasil.

A diferença entre essas milícias oficiais e as milícias paramilitares bolsonaristas é que as segundas [ainda] não ganham salários, mordomias e aposentadorias vitalícias pagas pelo Estado. Já as primeiras consomem todo ano mais de R$ 110 bilhões do orçamento público para bancar suas regalias e para financiar seu projeto de poder anti-soberania e anti-povo.

O atrevimento das cúpulas militares com a ordem do dia que considera o 31 de março de 1964 como um “movimento”; “um marco histórico da evolução política brasileira [que] refletiu os anseios e as aspirações da população da época” é o filho bastardo da impunidade.

O Brasil deveria seguir o caminho da Argentina, onde ditadores assassinos foram processados, condenados e alguns pagaram pelos seus crimes e pelo terror de Estado até o último dia da vida na prisão.

Basta de impunidade. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!Image

31
Mar22

Nunca mais, general

Talis Andrade

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Sim, 1964 é um 'marco histórico', como nos diz Braga Netto, mas não pelas razões que ele e seus seguidores ultradireitistas apontam

 

Por Denise Assis /Jornalistas pela Democracia

A ordem do dia do general e ministro da defesa, Walter Braga Netto, vai além de “comemorar” uma data que não é para ser comemorada, mas sim lembrada, para que não se repita. Quer dizer, repetir o golpe eles já repetiram, mas pelo menos devemos nos proteger dos seus desdobramentos: a montagem de um aparato de repressão que levou à morte e ao “desaparecimento” 433 presos políticos sob a tutela do estado e, portanto, sob a responsabilidade de instituições que tinham poder sobre as suas vidas e o dever de preservá-las.  

A nota traduz o caráter sabujo do general, a sua subserviência e a sua volúpia pelo poder que galgou na nova posição - a de ministro de estado -, e de quem goza de trânsito no gabinete presidencial e aufere rendimentos muito além dos que obteria na caserna. A nota lamentavelmente é corroborada pelos comandantes das Forças Armadas, que tanto quanto o chefe, se curvam.

Braga Netto, desde aquele março de 2019, quando o Rio de Janeiro presenciou um crime brutal, de caráter político, sob suas vistas de interventor, está indelevelmente ligado a Bolsonaro e este, por sua vez, ao general. O interventor tem razões de sobra para ter espaço junto a Bolsonaro. Ignorou a atuação das milícias. E Bolsonaro tem o dobro de razões para querer que Braga esteja sob seus olhos. Teme por si e por seus “filhinhos”. Parodiando a fala do ex-ministro Jarbas Passarinho (na época ministro do Trabalho), na assinatura do Ato Institucional nº 5 - AI-5, "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”. O que vale mesmo é salvar a si e às suas convicções. Importa mesmo é o equilíbrio no poder, em ambos os casos. Então, convém praticar o conteúdo da velha marchinha, aumentando o cordão dos puxa-sacos.

Sim, 1964 é um “marco histórico”, como nos diz Braga Netto, mas não pelas razões que ele e seus seguidores ultradireitistas apontam. Mas por ter deixado atrás de si, já nas primeiras horas, dois mortos no Recife – estudantes, de 17 e 21 anos -, uma trabalhadora, e um trabalhador, no Centro do Rio, na Cinelândia, em frente ao Clube Militar. Foram 50 mil prisões imediatamente ao golpe na conhecida “operação limpeza”, empreendida pelo “comando supremo da revolução”. 

E não porque essas pessoas fossem “comunistas”, pois esta ameaça era tão verdadeira quanto o é hoje, e quanto à “Cuca”, que vem pegar a crianças que não querem dormir. 

Foram arrancados dos seus postos cerca de sete mil militares do Exército e da Aeronáutica, discordantes da brutalidade recém instaurada e 4.500 homens do mar, acusados de serem seguidores do almirante Cândido Aragão, que apoiou a revolta dos marinheiros, contra as privações vividas na miserável vida de grumetes.

Ao longo dos 21 anos da fatídica manutenção do regime, a custa de um crescente aumento da violência, um exército imensurável de pessoas passou por prisões e sessões de tortura, nas mãos de militares responsáveis pela formação desses que aí estão. Já escrevi sobre isto e repito. Mourão, Villas Boas, Braga Netto e outros de sua faixa etária foram feitos oficiais, ouvindo as histórias e fanfarronices do que se jactavam de ter “prendido e arrebentado”. 

Analisar e compreender um fato ocorrido há mais de meio século, com isenção e honestidade de propósito, requer o aprofundamento sobre o que a sociedade vivenciava naquele momento”. Certamente, general. O momento era semelhante ao que acabamos de vivenciar, em 2016. Articulações conspiratórios no meio político, amparadas num bombardeio da mídia comprometida com interesses externos. Naquela época, fruto da influência e convivência dos oficiais brasileiros nos campos de batalha da Segunda Guerra, com o comandante americano, (e ex-secretário de Estado), Robert McNamara, que se tornou próximo do general Castelo Branco. E, em 2016, do vai e vem dos integrantes da força-tarefa da “operação Lava-Jato”, à CIA. “A história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização”. Totalmente de acordo, general. Não tente reescrevê-la, pois ela está toda documentada pelos seus, em documentos arquivados por vocês mesmos, que espumaram de ódio vendo pesquisadores comprometidos com a história e a liberdade, analisá-los e transformá-los em livros e artigos, revelando a atrocidade cometida nas fileiras e nas dependências de instituições do Estado brasileiro. Tampouco podem ser restituídos os 433 “CPFs cancelados” por seus pares. Esses nomes, general, não poderão ser reescritos, suas vidas não têm como ser restituídas, mas suas histórias, sim. Não perca seu tempo, portanto, se esgoelando contra o óbvio, o registrado em farta documentação aqui e nos EUA – a matriz dos golpes – que nos remeteram, pelas mãos do atual presidente, Joe Biden, então o vice americano, a verdade em documentos indesmentíveis. “Nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político, que resultou no restabelecimento da paz no País, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional” O senhor precisa estudar mais, general. O que levou os militares a desistir da permanência à frente do país foi uma inflação anual na casa de 227% no fim da condução do ditador João Figueiredo, que não suportou a força e o eco das ruas. O povo gritava a incompetência dos militares. Protestava contra a dívida externa quintuplicada, o arrocho salarial.“Neste ano, em que celebramos o Bicentenário da Independência, com o lema “Soberania é liberdade!”. Com toda razão, general. Quis o destino que a data coincidisse com a eleição para um novo presidente. Ordeiros, conscientes do fosso em que fomos novamente jogados, haveremos de reconquistar exatamente isto: “soberania e liberdade”, devolvendo-os aos quartéis, de onde não deveriam ter saído, pois política é para civis e não para militares. Na quarta-feira (30/03), em Parnamirim, o presidente ameaçou: "O povo armado jamais será escravizado. E podem ter certeza que (sic), por ocasião das eleições de 2022, os votos serão contados no Brasil. Não serão dois ou três que decidirão como serão contados esses votos. Defendemos a democracia, a liberdade, e tudo faremos, até com sacrifício da nossa vida, para que esses direitos sejam relevantes e cumpridos pelo nosso país"...

Um alerta, desta vez aos progressistas: os arroubos de um deputado fascista, que fez da Câmara Federal refúgio para a sua transgressão, bradando que lá é um espaço inviolável – e realmente o é -, pode ter sido apenas um ensaio do capitólio “patropi”. Podem ter em mente, ele e seu grupo, refugiarem-se lá, sob as asas do presidente da casa, Arthur Lira, refutando o resultado das urnas. Porém, o tilintar destas mesmas urnas pode ser de tais decibéis, que terão de sair de lá sob vara. “liberdade” e “democracia” são, sim, “valores inegociáveis”. Este portanto, é, sim, o ano de se comemorar a independência. A nossa independência, general.

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31
Mar22

A ditadura militar no Brasil torturou, matou e desapareceu com os corpos

Talis Andrade

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por Carlos Latuff

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A ditadura militar no Brasil torturou, matou e desapareceu com os corpos. Se estivéssemos numa nação de verdade e não uma republiqueta de bananas, os responsáveis por estas atrocidades deveriam ter sido julgados, presos e impedidos de fazer apologia ao golpe.

 

 

 

 

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31
Mar22

Marcas suspendem patrocínio nas redes sociais do vereador do Rio e youtuber bolsonarista Gabriel Monteiro

Talis Andrade

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Charge: Golpes digitais - Charges - Diário do Nordeste

 

 

por Redação Extra

Uma campanha destinada a retirar patrocínio das redes sociais do vereador do Rio Gabriel Monteiro já tem o apoio de pelo menos quatro marcas. O parlamentar tem cerca de 6 milhões de seguidores na internet e suas postagens acumulam até 50 milhões de visualizações. A campanha #DesmonetizaGabrielMonteiro é encabeçada pela Sleep Giants Brasil, movimento contra o financiamento de discursos de ódio e de fake news.

Relatos da equipe: 'O que mais doía era quando ele pedia para a gente forjar histórias com pessoas humildes', diz ex-assessor parlamentar de Gabriel Monteiro

Relatos da equipe: Ex-funcionários acusam vereador Gabriel Monteiro de assédio sexual, revela ‘Fantástico’

Segundo Leonardo Leal, diretor jurídico da Sleep Giants Brasil, das 15 empresas já contactadas, nove já responderam aderindo à campanha que, segundo ele está só começando. Ele disse que esse é um "trabalho de formiguinha", que para surtir o efeito desejado precisa atingir de cem a 200 marcas e dura em média dois meses.

— Não basta tirar as principais, que dão lucro (para o canal) e elas irem sendo substituídas por outras. O objetivo é conseguir o maior número possível (de adesões)— disse.

Leonardo Leal disse que a Sleep Giants Brasil já vinha monitorando, com preocupação, as redes do vereador há algum tempo, pela exacerbação da propagação de discursos de ódio e transfobia. Informou que a ideia da campanha se deve a três fatores: propagação de conteúdo nocivo, comportamento desinformativo e odioso, além de grande alcance de suas publicações.

— Quanto mais ele produzir (esse tipo de conteúdo) mais vai ganhar. Nossa lógica é desmonitizar o conteúdo, para que ele pare de ganhar dinheiro com isso — explicou.

Em resposta à Sleep Giants Brasil, a Buser publicou numa rede social " Estamos Cientes do ocorrido, nosso time já excluiu o canal da nossa lista de anúncios, e juntos com nosso time responsável vamos atualizar a lista de contas de acordo com nossa conduta". A postagem feita na tarde de quarta-feira acumula mais de 4 mil curtidas até as 8h desta quinta-feira. A assessoria de imprensa da empresa confirmou o bloqueio da Buser às contas de Gabriel Monteiro.

A Shopee publicou que "O canal não está de acordo com os valores da Shopee e nosso time de mídia já foi acionado para pausar os posicionamentos automáticos dos nossos anúncios". A Empiricus, empresa especializada em publicações de conteúdos financeiros e ideias de investimento, postou: " Já acionamos o nosso time de mídia para tomar as devidas providências em relação a exibição no canal."

A Estácio também aderiu à campanha e informou que não compactua "com nenhum tipo de violência. Já encaminhamos para o setor responsável retirar os anúncios".

Segundo o diretor da Sleep Giants Brasil também aderiram à campanha: a OI, Infinite Pay, Click Up e a Jeep.

Sem processo ou arquivamento: Em um ano, 7 denúncias na Câmara e nenhum processo contra Gabriel Monteiro

Declarações forjadas: 'Gabriel Monteiro orientou criança a falar que seu pai era alcoólatra', diz ex-assessor do vereador sobre vídeo publicado nas redes sociais

Terceiro vereador mais voltado do Rio (com 60.326 votos), Gabriel Monteiro (sem partido) é alvo de uma série de acusações e polêmicas. O Conselho de Ética da Câmara dos Vereadores do Rio vai reunir elementos até a próxima semana para avaliar se abre um processo contra ele, que pode até levar à cassação do mandato.

Antes dessa denúncia, ele foi alvo de sete representações, até hoje sem decisão final do Conselho. O programa Fantástico, da TV Globo, exibiu, em uma reportagem no último domingo (dia 27 de março) uma série de acusaçõs de ex-assessores sobre assédio sexual e moral.

A reportagem mostrou que o vereador foi acusado de assédio moral e sexual por cinco pessoas com quem o Fantástico falou. Entre elas há servidores, ex-funcionários e uma mulher que diz ter tido relações sexuais com o ex-PM.

Além destas acusações, a reportagem também mostrou que Gabriel Monteiro forjou cenas de seus vídeos no YouTube, como tiroteios ou ajuda a uma criança carente, expôs seus funcionários a outros tipos de assédio, além de cometer irregularidades no funcionamento de seu gabinete na Câmara Municipal do Rio.

No começo de março, o blog Sonar havia informado que em dez meses de um outra campanha, o Sleeping Giants Brasil havia conseguido desmonetizar o equivalente a R$ 5,42 milhões de perfis que disseminam notícias falsas na internet, segundo levantamento feito pelos coordenadores da plataforma, com base em valores estimados de publicidade e assinaturas em mídias digitais.

A mobilização mirou os portais Jornal da Cidade Online, Conexão Política, Gazeta do Povo, Brasil Sem Medo e StopHateForProfit, além dos canais no YouTube Terça Livre e do ideólogo de direita Olavo de Carvalho. Também foram interrompidos anúncios associados a contas dos blogueiros bolsonaristas Sara Giromini e Bernardo Küster.

31
Mar22

Um retrato exato do que vivemos

Talis Andrade

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Charge: Brum

Por Eric Nepomuceno /Brasil-247

Na noite da quinta-feira 24 de março, na sua transmissão semanal via internet – isso que em português castiço chamamos de “live” – Jair Messias, ao se referir ao seu ministro de Educação, Milton Ribeiro, disse que por ele poria sua cara no fogo. Ou seja, muito mais que a mão: a cara.

A frase insólita foi uma espécie de resposta ao escândalo envolvendo o ministério da Educação, que deveria ser o mais importante de qualquer governo mas que no atual não fez mais que reunir aberrações abjetas numa sequência espantosa.

Primeiro, houve um colombiano que não entendia nada de Brasil, seguido por um fascista que cometia erros de concordância quando falava e ortográficos quando escrevia, um outro que nem mesmo assumiu quando descobriu-se que havia falsificado o currículo e, finalmente, o atual, cuja qualificação para o posto é ser pastor evangélico.

Cumprindo, segundo o próprio Milton Ribeiro, recomendação direta de Jair Messias, aboletou no ministério dois mercadores da fé e da miséria alheias, os autonomeados “pastores evangélicos” Gilmar Santos e Arilton Moura. 

E com isso criou, além de um “gabinete paralelo”, uma fábrica de corrupção deslavada.

Os tais “pastores” contam – ou contavam – com o apoio tanto de Jair Messias como da senhora Michelle, primeira-dama, e de Flávio, o primogênito dos filhotes presidenciais.

Os três entendem, fartamente, de temas diretamente vinculados aos tais “pastores”: bíblia, cheques e dinheiro vivo.

Num país normal e em tempos normais, o escândalo teria sido desatado há muito mais tempo, já que começou há meses.

Além disso, assim que emergisse o escândalo provocaria a imediata demissão de Milton Ribeiro, o expurgo de todos os infiltrados no tal “gabinete paralelo”, a investigação destinada a identificar quais prefeitos caíram na esparrela de atender os pedidos dos “pastores” e também de confirmar a tal recomendação direta – leia-se: ordem – de Jair Messias.

Acontece que neste Brasil de hoje nada é normal. Absolutamente nada.

Se na quinta-feira o pior presidente da história da República deu uma escalafobética porém palpável demonstração de lealdade – “ponho minha cara no fogo” – já no sábado, pressionado por outros autonomeados “pastores”, começou a estudar uma saída para expurgá-lo. Ou seja, queimá-lo num fogo qualquer.

No domingo, avisou o ainda ministro que ele seria defenestrado. A questão era encontrar uma saída minimamente honrosa, se é que se pode falar de honra no atual governo.

Resumindo: o que estamos vendo é um retrato exato do que vive este pobre e destroçado país e, como consequência, vivemos todos.

Primeiro: Jair Messias continua uivando aos quatro ventos que em seu governo não há corrupção.

Bem, não há pouca corrupção, a começar pela sua própria casa.

Também não podemos esquecer que, além do escândalo do “gabinete paralelo” no ministério da Saúde do bizarro e criminoso general (ainda da ativa) do Exército Eduardo Pazuello, empenhado até a goela na produção e venda massiva de medicamentos não apenas inúteis como perigosos para combater a Covid, havia ainda outro, reunindo infiltrados e funcionários nomeados tentando avidamente comprar vacinas a peso de ouro e a troco de, digamos, “benefícios”. 

O então ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles, foi expelido depois de denunciado por conluio na exportação de madeira ilegal – e, atenção, denunciado não pelas investigações feitas no 
Brasil, mas pelas que ocorreram nos Estados Unidos.

Agora, chegou a vez do ministério da Educação. E ainda haverá muito mais a ser descoberto.

Em segundo lugar, o retrato do que vivemos deixou claríssimo que a lealdade de Jair Messias é rigorosamente limitada às suas próprias ambições. Na quinta, assegurou que em defesa de seu ministro poria a cara no fogo. No domingo tratava de ver em qual fogueira enfiaria a cara do protegido.

Na segunda, o próprio Milton Ribeiro resolveu escapar das chamas: pediu para cair fora do ministério antes de ser queimado.

Essa a integridade moral de Jair Messias. Esse o tamanho da sua covardia e da sua infinita ambição.

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